Apesar de juros baixos em captações externas, Tesouro não pretende ampliar fatia do câmbio na dívida pública

Apesar de obter baixas taxas de juros no lançamento de títulos da dívida externa, com custos menores em relação à dívida interna, o Tesouro Nacional não pretende ampliar a participação do câmbio na dívida pública. Segundo o coordenador-geral de Planejamento Estratégico da Dívida Pública, Otávio Ladeira, o volume de operações atreladas ao câmbio não pode […]

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Apesar de obter baixas taxas de juros no lançamento de títulos da dívida externa, com custos menores em relação à dívida interna, o Tesouro Nacional não pretende ampliar a participação do câmbio na dívida pública. Segundo o coordenador-geral de Planejamento Estratégico da Dívida Pública, Otávio Ladeira, o volume de operações atreladas ao câmbio não pode ser expressivo porque a correção pelo dólar representa um risco para a administração do passivo do Tesouro.

“De fato, os custos da dívida externa estão baixos, mas deixarão de ser menores se houver uma venda maciça de dólares e a cotação [da moeda norte-americana] disparar”, explicou Ladeira. Segundo ele, a indexação excessiva da dívida pública ao câmbio aumenta a vulnerabilidade do país a crises internacionais. “Por isso, reduzimos significativamente a participação do dólar na dívida pública, que estava entre 50% e 60% no fim da década de 1990”.

Atualmente, 4% da Dívida Pública Federal (DPF) são corrigidos pelo dólar, o equivalente à soma da dívida externa e dos títulos da dívida interna atrelados ao câmbio. Ladeira, no entanto, admitiu que o percentual atual está abaixo da meta de longo prazo de 5% a 10% estabelecida no Plano Anual de Financiamento (PAF). É o PAF que determina os parâmetros para a administração da dívida pública.

Apesar de a participação do câmbio estar abaixo da meta, o coordenador de Operações da Dívida Pública, José Franco de Morais, descartou a possibilidade de o governo mudar a estratégia neste ano. Segundo ele, o Tesouro continuará a fazer pequenas emissões no exterior, como a realizada na semana passada, e a recomprar parte da dívida externa até 1,5 mil dias antes do vencimento.

Os dois coordenadores também comentaram a captação de US$ 825 milhões no exterior nos últimos dias 3 e 4, quando o Tesouro obteve juros de 3,499% ao ano, a menor taxa da história. Segundo Ladeira, o governo não pretende usar essas emissões para se financiar com dinheiro dos investidores internacionais, mas obter taxas menores que reduzem os juros da dívida externa e servem de referência para as empresas que pegam dinheiro emprestado no estrangeiro.

Nos dias seguintes à operação do Tesouro, a mineradora Vale captou US$ 1 bilhão no exterior e o banco Bradesco obteve US$ 750 milhões em emissões internacionais. “Os juros conseguidos por essas empresas ficaram em níveis parecidos com a taxa registrada pelo Tesouro, que foi a menor da história”, destacou Morais.

Apesar de pretender retomar as emissões em reais neste ano, os técnicos do Tesouro descartaram a possibilidade de o governo brasileiro emitir títulos em outras moedas além do dólar e do real, como o euro e o yuan – moeda da China. “O mercado em dólar atende à maioria dos compradores internacionais, que trocam a moeda norte-americana por dinheiro de seus países. Então, não vemos necessidade de fazer lançamentos em outras moedas”, explicou Morais.

Ladeira apresentou um gráfico com a queda dos juros das captações internacionais. Um título da dívida externa de dez anos, que pagava 14,6% ao ano em 1999 e 12,6% ao ano em 2002, agora paga menos de 4%. “Essa queda é reflexo dos fundamentos econômicos dos últimos anos. A dívida pública está em queda, as reservas internacionais bateram recorde, a inflação está sob controle, e o crescimento permanece estável, robusto e constante. Isso influenciou a melhora da nota do Brasil pelas agências de classificação de risco”, ressaltou.

 

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