Isenção de visto para brasileiros nos EUA está mais próxima

O executivo Mário Ferradosa, que vive em Miami, já deixou de comprar dois apartamentos só nos últimos três meses porque outros clientes apareceram de última hora e pagaram em dinheiro vivo pelo imóvel que ele queria. Um era russo, outro, brasileiro. “Muita gente (do Brasil) está comprando para investir aqui em Miami, porque quando você […]

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O executivo Mário Ferradosa, que vive em Miami, já deixou de comprar dois apartamentos só nos últimos três meses porque outros clientes apareceram de última hora e pagaram em dinheiro vivo pelo imóvel que ele queria. Um era russo, outro, brasileiro.

“Muita gente (do Brasil) está comprando para investir aqui em Miami, porque quando você compara com os preços do Brasil, é vantajoso”, resume Ferradosa, 50 anos. “A disponibilidade financeira dos brasileiros hoje é maior, e eles estão investindo aqui.”

Enquanto Mário ainda procura o local perfeito para onde se mudar, João Oliveira, 48 anos, está comemorando a recém-assinatura do contrato de compra de um imóvel na orla da cidade. “A minha principal motivação é a segurança. No Brasil, há esse receio. Aqui é um local seguro para viajar e trazer a família”, explica o investidor imobiliário, que desembolsou cerca de US$ 600 mil e está feliz, porque “gastaria no Brasil uns 30-40% a mais. Tem a relação custo/benefício entre ter um imóvel aqui e no Brasil: essa queda no preço dos imóveis aqui, junto com a queda do dólar, tornou os preços atrativos para nós. É um momento em que os Estados Unidos estão baratos e o Brasil está caro.”

Os brasileiros despejaram entre US$ 1 bilhão e US$ 1,1 bilhão de dólares no mercado imobiliário da Flórida no ano passado, segundo as estimativas da entidade de mercado National Association of Realtors (NAR). Nos 12 meses até agosto, os compradores brasileiros respondiam por 8% das vendas de imóveis para estrangeiros não-residentes, atrás apenas dos canadenses, em um mercado estimado em US$ 12,7 bilhões. Junto com venezuelanos que querem tirar seu dinheiro do país, os brasileiros revitalizaram o centro de Miami, onde o excesso de construções e a crise derrubaram o nível de ocupação para 50%. A entrada de sul-americanos atrás das pechinchas elevou a ocupação – hoje em 93% – e reajustou os preços.

Status de poder

As estatísticas fizeram do brasileiro um dos consumidores mais desejados de Miami, e ecoarão na visita que a presidente Dilma Rousseff faz aos EUA nestas segunda e terça-feira. Assessores diretos de Obama acreditam que a questão do visto para brasileiros fará parte das conversas que a presidente brasileira terá com o seu colega americano, Barack Obama, em Washington. Ambos terão um encontro de trabalho que se estenderá até depois do almoço.

Nem diplomatas brasileiros nem porta-vozes do governo americano acreditam que a isenção do visto para cidadãos do Brasil seja anunciada nesta viagem – mas pelo clima em Washington, ela está cada vez mais perto. 

Ecoando os pedidos de longa data de entidades de turismo e imóveis na Flórida, um grupo de entidades comerciais brasileiras e americanas enviou à presidente Dilma Rousseff e ao presidente Obama uma carta com essa reivindicação. “De grande importância para ambas as nossas nações é a emissão de vistos para negócios e outras visitas, e pedimos a facilitação de progresso nessa frente”, afirma a carta da Câmara Americana de Comércio, a Confederação Nacional da Indústria, a Cargill e a Embraer. “Defendemos a inclusão do Brasil no Programa de Isenção de Vistos e recomendamos ações tanto do Departamento de Estado e do Congresso americano para perseguir este objetivo”, acrescenta o documento. 

Atualmente, cidadãos de 36 países são isentos da necessidade de pedir visto para entrar nos EUA, ainda que tenham de receber uma autorização por via eletrônica e enviar informações sobre sua viagem antes de embarcar. Entre os critérios para tal concessão, estão o percentual de vistos negados (é necessário ser baixo), a existência de medidas de segurança e compartilhamento de informações entre os dois países, e um registro satisfatório contra a imigração ilegal. Analistas creem que o Brasil já preenche ou está perto de preencher todos esses critérios. Mas há sugestões de que mesmo o governo federal tenha dúvidas quanto ao lado positivo da isenção do visto. A recente disputa diplomática entre Brasil e Espanha por causa da rejeição arbitrária de brasileiros na imigração espanhola mostra que o fim do visto não significa o fim das dores de cabeça.

Batendo recorde

Os prognósticos de aumento nas transações entre Brasil e EUA à medida que se facilite o movimento de turistas e viajantes de negócios são animadores. “Estou certo de que podemos dobrar as vendas de apartamentos (para brasileiros) em Miami”, disse um corretor de imóveis filiado à NAR. “Muitos deles querem comprar imóveis, têm dinheiro, mas ainda temem o financiamento internacional.”

Em 2010, os turistas brasileiros nos EUA somaram 1,2 milhão, com um gasto total de US$ 5,9 bilhões – quase US$ 5 mil por pessoa. Com as medidas de aceleração dos vistos anunciadas em janeiro pelo presidente Obama, os turistas brasileiros já estão se preparando para bater esses números. Em março, a Embaixada americana disse ter concedido visto a 115 mil brasileiros, 62% a mais que no mesmo período do ano passado. Nos três primeiros meses do ano, foram quase 300 mil vistos concedidos. “O fim do visto faria muita diferença, porque o trabalho que dá para tirar é uma coisa que incomoda”, atesta João Oliveira. 

Mercado Quem busca o mercado imobiliário da Flórida como alternativa de investimento conta com a orientação de vários corretores de imóveis em Miami que entendem do mercado no Brasil e nos EUA e podem traduzir a legislação e facilitar o caminho da compra. 

“O pessoal fala que é longe, mas hoje, com a internet, a distânica fica reduzida. A gente inicia o processo aqui, faz as visitas, escolhe o imóvel e depois pode voltar para o Brasil que fica tudo resolvido.”

Para Mário Ferradosa, que continua buscando seu apartamento, apesar do aumento da demanda, Miami continua com preços mais baixos que antes da crise, e é ainda um bom lugar para se investir. Ele afirma que, no seu edifício, a maioria dos imóveis ainda está sendo vendida a preço baixo, porque muitos foram tomados de proprietários inadimplentes durante a crise. “O momento é bom para investir ou comprar a casa própria”, opina. “Talvez seja um dos melhores momentos para quem tem disponibilidade para morar aqui, ou ter a sua casa própria aqui.”

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