‘Ponto cego’ do Estado deixa mulher em vida precária e vizinhos em pânico

Caso já foi para a imprensa, virou caso de polícia e pode virar questão judicial 

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Caso já foi para a imprensa, virou caso de polícia e pode virar questão judicial 

Um terreno bem localizado na esquina das ruas José Paes de Faria com a Laudelino Barcelos, na Vila Jacy, expõe à sociedade um provável ponto cego do Poder Público. Ali vive há quatro décadas Maria Marlin, hoje com 52 anos. Mora na mesma casa a irmã Ramona, que divide com ela a saudade pela mãe, Dona Dinorá, falecida em 2013, segundo elas por infarto. Depois da perda, o esquecimento da mídia, que deflagrou a precariedade da casa um ano antes, ajuda e exposição que nada mudaram a vida das três. No momento uma realidade triste e perigosa, brigas com a vizinhança e até pedradas por conta de um vazamento que poderia ser facilmente resolvido.

Quem garantiu isso foi a equipe técnica da Aguas Guariroba, que visitou a casa da Dona Maria na tarde da segunda-feira (9), a convite do Midiamax. Os dois homens da concessionária foram também na casa do vizinho, avaliaram o possível vazamento e mesmo sem um crivo oficial constataram que não se tratava de um vazamento do esgoto. 

Pelo desnível da casa ao lado, e a ausência de um muro ou vedação do lado da casa da Dona Maria, poderia estar havendo uma infiltração. Uma obra de vedação do lado em que não há muro seria a princípio suficiente para eliminar o problema. No entanto, a equipe técnica fez questão de afirmar que o papel da concessionária é tratar de assuntos ligados à rede e que a demanda estaria mais ligada à competência da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur).

Dona Maria é contrária a resolver o problema e não deixaria com tranquilidade um pedreiro bancado pela casa ao lado fazer o trabalho de vedação no muro. Em 2010, quando a mãe ainda estava viva ela reclamou aos vizinhos do vazamento, alegou que seria destinação de esgoto, avisou a polícia e fez com que os moradores ao lado quebrassem a parede para diagnosticar o problema. Depois da obra, os vizinhos viram que um encanamento com defeito, que teria sido danificado pela raiz de uma árvore da casa da Dona Dinorá, era o responsável pela água, na ocasião mais torrente. Dona Maria quer processar os vizinhos por conta do suposto vazamento.

Cano trocado em 2011, vedação do lado de lá, e ainda com o desnível para a casa ao lado foi mantido parte da saída de água. Nada de esgoto, mas a recorrência da água vazando criou uma rivalidade entre as casas, que faz pedras voarem, consecutivos boletins de ocorrência policial que não em nada e troca de ofensas. 

O outro lado do muro

Na Rua Laudelino Barcelos, ao lado de onde mora Dona Maria e Ramona, reside a família Fernero. Carlos Fernero, professor de 55 anos, Márcia Fernero, servidora pública, de 52 anos, e o filho mais novo, Álvaro. Os três dizem viver em constante estado de alerta por conta da vizinhança. Eles moram na casa desde 2008 e dois anos depois de terem mudado na residência começaram viver a desavença com as filha da falecida Dona Dinorá.

 Já ajudaram com comida, já tentaram convencer a vizinha a vedar a infiltração fornecendo um pedreiro, mas hoje o diálogo é nulo. Depois de idas e vindas em delegacias e juizados por conta da rivalidade e da ‘água que vaza’ não existe mais conversa: pelo contrário em dias mais quentes pedras voam e acertam o vidro da casa, segundo a família que dá graças a Deus por não acertar ninguém, já que Carlos já foi quase alvejado.

Os Fernero desconheciam a vizinhança quando compraram a casa. Carlos escolheu o imóvel por ficar próximo a uma feira que gostava e o preço acessível. No imóvel depois de anos, viu sua esposa viver a animosidade no limite com a vizinha. Toda vez que a briga vai para a Justiça ou para a delegacia é Márcia Fernero a ser convocada, curiosamente a moradora da casa ao lado a ser mais escolhida pelos elogios de Maria ou Ramona segundo contam. 

Eles reclamam de serem esquecidos pelo Poder Público, pagarem impostos para ter segurança, e terem o patrônio em risco, uma vez que árvores que apresentam cupins no terreno de lá têm trazido problemas para móveis e também à estrutura da casa dos Fernero. Os ‘paulistas do demônio’ como são chamados pela vizinha, gostariam que o Governo intervisse na situação, desse uma condição melhor de vida à dupla que divide o espaço, sem muros e de chão batido com 40 galinhas e um cachorro. A precariedade e a miséria pioraram depois do cancelamento do vale renda do Governo Estadual, em 2014.

Invisível

Com a morte da Dona Dinorá, e a ausência de três saques do benefício, a Assistência Social do Governo do Estado visitou a Rua José Paes de Faria, 311. Lá constatou em relatório, segundo a assessoria, apenas Ramona, que não poderia receber o vale renda por ter uma remuneração de R$ 450,00, acima da média exigida. Maria, que não foi encontrada, não consta para o Poder Público e é justamente ela que não trabalha e apresenta uma dificuldade maior por ficar a maior parte do tempo na casa humilde. 
As duas brigam recorrentemente pela venda do terreno, e nos dias de confronto, sobram para a casa ao lado pedras e gritos. Barulhos que o Estado talvez não ouça, como também não vê a precariedade da esquina da Rua José Paes de Faria com a Laudelino Barcelos. Um verdadeiro ponto cego do Poder Público.

A Semadur foi solicitada a se manifestar sobre o caso, assim como a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS), mas até o fechamento desta reportagem não houve respostas.

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