Governo começa nesta quarta a exumação dos restos mortais de João Goulart

O governo iniciará nesta quarta-feira (13), os restos mortais do ex-presidente João Goulart na busca por respostas a um mistério de 37 anos, e tentará estabelecer se foi uma das vítima do chamado Plano Condor, informaram fontes oficiais nesta terça-feira. “Os mistérios que rondam os 37 anos da morte do ex-presidente João Goulart, falecido em […]

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O governo iniciará nesta quarta-feira (13), os restos mortais do ex-presidente João Goulart na busca por respostas a um mistério de 37 anos, e tentará estabelecer se foi uma das vítima do chamado Plano Condor, informaram fontes oficiais nesta terça-feira.

“Os mistérios que rondam os 37 anos da morte do ex-presidente João Goulart, falecido em dezembro de 1976 durante exílio na Argentina, ganhará nos próximos dias um novo capítulo, que poderá ser decisivo para esclarecer as circunstâncias reais que resultaram na morte de Jango”, segundo um comunicado da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

A exumação de Goulart, derrubado pelos militares em 1964, pode determinar se foi envenenado como parte do plano coordenado de eliminação de opositores desenvolvido pelos regimes militares do Cone Sul nos anos 70 e 80, de acordo com a expectativa da Secretaria.

“A iminente exumação dos restos mortais do ex-presidente, que foi sepultado em um jazigo em São Borja (RS), poderá pôr fim à dor e à angústia da família de Jango e de milhares de brasileiros que tem razões suficientes para acreditar que sua morte não ocorreu de forma espontânea”, acrescentou a nota.

Para João Marcelo Goulart, um dos netos de Jango, em declarações a jornalistas, “é um momento histórico não só para a família, mas também para o país e para todas as famílias de mortos, desaparecidos, torturados e exilados da ditadura militar”.

Os restos mortais serão submetidos a uma autópsia em processo judicial impulsionado pelo Ministério Público, a Comissão Nacional da Verdade e a Secretaria de Direitos Humanos.

Apesar de Goulart ter morrido na Argentina, a procuradoria federal abriu em 2007 uma investigação para determinar as causas de sua morte após obter testemunhos de ex-agentes de organismos de inteligência no sentido de que foi assassinado.

Goulart, considerado um líder progressista simpatizante das esquerdas dos anos 60, em plena Guerra Fria, morreu em dezembro de 1976 em um hotel da cidade argentina de Mercedes, onde se encontrava exilado, supostamente vítima de um ataque cardíaco.

Essa tese foi desmentida há cinco anos por um ex-membro do serviço secreto uruguaio, preso no Brasil por tráfico de armas, que assegurou que Goulart foi envenenado por agentes de vários países que atuavam no marco da Operação Condor.

De acordo com a Secretaria, a análise pericial dos restos mortais permitirá que os relatórios técnicos se somem às provas documentais e testemunhais já recolhidas para esclarecer as circunstâncias da morte.

A exumação, que contará com a ajuda de especialistas de Uruguai, Cuba e Argentina será realizada no cemitério de São Borja perante a presença exclusiva de parentes do ex-presidente, policiais, médicos e técnicos legistas e algumas autoridades.

O reitor da Universidade de Ciências Médicas de Havana, Jorge Pérez, que participou dos trabalhos de exumação do líder revolucionário Ernesto Che Guevara, representará os familiares no processo.

Os responsáveis recolherão amostras para exames antropológicos e análises toxicológicas. Estas últimas serão realizadas em laboratórios no exterior.

A Polícia Federal ressaltou que os restos serão conduzidos inicialmente à cidade de Santa Maria, de onde prosseguirão para Brasília, provavelmente na quinta-feira.

A expectativa é que os restos sejam recebidos na capital em cerimônia na qual receberá honras de chefe de Estado por parte da presidente Dilma Rousseff e alguns outros ex-presidentes do país.

A cerimônia tentaria reparar o fato de que Goulart é até agora o único presidente brasileiro sepultado sem honras de chefe de Estado.

“Isso é muito importante para a família. Após 37 anos de sua morte, Jango retorna a Brasília como chefe de Estado, com as honras que sempre lhe negaram”, comentou seu neto.

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