Patrocínio da CBF tem intermediação de pessoas ligadas a Ricardo Teixeira

O patrocínio entre a CBF e a Nestlé tem a intermediação de duas empresas cujos donos têm ligações com o ex-presidente da entidade Ricardo Teixeira. Os pagamentos da multinacional para a confederação, de cerca de R$ 8 milhões anuais, são feitos por meio de uma das duas firmas com sede em uma pequena loja nos […]

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O patrocínio entre a CBF e a Nestlé tem a intermediação de duas empresas cujos donos têm ligações com o ex-presidente da entidade Ricardo Teixeira. Os pagamentos da multinacional para a confederação, de cerca de R$ 8 milhões anuais, são feitos por meio de uma das duas firmas com sede em uma pequena loja nos arredores de Porto Alegre.

O acordo para que a Nestlé patrocinasse a seleção brasileira foi anunciado em 10 de maio de 2010. A empresa tornou-se a 11ª na carteira de apoiadores do time nacional, que hoje já tem 12 deles.

O patrocínio teve participação na negociação de duas empresas: a Sem Parar Comunicações e a DC SET Marketing e Esportes LTDA. A primeira pertence à Bia Aydar, amiga de Ricardo Teixeira e de sua mulher Ana Teixeira. Até participou da elaboração da candidatura do Brasil à Copa-2014.

A segunda empresa é pertencente ao empresário Dody Sirena, empresário de música e do futebol, atividade pela qual já foi investigado pela CPI do Futebol. Ele conhece Teixeira há anos, embora não sejam amigos íntimos. E representa a Nestlé em negociações relacionadas a esporte pelo menos desde 2004

Com uma relação “de amizade há mais de 30 anos”, segundo a descrição do empresário, Aydar e Sirena são sócios em outra empresa – a Sempre Eventos e Marketing. Ambos têm escritórios exatamente no mesmo prédio, na Rua Jerônimo da Veiga, número 384, no Jardim Europa, em São Paulo.

Foi Bia Aydar quem tomou a iniciativa de fechar o negócio entre amigos. “No caso específico, foi a Sem Parar quem trouxe à DC SET e a Nestlé a oportunidade de patrocínio à seleção brasileira”, contou a assessoria da empresa de Sirena.

Aydar confirmou essa versão: “A Sem Parar foi responsável pela apresentação, negociação, gestão do contrato firmado entre a DC SET e a CBF”, explicou a assessoria da publicitária.

Pela versão de ambos, a DC SET não atuaria na intermediação do acordo. Na prática, o contrato é feito entre a própria empresa de Sirena e a CBF.

Quem recebeu comissão foi Aydar, que não quis dizer quanto recebeu pela atuação na negociação. “A Sem Parar recebeu pagamentos pelos serviços prestados, praxe no mercado publicitário”, acrescentou a assessoria de Aydar, quando questionada sobre a remuneração pela intermediação.

A questão é que não foi a Nestlé quem pagou a comissão da publicitária. Até porque a empresa afirmou desconhecer qualquer participação da Sem Parar como intermediária do contrato.

“Em relação a este patrocínio, esclarecemos ainda que a agência Sem Parar Comunicações atuou somente no desenvolvimento da campanha institucional de mídia criada para a companhia na época do anúncio da parceria com a CBF, em 2010”, afirmou a assessoria da Nestlé, quando questionada sobre a intermediação do negócio. A Sem Parar confirmou que também atua como “agência de ativação do patrocínio da Nestlé à seleção.”

Se não foi a multinacional quem pagou comissão à Aydar, resta a CBF, então presidida por Teixeira, na outra ponta do acordo. Mas a confederação não quis comentar o assunto: a assessoria alegou que contratos “são tratados internamente e em assembleias da confederação”.

As empresas de Sirena e Aydar foram criadas meses antes da realização do acordo entre a confederação e Nestlé.

A Sem Parar surgiu em setembro de 2009, com um capital de R$ 10 mil. A intenção, declarada pela publicitária em entrevistas, era atuar em negócios da Copa-2014.

