Como Genebra se tornou palco de negociações históricas
No aeroporto de Genebra, Anne Thea Geiser e seus colegas estão “num momento de expectativas”. Eles estão ocupados com os preparativos para a chamada conferência Genebra II, que nesta semana debaterá como pôr fim aos três anos de guerra civil na Síria. Para isso, limousines foram devidamente polidas, a área VIP foi abastecida. E o […]
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No aeroporto de Genebra, Anne Thea Geiser e seus colegas estão “num momento de expectativas”.
Eles estão ocupados com os preparativos para a chamada conferência Genebra II, que nesta semana debaterá como pôr fim aos três anos de guerra civil na Síria.
Para isso, limousines foram devidamente polidas, a área VIP foi abastecida. E o tapete vermelho? Esse vai ficar guardado.
“O tapete vermelho é um protocolo muito especial para nós”, explica Anne-Thea. “Só é usado para visitas de oficiais Estado, não sai do armário com tanta frequência.”
Cerca de quarenta chanceleres participam de Genebra II, mas eles não são chefes de Estado e têm pela frente difíceis negociações de paz, sem a pompa e cerimônia de uma visita de Estado.
De qualquer forma, Anne-Thea, que cuida do protocolo do aeroporto da cidade há mais de uma década, sabe que a conferência sobre a Síria pode ser muito significativa.
“Nos faz sentir um pouco como se fôssemos parte da história”, diz ela. “Muitas decisões históricas são tomadas em Genebra.”
Tradição pacífica
A cidade suíça de fato tem uma forte tradição quanto o assunto é negociar a paz.
Após os horrores da Primeira Guerra Mundial, Genebra foi escolhida – com pequena margem sobre Bruxelas – como sede da então recém-criada Liga das Nações, órgão cuja missão era impedir a eclosão de um novo conflito.
As expectativas quanto à Liga eram enormes na época, explica David Rodogno, historiador no Instituto Graduado de Genebra. “(Isso) porque muitos líderes internacionais achavam que a 1ª Guerra seria a última. Então 1919 e 1920, os primeiros anos da Liga, eram certamente anos de esperança.”
Mas o órgão não conseguiu impedir a Segunda Guerra. Em vez disso, tornou-se a “casa” da ONU na Europa, e as negociações de paz se tornaram frequentes.
Os motivos são variados: a neutra Suíça é um país-sede aceito por todos; e, numa questão mais prática, o voo para Genebra é fácil tanto de Moscou como de Washington.
Art deco
Hoje, pouco mudou no “Palácio das Nações”, obra em art deco criada para abrigar a Liga das Nações.
Imponentes corredores de mármore levam a salas cuidadosamente desenhadas, cada uma doada por um Estado-membro e decorada com as iniciais L e N nas portas.
É um “lugar maravilhoso para trabalhar”, diz Michael Moller, diretor-geral da ONU em Genebra, sobre seu escritório no salão holandês, que data de 1935 – atmosfera necessária no momento, em meio aos preparativos para a conferência síria.
Uma dor de cabeça é a supervisão do primeiro dia de negociações, que está sendo realizado nesta quarta-feira na localidade próxima de Montreux.
“Declaramos Montreux um subúrbio da ONU (durante o encontro)”, diz Moller. “O motivo é que estará acontecendo uma enorme conferência de relojoeiros suíços em Genebra – algo que obviamente tem preferência na Suíça, por ser nosso ganha-pão.”
Por isso, toda a estrutura de um grandioso evento da ONU foi movida a Montreux, incluindo uma gigantesca operação de segurança que envolve a polícia e o Exército suíços. O espaço aéreo da cidade será fechado, e suas estradas, bloqueadas.
Negociações
Na quinta-feira, o aparato será levado de volta a Genebra, onde representantes do regime sírio e da oposição serão colocados frente à frente pela primeira vez.
Moller espera que os arredores, com sua longa tradição de fomento à paz, sirva de estímulo às negociações.
“Estas paredes respiram história, e você sente isso ao andar pelos corredores”, filosofa. “Não me lembro de nenhuma grande reviravolta no último século que não tenha vindo parar aqui – (os conflitos nos) Balcãs, no Oriente Médio, no Chipre, no sudeste da Ásia.”
Por conta disso, é raro encontrar um diplomata que não tenha se hospedado no Hotel Intercontinental de Genebra em algum momento da carreira.
“(Henry) Kissinger, (Andrei) Gromyko, (Ronald) Reagan, (Mikhail) Gorbachev… e mais recentemente, os diálogos sobre o programa nuclear iraniano”, diz Jurgen Baumhoff, gerente do hotel. “Se essas paredes falassem, teriam muito a dizer.”
No 18º andar do hotel, Baumhoff oferece o que espera ser o ambiente ideal para conversas diplomáticas informais – mas muitas vezes cruciais – fora das salas de negociação oficiais.
“Estas portas são sólidas”, diz ele. “Você pode dar privacidade (aos negociadores) no momento em que quiser.”
Será que o ambiente favorecerá que governo e oposição sírios encontrem um meio-termo? “Nosso lema é: nada é impossível”, agrega Baumhoff.
Assim, por quase um século, Genebra tem sido a cidade escolhida pelo mundo para a diplomacia difícil e – espera Michael Moller – o lugar onde ainda persiste a esperança de pôr fim ao sangrento conflito sírio.
“Todos estamos cruzando os dedos. Se não (houver acordo), não será um bom presságio para nossos pobres amigos na Síria.”
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