Dinheiro no ralo, engenheiro gênio e trânsito caótico: campo-grandenses se revoltam com corredores
Em série de reportagens, Midiamax detalhou custo das obras, o que falta ser feito e o impacto no trânsito
Aliny Mary Dias –
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O caos espalhado por Campo Grande com implantação de corredores de ônibus, muitos deles inacabados e que já custaram mais de R$ 110 milhões aos cofres públicos, foi assunto de série de reportagens do Jornal Midiamax nesta semana. Nas redes sociais, o sentimento dos campo-grandenses é o mesmo que as equipes de reportagens encontraram nas ruas durante as entrevistas: revolta.
Dinheiro público escoando pelo ralo, falta de planejamento e trânsito caótico são só alguns dos problemas apontados pelos leitores que diariamente precisam ter paciência redobrada para passar por vias onde os corredores com seus ‘pontões’ foram instalados.
Desde terça-feira (20), quando o Midiamax publicou a primeira matéria da série, que deu detalhes do caos espalhado pela cidade, centenas de comentários de leitores no Facebook e no Instagram expõem o tamanho da revolta do campo-grandense.
Engenharia porca caos todos os dias tanto na Gunter Hans quanto na brilhante um desrespeito à população.
Ficou horrível o trânsito, ao invés de melhorar piora. Não adianta copiar modelos de outras capitais. Tudo envolve a cultura e os hábitos do povo. Se o campograndesse não respeita as leis de trânsito imagina a transtorno dos pontos de ônibus. Me recordo do poema Carlos Drummond de Andrade. *No meio do caminho tinha uma pedra….
Mais dinheiro jogado fora, a rua estreita, agora está ruim, aguardem a volta às aulas, gente com tantos problemas nos bairros, vão mexer no centro ? Pra quê? Esse engenheiro ao meu ver não bate bem.
Horrivel. Só serve pra complicar o transito. Alguns ” experts” em transito defendem essa obra ” estrambolica”, mas quero ver a opinião de quem usa ônibus.
Esses são só alguns dos comentários dos leitores indignados com as obras.
Corredores custaram mais de R$ 110 milhões
Com R$ 110 milhões aprovados no PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) Mobilidade Urbana, a Capital iniciou as obras em 2017, na gestão de Marquinhos Trad (PSD). O Midiamax revelou que a gestão de Marquinhos, apenas 24% das obras foram concluídas.
A administração pública municipal ainda foi selecionada em 2020 para um financiamento de mais R$ 93,1 milhões para modernização da malha viária da cidade, o Avançar Cidades. Ou seja, para recapear ruas e vias urbanas ao invés de insistir em tapa-buracos. No entanto, a Prefeitura perdeu a linha de crédito.
Isso porque a gestão de Marquinhos deixou a cidade negativada no Cauc (Sistema de Informações sobre Requisitos Fiscais) e no Cadin (Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal), acima do teto da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e com mais de R$ 1,5 bilhão de financiamentos já contratados para fazer desembolso.
Com isso, Campo Grande ficou à mercê do Orçamento Geral da União, com recursos sujeitos a contingenciamento, e que acabaram comprometendo o cronograma de execução das obras, como as que estão atualmente paralisadas, na Avenida Gunter Hans e nem começou, na Avenida Cônsul Assaf Trad, licitada no início deste mês.
Corredor da Rui Barbosa funcionou um dia, e prefeita admitiu reavaliar
Um dia após o início das operações do corredor de ônibus e dos ‘pontões’ da Rui Barbosa, no Centro de Campo Grande, a prefeita Adriane Lopes (Patriota) admitiu que uma avaliação técnica será feita e que não descarta mudanças no percurso e melhorias na rua.
Durante agenda pública na quarta-feira (21), a prefeita afirmou que críticas de motoristas, comerciantes e passageiros sobre o funcionamento do corredor da Rui Barbosa, uma das vias mais estreitas do Centro da Capital, fazem parte do que é esperado no período de implantação.
Em relação a uma reavaliação sobre a operação dos corredores, a prefeita afirmou que processos relacionados ao corredor da Rui Barbosa só podem ser mudados depois de uma avaliação técnica.
“Nossas equipes especialistas em trânsito estarão avaliando todos o percurso e a execução e se tiver oportunidade de melhorias, podemos fazer, mas até o momento não há nada divergente do que está posto”, disse Adriane.
Pontões à esquerda são só mais um ingrediente da receita desastrosa
Entre as dúvidas de quem passa pelos corredores estão: por que as estações de embarque estão posicionadas do lado esquerdo da faixa de trânsito e não nas calçadas ou no lado direito das vias, onde tradicionalmente estão os pontos de ônibus? Por que a instalação dessas grandes estruturas em uma rua que já era estreita na região central?
Em janeiro de 2020, foram entregues em Brasília 160 ônibus com portas dos dois lados para solucionar o “problema” causado pela instalação de pontos de paradas do lado oposto da porta de desembarque dos ônibus.
