Homem descobre 11 anos depois que não tinha Aids e morre por causa de tratamento errado

Em 1977, João Félix da Silva, um cozinheiro nordestino e homossexual sofreu um acidente no restaurante em que trabalhava, no Rio: o fogão explodiu e ele ficou ferido nos olhos. Começou um tratamento no Hospital Universitário Graffrée e Guinle, na Tijuca, Zona Norte da cidade. Em 1987, fez um exame de sangue na unidade e […]

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Em 1977, João Félix da Silva, um cozinheiro nordestino e homossexual sofreu um acidente no restaurante em que trabalhava, no Rio: o fogão explodiu e ele ficou ferido nos olhos. Começou um tratamento no Hospital Universitário Graffrée e Guinle, na Tijuca, Zona Norte da cidade. Em 1987, fez um exame de sangue na unidade e recebeu a notícia de que era portador do vírus HIV. Por cinco anos, o rapaz se tratou com AZT. Até que em 1998 foi encaminhado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Bonsucesso, na Zona Norte, para fazer exames que o Graffrée e Guinle não tinha condições de realizar. E o resultado que recebeu foi surpreendente: negativo para o HIV.

Com o laudo nas mãos, o cozinheiro decidiu procurar um advogado. Por indicação, foi parar no escritório de Mauro Luiz Araújo. João processou o Grafrée e Guinle que, depois de uma briga judicial, acabou condenado pelo Tribunal Regional Federal a pagar uma indenização de R$ 160 mil – informação publicada na coluna de Ancelmo Gois, do jornal “O Globo”. Mas o cozinheiro não conseguiu comemorar sua vitória na Justiça: ele morreu em 2007, aos 48 anos. Segundo Mauro, o motivo foram doenças oportunistas contraídas em virtude da baixa imunidade causada pelo AZT.

– Quando conheci o João, ele já estava bastante debilitado. Ele tomava a medicação cinco vezes ao dia. Não aguentou. Fomos atrás da família. A indenização será dividida entre os quatro irmãos. A gente lamenta, porque esse dinheiro não é nada – disse o advogado.

De acordo com ele, o caso de João é o mais impressionante de sua carreira:

– Foi uma coisa escabrosa. Quando conheci o João, ele me disse: “Doutor, fiquei 11 anos esperando morrer. Via as pessoas que faziam tratamento comigo morrer e só eu não morria. Não sei se fico triste ou contente agora”.

Mauro contou que, por causa do exame errado, João foi aposentado por invalidez e sofreu preconceito. Ainda segundo o advogado, antes de entrar com a ação na Justiça, o cozinheiro fez outros exames, num laboratório particular.

– Foram quatro resultados dizendo que ele não tinha o HIV. A vida do João foi desperdiçada – lembrou.

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