Liberação do 3G reacende polêmica da imoralidade da internet no Irã
Radicais e moderados no Irã voltam a se enfrentar por conta da internet, desta vez pelo fato do governo de Hassan Rohani autorizar a tecnologia móvel 3G e 4G LTE, que os mais conservadores consideram uma ameaça à moral islâmica. O anúncio da aprovação da terceira e quarta gerações de internet para as duas maiores […]
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Radicais e moderados no Irã voltam a se enfrentar por conta da internet, desta vez pelo fato do governo de Hassan Rohani autorizar a tecnologia móvel 3G e 4G LTE, que os mais conservadores consideram uma ameaça à moral islâmica.
O anúncio da aprovação da terceira e quarta gerações de internet para as duas maiores companhias do país obrigou o ministro de Comunicações e Tecnologia da Informação, Mahmoud Vaezi, a comparecer ao Parlamento para dar explicações aos deputados insatisfeitos.
Além disso, ouviu as severas críticas de um dos mais respeitados aiatolás xiitas, Nasser Makarem Shirazi, que advertiu que a alta velocidade de conexão no celular é “anti-islâmica” e “viola as normas morais e humanas”.
O Executivo não ficou para trás. O próprio presidente do país abordou a polêmica na televisão pública (“IRINN”).
“Hoje em dia, nos conectamos com o mundo da ciência pela internet. Se uma pessoa não tem conhecimento de internet e não o usa não pode se considerar nem professor nem estudante”.
Até agora a velocidade de navegação das grandes operadoras de celular – como as duas autorizadas, Irancell e Hamrah Aval – servia apenas para baixar e-mails com lentidão e ver alguns sites com poucas imagens. Apenas uma pequena companhia, a Rightel, já oferecia o 3G com poucos assinantes, problemas de cobertura e sem serviço fora das grandes cidades.
Com a nova banda larga os iranianos poderão baixar vídeos, transferir dados de voz e usar redes sociais, muitas delas – como Facebook e Twitter – vetadas no país, mas facilmente acessíveis com programas antifiltros (VPN, proxy).
O acesso a novos conteúdos, muitos elaborados fora dos severos padrões de moralidade da República Islâmica, gera temor nos mais conservadores convencidos da necessidade (e a possibilidade) de controlar a sociedade restringindo o acesso a produtos culturais estrangeiros.
Nasser Makarem Shirazi, que tem o título de “fonte de emulação”, o nível mais alto na hierarquia religiosa xiita, explicou em seu site, em resposta às perguntas dos fiéis, que a maior velocidade “permitirá o acesso de jovens e adolescentes a temas, filmes e fotos infectadas e contrárias à moralidade e crenças islâmicas”. O grande aiatolá sentenciou que “os serviços de 3G e similares são contrários à sharia (lei islâmica) e às normas morais e humanas”.
Para ele, o governo não deve levar em conta somente o contexto econômico ou considerar unicamente “a liberdade científica”. É preciso prevenir as “consequências negativas” do livre acesso a conteúdos.
No entanto, o grande aiatolá declarou à agência “Mehr” que tinha sido mal interpretado.
“O uso da tecnologia é imperativo para os muçulmanos que tinham movimentos científicos e revolucionários quando os europeus ainda estavam na Idade Média. Contudo, a tecnologia do Ocidente é como a água suja e revoltosa. É fonte de vida, mas tem que ser purificada antes do povo usar”, garantiu.
A posição de alguns deputados não é muito diferente. Nasrollah Pejman Far, membro da Comissão Cultural do parlamento, advertiu sobre “falta de justificativa cultural” para o aumento da velocidade de navegação e assinalou que a câmara “advertiu ao ministro da Comunicação que, de acordo com a lei, não é possível aumentar a banda larga no país enquanto não for estabelecida a Rede Nacional de Internet do Irã”.
Ele garantiu que Mahmoud Vaezi terá que enfrentar uma moção de censura se continuar com suas intenções. A ameaça não parece superficial se for levado em conta que, recentemente, o ministro da Ciência se viu forçado a deixar o governo após perder a confiança da Câmara em um voto similar.
Muitos iranianos, entre eles grande parte dos jovens, estão no lado oposto.
“A internet que tenho agora é lentíssima e não funciona nunca. É preciso encontrar uma solução. O fato é que eles não podem fechar as nossas portas, a única coisa que conseguem fazer é que nós percamos tempo porque temos que esperar horas para carregar uma página, mas todo o mundo tem internet e antifiltros. Além do mais, quem quer fazer algo ruim não precisa de internet”, declara à Efe Shahar Puya, de 28 anos, que mora e trabalha como vendedor em Teerã.
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