Antes de Brasília, Curitiba, cidade referência em mobilidade urbana no país, renova progressivamente a frota de ônibus da cidade também com portas dos dois lados.
Em relação à localização dos pontões e do posicionamento das portas dos ônibus, os leitores do Midiamax que usam diariamente o transporte público expressam ainda mais revolta. Confira alguns comentários abaixo:
Padrão dos nosso engenheiros aí kkk
Sem falar que começaram a fazer 4 parada de ônibus do lado esquerdo na av Marechal deododo..com início depois do trevo imbirusso até o terminal aero rancho….era 3 vias agora estrangulou pra 2 vias……pra que fazer esta obra ……???? Agora está parada quase 1 ano….será que o “ENGENHEIROS ” andam de carro em Campo Grande???…sem licitação , sem opinião pública etc……dinheiro jogado fora….enquanto podia contribuir mais creches….upa etc…….e outra a tendência dentro de 5 anos a frota de carros é aumentar 60 % aí sim teremos grandes congestionamento afff……fora que logo que o prefeito trad entrou…..colocou uma engenharia de trânsito de Minas Gerais….ela ficava lá…kkk nem conhecia Campo grande até que a pressão da imprensa é alguns vereadores foi trocada por um que não é da área de trânsito
Com certeza faltou estudo, diálogo com os motoristas de ônibus, diálogo com a população que realmente usa esse transporte, com os motoristas de carros, e comerciantes, simplesmente viram isso em uma cidade estruturada e quiseram implantar aqui em Campo Grande, agora a cidade toda tem esses espaços onde em certo lugares matou o comércio, uma obra que não tem nada haver com nossa cidade, bom tudo isso começou com a incompetência do ex prefeito e agora finaliza com a atual prefeita, um engenhoca dessa tinha que tirar o CREA de quem fez, hoo burrice danada
Capitais construíram até BRTs com recurso dispensado por Campo Grande
A Prefeitura de Campo Grande dispensou R$ 93,1 milhões de financiamento em 2020 para melhorar as ruas da cidade, acelerando o tempo de deslocamento do transporte coletivo. Outras capitais pelo país foram selecionadas na mesma época, como Curitiba, Porto Alegre, Salvador, São Luís e São Paulo, com previsão de investimento no valor de R$ 525,8 milhões.
Aproveitando a abertura dos recursos, Salvador usou a linha de financiamento federal para ampliar o sistema de BRTs (Bus Rapid Transit), linhas de ônibus de grande capacidade que operam em faixas segregadas nas ruas. Um sistema considerado solução eficiente para dar celeridade ao transporte coletivo.
Campo Grande usaria o recurso dispensado para complementar os R$ 110 milhões em financiamentos pelo PAC Mobilidade Urbana, cujo objeto seria a implantação de corredores exclusivos de transporte coletivo, intervenções viárias, construção, reforma e ampliação de terminais de ônibus, implantação de estações de embarque e desembarque e pontos de ônibus.
Vereadores também criticam obras e falam até em intervenção da Justiça
Assim como os moradores, vereadores de Campo Grande também não pouparam críticas em relação às obras.
O presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), avaliou que os corredores de ônibus se tornaram um problema, mas que não cabe ao Legislativo intervir, e sim o Judiciário. Ele defende que cada caso seja revisto.
Outros parlamentares também cobraram investigação e citaram até criação de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar os recursos investidos nas obras.
O que justifica a prefeitura sobre os corredores
A diretora adjunta da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Andréa Figueiredo, em entrevista ao Jornal Midiamax, afirmou que os corredores de transporte coletivo devem trazer mais agilidade no trânsito e tentar assegurar a pontualidade do transporte coletivo nos embarques e desembarques.
Além disso, os “pontões” oferecem mais segurança aos usuários de ônibus porque são obrigados a entrar e sair dos locais pela faixa de pedestre, sem acesso direto pela rua.
“Os pontos de parada de transporte coletivo [atuais] são realizados em meio de quadra, então há menos segurança do que hoje com os corredores de transporte. Todas as estações ao longo dos corredores estão posicionadas nas esquinas, dotados de sinalização horizontal e vertical, faixa de pedestre, rampas de acessibilidade e botoeiras para pedestres. Os semáforos vêm também para dar maior agilidade para esse transporte coletivo”, afirma a diretora.
Os únicos trechos com as estações de pré-embarque e corredores de ônibus em atividade são os das ruas Guia Lopes e Brilhante. A diretora da Agetran pontua que os condutores de veículos têm a opção de procurar rotas alternativas para chegar até o destino final por ruas paralelas ou perpendiculares, diferente do transporte coletivo que tem um itinerário fixo.
Sobre a Gunter Hans, a diretora da Agetran afirma que a paralisação das obras deve ser tratada com a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), pois possui os contratos e fiscais de obras. O Midiamax solicitou à Prefeitura uma entrevista com o titular da pasta, Rudi Fiorese, mas o município informou que apenas a Agetran responderia sobre os corredores de ônibus.
Confira aqui todas as matérias da série do Midiamax sobre os corredores de ônibus
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