Especial: Sul-mato-grossenses ainda brigam porque querem ser reconhecidos

Problema vai além e muitos afirmam que falta identidade para o estado

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Problema vai além e muitos afirmam que falta identidade para o estado

As constantes confusões de troca de nome dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul geram polêmica há anos. Confusões na mídia nacional são comuns. A rede Globo, por exemplo, por inúmeras vezes chamou MS de MT, o que provoca o descontentamento inclusive de parlamentares no estado. 

Em junho deste ano, o deputado Paulo Duarte enviou um ofício à emissora afirmando que ao fazer essas “confusões” o grupo desinforma os espectadores sobre a geografia e a divisão política do Brasil.

Alguns vão mais além, e dizem que o problema está na falta de identidade do estado. Outros já acreditam que o estado tem sim identidade, mas que é preciso cultivar isso.

 

Para Natacha Leal, doutoranda em antropologia social, falar de uma identidade é bastante complicado. Ela diz que as pessoas estão buscando essa identidade e que o debate sobre isso é antigo.

Segundo Leal, o problema acontece com vários estados. “Não é um drama local. Isso acontece na Paraíba, no Rio Grande do Norte. É muito comum. E aqui, em particular, ocorre por Mato Grosso do Sul ser ainda um estado muito novo”, aponta.

Álvaro Banducci, professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), pós doutorando em antropologia social, acredita que há um exagero nisso tudo. “Se não somos MS, o que somos? É uma paranóia essa busca da identidade e da tradição. Há 30 anos se discute isso e continua discutindo”, critica.

Apesar da crítica, Banducci salienta que essa discussão conduziu para alguns indicadores. Ele diz que nossa cultura é muito ampla e rica e que é isso que se deve discutir. 

“A fronteira com o Paraguai é muita mais ampla do que a fronteira geopolítica. O estado é tomado por essa influencia paraguaia. É isso que é preciso falar”, aponta.

Segundo ele, as pessoas ficam nesse afã de se buscar uma identidade e esquecem que ela existe. “Temos uma identidade, é o pantaneiro, que é um pouco gaúcho, que é um pouco paulista. Somos essa mistura. Essa é nossa identidade”.

“Somos várias culturas, vários povos, a identidade é dinâmica, assim como a cultura é dinâmica. A identidade é plural, é fruto de um contexto, de um meio”, diz.

Banducci afirma que é preciso debater a heterogeneidade e não a homogeneidade. Segundo ele, esse discurso por uma identidade acaba mascarando o preconceito do sul-mato-grossense com sua identidade – a do fronteiriço. “Temos uma identidade, mas ela é contraditória, conflituosa, 

preconceituosa”.

Ele ainda aponta que, ao mesmo tempo em que há um preconceito muito grande com o Paraguai, coisas de lá foram incorporadas a nossa cultura e viraram ícones. “O tereré foi criado como um ícone. As pessoas andam para lá e para cá com o tereré debaixo do braço”. 

“Identidade é isso. Compartilhar valores, conflitos, diversidades. É ai que está a riqueza da nossa identidade”, finaliza.

MS x MT

No último dia 4, foi aprovada por unanimidade, em primeira discussão, na Assembleia Legislativa, Emenda Substitutiva à PEC 005/2011 (Projeto de Emenda Constitucional), que prevê “o exercício da soberania popular em Mato Grosso do Sul por meio de plebiscito, referendo e iniciativa popular”. 

A medida chama a atenção por dar oportunidade ao debate sobre a mudança de nome do estado. “Com o plebiscito cada indivíduo poderá escolher de forma democrática se o nosso do Estado continua ou não com este nome”, defende o deputado Antonio Carlos Arroyo (PR), autor da emenda.

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