No dia 14 de maio de 2010, cinco dias após o anúncio do contrato Nestlé e CBF, mudou o objeto social da empresa para “agências de publicidade, atividades de intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral”.

Já a DC SET Marketing e Esportes LTDA foi criada em outubro de 2009. Sua sede é longe do rico Jardim Europa. A empresa fica na loja 4 de uma galeria no bairro de Eunice, no município de Cachoeirinha, nos arredores de Porto Alegre. Trata-se de uma pequena porta com recepcionista. Há uma filial no prédio da Jerônimo da Veiga, onde funcionam as outras companhias de Sirena.

A empresa gaúcha tem valor de R$ 400 mil. Mesmo assim, foi responsável por pagar R$ 16,264 milhões para a CBF nos últimos dois anos e por manter um contrato de patrocínio com a confederação.

Sirena diz que conhece Teixeira há anos, mas afirma não ter relação íntima com ele. Aydar, por sua vez, é bem próxima do cartola.

De acordo com o Uol Esportes, ela se aproximou do ex-cartola da CBF ainda antes de o Brasil ser escolhido como sede da Copa-2014, por meio de amigos em comum. Tornou-se bem próxima da mulher do então dirigente, Ana Teixeira. Oferecia a ela aparições em colunas sociais.

Por meio da mulher, conseguiu se aproximar da confederação. Tanto que, como presidente da agência MPM, atuou na elaboração do dossiê do Brasil para sediar a Copa-2014. Foram constantes as aparições do cartola ao lado da publicitária em festas.

Questionada sobre a amizade, a assessoria de Aydar, no entanto, afirmou que “mantém relacionamento institucional com a CBF, exclusivamente no âmbito de suas atribuições”.

Há ainda indícios de envolvimento de outro membro da família de Teixeira com as empresa que intermediaram o negócio da Nestlé, embora todas as partes neguem o fato.v Um perfil no linkedin, rede social de relacionamentos de negócios, mostrava Roberto Teixeira Havelange, nome do filho de Ricardo, como funcionário da DC SET desde 2011. Questionado, por telefone, ele se irritou e negou trabalhar para a empresa, mas confirmou a existência de um perfil.

“Não trabalho na DC SET. Nunca trabalhei. Não tenho a mínima ideia do que você está falando. Não sei do que se trata”, afirmou Roberto Teixeira. “Não mexo no linkedin há pelo menos dois anos, não sei disso.”

Duas horas depois deste diálogo, o perfil de Roberto Teixeira Havelange sumiu do linkedin. Há agora um perfil escrito Roberto Teixeira, empresa Du Ca Set.

Uma fonte que conhece a família Teixeira informou também que o filho do ex-dirigente trabalhava em empresa ligada à Bia Aydar. Mas isso também negado por todas as partes.

“Absolutamente, mas não vou me estender porque não tem nada a ver. Não trabalho para nenhuma empresa ligada a futebol, à CBF. Estou estranhando as suas perguntas. A minha primeira pergunta foi quem te deu o meu telefone e você não me respondeu”, disse Roberto Havelange.

A assessoria da DC SET informou que ele “não exerce nem nunca exerceu função profissional na DC SET. Tampouco recebeu qualquer recursos da DC SET”. Mesma versão foi dada pela Sem Parar: “Roberto Teixeira Havelange nunca trabalhou em nenhuma empresa ligada ao grupo Sem Parar e jamais foi beneficiário, direto ou indireto, de qualquer pagamento, sob qualquer pretexto.”

Não é a primeira vez que um contrato de patrocínio da CBF tem intermediação de empresas de pessoas ligadas ao ex-presidente da confederação. A Traffic, cujo dono é J. Hawilla então amigo do cartola, intermediava contratos da entidade na década de 90.

Depois disso, Renato Tiraboschi, também ligado ao dirigente, recebeu pela negociação do contrato entre a entidade e a Ambev. Recentemente, a “Folha de S. Paulo” revelou que o patrocínio da TAM era pago em parte a empresas de Wagner Abrahão, também amigo do ex-presidente da confederação.

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