Tem até memes circulando e os números confirmam: já teve o “boom” das farmácias, dos sushis, de loja de colchões e agora barbearias. Segundo a Jucems (Junta Comercial do Estado de Mato Grosso do Sul), foram 1.588 estabelecimentos do ramo abertos na capital, em 2021. Neste ano, o empreendimento segue em alta, com 171 barbearias abertas na capital sul-mato-grossense, neste último mês de janeiro. 

Das 1.588 barbearias, 1.507 estão registradas como MEIs (Microempreendedor Individual), ou seja, correspondem a 95% do total. Em 2020, período do início da pandemia, as barbearias continuaram em alta na cidade, com a abertura de 1.556 estabelecimentos do ramo, sendo 1.485 MEIs, correspondendo, da mesma forma, 95% do total. 

“Quando consolidamos os dados das barbearias, vemos que a maioria é constituída por MEIs. São pessoas que empreendem e utilizam de uma natureza jurídica privilegiada, com tratamento preferencial do governo federal na questão da tributação. Além disso, a partir deste ano, os MEIs ainda podem ter renda bruta anual de até R$ 130 mil. Anteriormente era de até R$ 81 mil”, afirmou o presidente da Jucems, Augusto César Ferreira de Castro.

Barbearias oferecem diversos serviços aos clientes, além de cervejinha gelada, café e até cachaça. Fotos: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

 

Segundo o presidente, não só Campo Grande, como todo o estado viveu o “boom” das barbearias, com 3.408 estabelecimentos inaugurados em 2021, sendo 3.246 delas registradas como microempresas.

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Kayo é estudante e também atua como barbeiro há 6 meses.
Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

É um segmento que tem crescido muito, mesmo com toda essa retração econômica em outros segmentos. No caso das barbearias, a maioria é de MEIs e existem até aqueles casos de empreendedorismo por necessidade, algo que representa uma grande possibilidade para as pessoas.

O estudante e agora barbeiro, Kayo Eduardo Alves Quevedo dos Santos, de 17 anos, conta que está atuando na área há 6 meses.

“Eu sou muito detalhista e sempre fazia algumas exigências para o meu barbeiro, até que ele veio e me disse: menino, porque você não aprende a profissão e se torna barbeiro. Daí eu fui lá e fiz o curso. Estou na fase de ir pegando experiência, de ir me adaptando com a máquina. Acho legal quando atendo um cliente e ele fala: nossa, que legal, tão novo e já correndo atrás”, contou ao Jornal Midiamax

Rotina na para atrair clientes

O barbeiro profissional, João Henrique da Silva Neri, de 36 anos, atua no ramo há 3 anos. Além de usar as redes sociais para mostrar a rotina, desde o momento em que higieniza a bancada até o atendimento final do cliente, João também se especializa para, até o final deste ano, ministrar cursos da área. 

“Eu cresci dentro de salão, porque minha mãe e meu tio são da área de estética. Antes, eu trabalhava como cinegrafista, porém, viajava muito e quase não tinha tempo para ficar com a família. Foi quando eu decidi mudar de ramo, fiz o curso completo e, quando vi, já tinha montado uma barbearia em casa e estava atendendo os clientes”, comentou João. 

João conta que usa redes sociais para mostrar a rotina e pretende ministrar cursos até o final do ano. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

 

No entanto, com a pandemia, João encerrou o atendimento e agora aguarda o momento certo de ter a própria barbearia. “Eu vim trabalhar em outra barbearia, ao lado do meu tio. Por enquanto, estou aprendendo sobre gestão e vejo que, cada vez mais, o corte bem feito é o que chama a atenção do cliente. Aqui também temos outros serviços, como depilação, barba e até acessórios próprios, além de uma cerveja gelada e até cachaça se o cliente quiser”, explicou. 

Padrão e propaganda “boca a boca”

Barbeiro há 14 anos, Edir de Souza Veira, de 39 anos, diz que o negócio dele é das antigas e a melhor propaganda é o boca a boca na e região. “Eu tinha 16 anos quando a prefeitura estava oferecendo um curso gratuito e eu fiz. Depois, fui para o quartel, fiquei lá 6 anos e, quando saí, já montei aqui. O meu serviço é das antigas, é o mesmo, e nunca falta cliente”, argumentou. 

Conforme Vieira, o padrão precisa sempre ser mantido e ele não mudou nada na barbearia. “Eu continuo do mesmo jeito, com o mesmo padrão. A única coisa que busquei me especializar foi na barba e sobrancelha, já que, a cada 10 clientes que aparecem aqui, 8 estão com barba atualmente”, comentou. 

 

Pioneirismo e marketing “agressivo”

De olho em oportunidades, Thiago Doneda, de 33 anos, teve a ideia de abrir uma barbearia dentro de uma banca de revistas, no ano de 2015. O plano acabou não dando certo, mas, ele locou outro espaço e manteve o nome escolhido. 

Na época, com um marketing “agressivo”, Thiago diz que começou a divulgar serviços, oferecendo desde sinuca para os clientes até uma linha própria de produtos, que vão desde pomada para o penteado durar mais até para o crescimento da barba. Atualmente, a marca se tornou uma franquia e são 12 lojas espalhadas pelo país, sendo em Mato Grosso do Sul, Goiás e Santa Catarina, com projetos de expansão para Paraná e Mato Grosso. 

Empresário diz que apostou em “marketing agressivo” para o negócio prosperar. Foto: Thiago Doneda/Arquivo Pessoal 

 

“Eu acredito que nós fomos os pioneiros desse movimento de barbearias, aqui em Campo Grande. A gente começou com um marketing bastante agressivo e, desde o início, tivemos bastante movimento, a procura sempre foi grande. Nós oferecemos cabelo, barba, sobrancelha, depilação de nariz e orelha, progressiva masculina, tudo em um ambiente agradável, com tudo o que o homem gosta, como cerveja e café, por exemplo”, finalizou o empresário.

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Busca por emprego

Atual presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Campo Grande, Adelaido Vila ressalta que análises mais recentes apontam dificuldade de jovens querendo atuar como empregados. “A gente está vendo uma dificuldade significativa quando oferecemos uma vaga, em ter a pessoa disposta a atuar como empregado. Os jovens estão pensando muito em construir o próprio empreendimento, em ser MEIs. E esses cursos técnicos que formam, que preparam, são extremamente interessantes, porém, a nossa única preocupação é que o curso forma para o trabalho, mas, esses cursos não formam para o empreendedorismo, então, a nossa meta é chamar esses jovens para aprenderem sobre gestão econômica, olhar empresarial, atitude, entre outros aspectos”, ressaltou. 

Segundo Adelaido, empreender não é só conhecer “tecnicamente” o serviço oferecido, mas também conhecer a comunicação com o cliente, o comportamento e a gestão financeira. “Esse é um movimento interessante que estamos vendo, do jovem se lançando no mercado. Ele está buscando empreender dentro do seu próprio negócio, mas, volto a insistir na busca por um conhecimento empresarial para não ter prejuízos”, finalizou.