‘A noção de civilização no trânsito está dispersa’, avalia psicanalista sobre agressividade de delegado-geral em MS
Especialista avalia que Detran precisa reforçar exames de natureza psicológica dos condutores
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Uso de aparelhos celulares em demasia, efeito pandemia e até o imaginário de que um automóvel é um escudo protetor capaz de resolver problemas podem ser as causas da falta de paciência, que acaba resultando na explosão da violência no trânsito. É desta forma que o psicólogo e psicanalista Lucas Maciel vem se deparando com a escalada da violência no trânsito em Campo Grande.
Essas cenas de brutalidade voltaram a ser evidenciadas há dois dias, principalmente depois que o Delegado-Geral do Estado, Adriano Garcia Geraldo, perseguiu, constrangeu e até atirou em uma jovem de 24 anos após discussão no trânsito, quando ele estava em veículo policial “à paisana”. O excesso de agressividade do delegado, que poderia ter sito transformado em um homicídio — já que ele atirou em quem o irritou no trânsito —, culminou com a volta do assunto à pauta da sociedade, com destaque para profissionais da psicologia e psicanálise.
O assunto, outrora adormecido, agora retorna com força com o princípio do fim da pandemia, que, na avaliação de Lucas Maciel, mostra que o liminar de suportar o que não se quer ver no trânsito pode ser um ato de finalização de amostragem de violência. “As pessoas estão impacientes e agindo de forma impulsiva. A noção de civilização, principalmente no trânsito, está dispersa. O carro pode ser um escudo protetor e um compartimento para guardar armas de fogo, para que possam ser utilizadas em casos de supostas ameaças”, explica Lucas Maciel.
Momento em que delegado aborda mulher sozinha no carro após atirar em pneus de veículo por discussão de trânsito em Campo Grande
Para o psicólogo e psicanalista, não há a menor dúvida de que o automóvel — quanto maior for — gera uma sensação de empoderamento. “É uma máquina feita para a locomoção, mas que pode ser utilizada para a defesa ou ataque, dependendo da situação em que o condutor do veículo esteja. Está na hora de órgãos como o Detran — Departamento Estadual de Trânsito — começarem a reforçar os exames de natureza psicológica dos condutores de veículos. Às vezes, a pessoa está tomando determinada medicação e, em outros momentos, pode estar sob efeito de entorpecentes”, acrescenta Maciel.
De acordo com o psicólogo, as pessoas estão vivendo um exagero desnecessário ao ponto de desrespeitarem regras básicas, como as que existem no trânsito. Ansiedades e frustrações vêm sendo despejadas nas ruas das grandes cidades por meio dos problemas existentes no trânsito, que podem ser de congestionamento natural pelo excesso de veículos, como também pela falta de educação em respeitar regras básicas que servem para a própria segurança dos cidadãos. “Infelizmente, no trânsito a explosão da violência é latente nos dias de hoje”, comenta Lucas Maciel.
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