Desde o último sábado (21), o clima continua tenso entre indígenas da etnia Guarani Kaiowá e fazendeiros da região de , cidade distante 396 quilômetros de e que faz fronteira com Capitán Bado, do lado paraguaio. O pavio de um iminente conflito foi aceso após o assassinato do jovem Alex Recartes Vasques Lopes, de 18 anos, que recebeu cinco enquanto buscava lenha em um córrego.

De acordo com lideranças indígenas da região, Alex estava com a esposa da Reserva Taquaperi, onde moram. Enquanto ela tomava banho no córrego, ele foi buscar lenha. Da água, ela teria ouvido os tiros. Com medo, voltou correndo para a comunidade para pedir ajuda. O assassinato teria acontecido no Brasil, mas o corpo foi arrastado para o outro lado da fronteira, que fica a cerca de 10 km da Reserva, na cidade de Capitán Bado.

Em represália ao assassinato do jovem Guarani Kaiowá e também para pedir justiça, os moradores da Taquaperi, que fica em e onde vivem mais de três mil famílias, decidiram retomar uma fazenda que, segundo eles, historicamente pertence à reserva.

“A comunidade está muito sentida e revoltada porque foi o assassinato de um jovem que tinha ido buscar lenha com a namorada no córrego que fica nas proximidades da reserva”, relata o coordenador do Cimi (Conselho Missionário Indigenista em Mato Grosso Sul), Matias Benno Rempel.

Ainda segundo informações do coordenador do Cimi à reportagem do Midiamax, a retomada a essa propriedade ocorre para existir justiça pelo Alex. “As mortes e assassinatos nesta região são corriqueiros. Para se ter uma noção do que acontece em relação às questões indígenas na região, que aparentemente estava tranquila, o Alex é o quarto da mesma família a ser assassinado”, conta Matias.

Conforme o coordenador, que acompanha a Reserva mais de perto, uma execução aconteceu em 2007 e duas em 2009.  Entres essas pessoas estava uma rezadeira da família, conhecida como Xurite, que tinha mais de 70 anos, Ortiz e Oswaldo Lopes.

Corpo do indígena foi encontrado por moradores da Reserva Taquaperi, em Coronel Sapucaia

Homens armados

“Quando a Taquaperi foi criada em 1928, a área tinha 3.600 hectares. Após revisões de limites ela acabou encolhendo. Hoje ela não tem nem um terço disso mais. Com essas reduções as terras foram vendidas para essas fazendas que estão próximas, como a que foi retomada no último domingo”, explica.

Matias também ressalta que além da tensão em Coronel Sapucaia, a situação no município de , cidade vizinha. Segundo ele, lideranças Guarani Ñandeva da Terra Indígena (TI) Yvy Katu relatam ter tido parte de seu território invadido por tratores e homens armados. Eles estariam pressionando para que a área seja cedida para arrendamento e monocultivo de soja. Conforme relatos, caminhonetes de fazendeiros circularam ao redor das casas enquanto homens efetuaram disparos para cima. 

Tanto o caso da execução do jovem indígena, em Coronel Sapucaia, quanto as hostilidades ocorridas em Japorã, aconteceram no mesmo momento em que era realizada a Aty Guasu, Grande dos povos Guarani e Kaiowá, entre os dias 17 e 21 de maio, lideranças indígenas da região na TI Guaimbé, no município de Laguna Carapã.

A reportagem do Midiamax entrou em contato com os sindicatos rurais de Coronel Sapucaia e também Japorã, para esclarecer as denúncias das duas comunidades, mas até o momento não recebeu nenhum retorno. O mesmo acontece em relação à Funai (Fundação Nacional do Índio), que também foi procurada e não se manifestou.