Lugo diz que quem o tirou do poder será responsável pela volta da ditadura

O presidente destituído do Paraguai, Fernando Lugo, disse na madrugada deste domingo (24), durante manifestação transmitida ao vivo pela televisão local, que aqueles que o tiraram do poder “serão os responsáveis pela miséria” e “pela volta da ditadura”. “Temos aceitado o veredito injusto daquele Parlamento, em favor da paz e pela não violência. Tínhamos informação […]

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O presidente destituído do Paraguai, Fernando Lugo, disse na madrugada deste domingo (24), durante manifestação transmitida ao vivo pela televisão local, que aqueles que o tiraram do poder “serão os responsáveis pela miséria” e “pela volta da ditadura”.

“Temos aceitado o veredito injusto daquele Parlamento, em favor da paz e pela não violência. Tínhamos informação de que queriam repetir o março paraguaio (em março de 1999, o assassinato do vice-presidente Luis Maria Argaña desatou protestos em todo o país, dirigidos contra o então governo do presidente Raúl Cubas, político ligado ao general Lino Oviedo – Cubas acabou renunciando antes de sofrer um impeachment). Este povo é um povo pacífico e pacificamente vencemos o 20 de abril (data das eleições). O processo democrático continuará com mais força”, disse.

Durante seu discurso de poucos minutos, em frente a algumas centenas de manifestantes, Lugo lembro que países como o Brasil e Argentina chamaram seus embaixadores para consultas, após o processo que o destituiu do poder na sexta-feira. “A comunidade internacional, do Brasil, do Uruguai, da Argentina, estão retirando os seus embaixadores do Paraguai”.

“Eles (os que o tiraram do poder) serão os culpados pela miséria, do retorno de uma ditadura que o povo não quer (…). ‘Ditadura nunca mais’, gritávamos quando jovens, e pensávamos nunca mais precisar repetir essas palavras, mas hoje a ditadura não é só militar, é parlamentar”, disse o presidente destituído, enquanto os manifestantes gritavam palavras de ordem contrárias a Frederico Franco.

Processo relâmpago destitui Lugo da presidência

No dia 15 de junho, um confronto entre policiais e sem-terra em uma área rural de Cuaraguaty, ligada a opositores, terminou com 17 mortes. O episódio desencadeou uma crise no Paraguai, na qual o presidente Fernando Lugo, acusado pelo ocorrido, foi sendo isolado no xadrez político. Seis dias depois, a Câmara dos Deputados aprovou de modo quase unânime (73 votos a 1) o pedido de impeachment do presidente. No dia 22, pouco mais de 24 horas depois, o Senado julgou o processo e, por 39 votos a 4, destituiu o presidente.

A rapidez do processo, a falta de concretude das acusações e a quase inexistente chance de defesa do acusado provocaram uma onda de críticas entre as lideranças latino-americanas. Lugo, por sua vez, não esboçou resistência e se despediu do poder com um discurso emotivo. Em poucos instantes, Federico Franco, seu vice, foi ovacionado e empossado. Ele discursou a um Congresso lotado, pedindo união ao povo paraguaio – enquanto nas ruas manifestantes entravam em confronto com a polícia -, e compreensão aos vizinhos latinos, que questionam a legitimidade do ocorrido em Assunção.

 

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