Ritual ecumênico lembra indígenas mortos e denuncia violência nas aldeias de MS
Ato em praça de Dourados com pastores, padres e liderança indígenas marcou encerramento de visitas às comunidades Guarani e Kaiowá
Marcos Morandi –
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Uma celebração e caráter ecumênico realizada nesta sexta sexta-feira (22), marcou o encerramento da caravana que fez um mapeamento da situação de violência enfrentada pelos Guarani e Kaiowá de Dourados e região. Durante o ato, os indígenas lembraram lideranças e familiares mortos durante confrontos pela posse da terra.
“Nossa visita às comunidades e também este ato aqui na praça de Dourados foi motivado pelo clamor do sangue indígena derramado em Mato Grosso do Sul que mais uma vez corre no território de Mato Grosso do Sul”, explicou a pastora da Igreja Presbiteriana Unida, Sônia Mota, à reportagem do Midiamax. Ela também lembrou últimos acontecimentos, como o confronto na aldeia Guapoy, em Amambai.
Segundo informações da representante do CNDH (Conselho Nacional de Direitos Humanos) e da AMNDH (Articulação Nacional de Monitoramento dos Direitos Humanos), Mônica Alkmin, a situação é delicada e complexa. “Estamos diante de uma realidade de extrema violação de diretos considerados básicos desses povos originários e que não estão sendo respeitados. Há denúncias, que inclusive estamos apurando, de abuso sexual contra mulheres”, disse Mônica.
No entendimento da líder indígena Valdelice Veron, que também é porta-voz da Kuñangue Aty Guasu (Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani), esse momento de celebração com a presença de diversas denominações religiosas e entidades de defesa dos direitos humanos, serve para fortalecer a luta pela terra. “É um direito nosso que não está sendo levado em conta”, afirma Valdelice.
Para a professora da Faind (Faculdade Intercultural Indígena) da Universidade Federal da Grande Dourados, Sandra Procópio, a caravana tem grande importância porque reúne representantes de diversas igrejas. “São pessoas que conseguem dialogar com toda a sociedade, diante da sua condição ecumênica e isso dá voz às comunidades indígenas que na maioria das vezes são cerceadas”, explica a Professora.
Além dos representantes de diversas denominações religiosas, o ato realizado na Praça Antônio João reuniu professores de escolas municipais e estaduais e estudantes. “Estamos aqui para mostra força e também a nossa solidariedade às comunidades das quais fazemos parte e também prestar nossas homenagens a todos aqueles que perderam a vida”, comentou uma acadêmica da UFGD.
Caravana ecumênica
A Caravana Ecumênica em solidariedade aos povos é promovida pelo Feact (Fórum Ecumênico ACT Brasil) e está prevista a entrega de alimentos para as famílias das áreas de conflitos na região sul de MS (Amambai/Dourados), onde grupos indígenas estão em situação de insegurança alimentar.
Segundo informações apuradas pelo Midiamax, o Feact uma rede de igrejas, organizações ecumênicas e agências de cooperação que se reúnem em torno de questões comuns relacionadas à incidência, ao desenvolvimento e à ajuda humanitária no Brasil.
Lideranças que participam da Caravana:
• Pastor Inácio Lemke, presidente do CONIC ( Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – Santa Catarina
• Pastor Wertson Brasil de Souza, presidente da AIPRAL (Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina) – Minas Gerais
• Bispa Marinez Bassoto, da IEAB (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil) – Pará
• Pastor Cristov Kayser, do COMIN (Conselho de Missão entre Povos Indígenas) – Santa Catarina
• Pastora Sônia Mota, da IPU (Igreja Presbiteriana Unida do Brasil) e diretora executiva da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço) – Bahia
• Mônica Alkmin, integrante do CNDH ( Conselho Nacional de Direitos Humanos) e Articulação Nacional de Monitoramento dos Direitos Humanos – Distrito Federal
• Missionária Adriana Carla, da ABB (Aliança de Batistas do Brasil) – Distrito Federal
• Pastor José Roberto Cavalcante, da IPU (Igreja Presbiteriana Unida do Brasil) – Rio de Janeiro
Violência contra indígenas
Para chamar a atenção nacional e internacional para as recentes violações dos direitos desses povos, o grupo inter-religioso decidiu se deslocar até a região para denunciar os assassinatos de indígenas.
Alex Lopes, um jovem de 18 anos, foi assassinado e teve seu corpo despejado do outro lado da fronteira com o Paraguai, a cerca de 10km da reserva Taquaperi, em Coronel Sapucaia, após sair para buscar lenha no entorno da TI (Terra Indígena), acompanhado de outros dois jovens.
Taquaperi é uma das oito reservas indígenas criadas pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio) no sul do Estado. Apesar do projeto original ter criado reservas com 3,6 mil hectares, as terras possuem, hoje, apenas 1.777 hectares, segundo a base cartográfica da Funai (Fundação Nacional do Índio).
Por conta da histórica apropriação de partes da área reservada por fazendeiros, os Guarani e Kaiowá da reserva frequentam áreas de mata das propriedades vizinhas, reivindicadas pelos indígenas como parte de seu território tradicional. Em protesto contra o assassinato de Alex, o povo retomou uma fazenda em Coronel Sapucaia.
Cenas de violência também aconteceram em Amambai, após outro grupo de indígenas retomar novamente parte do território de Guapo’y. A reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com quase 10 mil indígenas.
Um dia após a retomada, policiais militares e fazendeiros tentaram expulsar os indígenas da região. A ação resultou na morte de Vitor Fernandes.
Terceira morte
Além destes ocorridos, mais um indígena Kaiowá foi assassinado na última quinta-feira (14). Márcio Moreira e outras duas lideranças da retomada em Amambai foram vítimas de uma possível emboscada, de acordo com denúncias da própria comunidade Guapo’y e do Conselho da AtyGuasu – a Grande Assembleia dos povos Guarani e Kaiowá. Márcio foi assassinado, mas os outros dois conseguiram escapar com vida.
Esse episódio acontece mesmo após a Justiça Federal de Ponta Porã indeferir um pedido para despejar os Guarani e Kaiowá da retomada de Guapo’y. A solicitação (medida de urgência) foi feita pelo proprietário da fazenda que ocupa, atualmente, a região – ou parte do território indígena, considerado sagrado pelos indígenas.
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