Enem proíbe mulher da etnia Kaiowá de fazer prova por não aceitar identidade indígena
Indígena conta que se sentiu constrangida perante aos outros candidatos, já que o documento é oficial e expedido pela Funai (Fundação Nacional do Índio).
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Indígena conta que se sentiu constrangida perante aos outros candidatos, já que o documento é oficial e expedido pela Funai (Fundação Nacional do Índio).
A expectativa para realizar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2012, após atravessar a cidade em uma caminhada de três horas e meia, acabou em frustração para a indígena Lúcia Duarte, 40 anos.
Ao chegar à sala, em uma escola do Jardim Noroeste, em Campo Grande, ela apresentou a certidão indígena, mas foi ‘barrada’ com a desculpa de que o documento oficial não era aceito.
”Me senti humilhada e descriminada perante aos outros candidatos. A fiscal olhou meu documento e disse que iria passar o meu caso a coordenadora, porque aquilo não era aceito. Respondi então que era uma identidade expedida pela Funai (Fundação Nacional do Índio), já que eu era indígena, mas ela disse que o documento não constava no edital de inscrição”, afirma a indígena ao Midiamax.
Assim que a coordenadora chegou à sala, o constrangimento foi maior ainda, segundo a indígena, principalmente porque elas fizeram comentários de cunho racial. “A mulher disse para a outra: Nossa, pensei que este tipo de problema só acontecia em Aquidauana e Miranda, mas não em Campo Grande”, lamenta a indígena.
Desiludida com o fato, a indígena da etnia Kaiowá conta que até pensou em chamar a polícia na ocasião, mas estava tão triste com o fato que nem teve atitude para nada. “O sonho da minha vida é cursar uma universidade. E quando é dito que a educação é para todos, tem que ser mesmo, independente da cor, raça e condição social. Eu me preparei tanto, lendo livros e estudando em apostilas doadas…”, fala entristecida.
Aldeias Urbanas
O relevante neste caso é não só a desinformação dos fiscais, mas também a falta de conhecimento sobre a população indígena em Campo Grande. Bem próximo ao local de prova da D. Lúcia, existe a aldeia urbana Darci Ribeiro, uma das quatro que abrigam ao menos 14 mil pessoas de diferentes etnias, fora as comunidades existentes.
Além disso, no ano passado, a indígena realizou o Enem em Campo Grande, no mesmo local, sendo que o seu documento foi aceito. Orgulhosa, ela mostra o resultado a pontuação de 760 obtida na redação de 2011, nota muito maior do que a média nacional.
”Não tive problema nenhum no ano passado. Entrei, fiz a prova, mas o meu problema foi outro. É que esqueci da data de inscrição do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e por isso não ingressei no curso de Letras, mas não vou desistir até conseguir”, garante a indígena.
Nova data
No outro dia, mais calma porém não conformada com o que tinha acontecido, a indígena procurou o Secretário Estadual das Causas Indígenas – PSL, Arildo Soares, para cobrar uma solução. “Nós procuramos a OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Assembléia Legislativa. As pessoas todas foram solidárias com o nosso caso e agora pretendo fazer a prova na 2ª data, juntamente com a jovem que teve o bebê durante a prova”, diz a indígena Lúcia.
Nesta quinta-feira (8), a indígena Lúcia pretende ainda registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil. “Meu documento de n° 8.173, foi expedido na cidade de Amambaí, na aldeia Limão Verde. Já tinha até feito o vestibular na Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), ocasião em que me classifiquei em 2° lugar, então não quero que isso aconteça com outros indígenas”, conclui D. Lúcia.
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