Indignação com peito depilado chega ao Conar

Consumidores reclamam de preconceito contra homens peludos em comercial da Gillette com o sul-coreano Psy exibido no Carnaval

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Consumidores reclamam de preconceito contra homens peludos em comercial da Gillette com o sul-coreano Psy exibido no Carnaval

Bastou a Gillette levar ao ar comercial em que celebridades incentivavam a depilação de peitorais masculinos para que consumidores se indignassem. Numa primeira leva, 15 pessoas – 14 homens e uma mulher – acessaram o site do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), deixaram registrados seus dados e protestaram contra a campanha estrelada por Sabrina Sato, as gêmeas Bia e Bianca (que se tornaram famosas como parceiras de competições do nado sincronizado) e o cantor sul-coreano Psy (do hit Gangnam Style). Desde que a imprensa noticiou o caso, as reclamações já chegam perto de 50.

Entre as justificativas, os denunciantes alegaram “preconceito contra os peludos”, consideraram a campanha apelativa e conseguiram depreender que o comercial tacharia homens com pelos no peito de “nojentos”.

Em sua defesa, a Gillette alega que “é uma marca que oferece soluções para remoção de pelos e, por isso, é natural que o tema depilação masculina seja abordado em suas campanhas” e que “tratou o tema de maneira irreverente, focando na preferência das mulheres por homens depilados e em momento algum teve a intenção de desrespeitar qualquer consumidor”.

O conjunto de denúncias, no entanto, foi suficiente para que o Conar abrisse um processo para investigar a questão – será mais um dos cerca de 50 que já foram abertos (por denúncias de consumidores ou anunciantes) desde o início do ano. O prazo para que alguma decisão seja anunciada varia entre 30 e 40 dias.

O comercial, no entanto, já não está mais disponível nos canais da P&G na internet (e a reportagem não encontrou links não-oficiais no YouTube). A empresa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a retirada do ar não é consequência das reclamações – e que ainda nem foi notificada pelo Conar. Alegou que a suspensão já era prevista, em virtude de restrições quanto aos direitos de uso de imagem do cantor sul-coreano Psy, contratado para ser o rosto da marca apenas durante o Carnaval.

Final morno

A sustação espontânea de uma campanha não exime a Gillette de se explicar ao Conar. Isso porque a decisão do órgão, mesmo parecendo fora do prazo, pode ser evocada no futuro caso a empresa queira voltar a exibir o comercial julgado no passado. Nesses casos, a deliberação do Conar serve para dar respaldo ao anunciante (em caso de absolvição) ou para proibí-lo de levar a campanha ao ar (caso tenha sido alvo de sustação).

Fontes ligadas ao Conar ouvidas pela reportagem acreditam que a P&G (dona da marca Gillette) deve ser absolvida, dada a ingenuidade da denúncia. A aposta, no entanto, soa otimista se for levada em consideração uma decisão recente da entidade num caso semelhante.

Em novembro de 2012, a Skol foi condenada a sustar o comercial de varejo exibido por um curto período, às vésperas de um feriado, anunciando promoção para o período de descanso. No início, a peça exibia um dentista tratando um paciente enquanto cuidava, com os pés, da churrasqueira (assista aqui). Foi o suficiente para que 27 cirurgiões dentistas se sentissem ridicularizados – houve até reclamação do Conselho Federal de Odontologia, que identificou tom “denegritório” da categoria.

Vale lembrar, também, da recente polêmica na qual Volkswagen e AlmapBBDO se envolveram. A piada com um gato preto em comercial do modelo Gol gerou uma enorme mobilização de ativistas dos direitos animais, levando o anunciante a retirar o filme do ar.

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