Aposentado foi buscar uma ‘receita de óculos’ e voltou cego após erro na Caravana da Saúde

Vítima se arrepende de ter saído de casa para procurar atendimento médico

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Cirurgias devem ser retomadas gradativamente
Cirurgias devem ser retomadas gradativamente

Há cinco anos a vida de Cacildo Theodoro Vau, aposentado de 72 anos morador no Conjunto Estrela Dalva, em Campo Grande, não é mais a mesma. Por conta de um erro médico ocorrido durante cirurgia na Caravana da Saúde, do Governo do Estado, ele ficou cego e já não consegue mais realizar as mesmas tarefas de antes. O olho direito está completamente comprometido e o esquerdo tem apenas 10% da visão.

Ao Midiamax, o idoso relatou que se arrepende do dia em que saiu de casa. Tudo o que ele queria era uma ‘receita de óculos’, já que vinha percebendo dificuldades para enxergar. No entanto, ainda era independente e não precisava da ajuda de terceiros para nada. “Eu andava de bicicleta, ia para a casa do meu filho sozinho, ao mercado, na feira e jogava baralho com os amigos. Agora não consigo mais”, relata.

O erro que custou sua visão ocorreu em maio de 2016. No dia 14 daquele mês, Cacildo saiu de casa e foi até o Pavilhão Albano Franco, onde estava sendo realizado atendimento da Caravana. O programa tinha como objetivo reduzir a fila das cirurgias eletivas na saúde pública e, por este motivo, tinha estrutura montada no local para operar ali mesmo os pacientes. “Não sei o que fui fazer lá naquele dia”, pontua.

A visão não era das melhores, mas não o impedia de viver tranquilamente. Por isso, o aposentado acreditava que um óculos resolveria seus problemas. “Quando cheguei lá para fazer uma consulta, me disseram que eu tinha catarata e que a única solução era cirurgia”. Confiando no diagnóstico da equipe médica, o paciente aceitou e compareceu para ser submetido a uma cirurgia. Primeiro, o procedimento foi feito no olho esquerdo.

Quatro dias depois, foi operado no olho direito. “Doeu demais, eu avançava na mão dele e falava que estavam furando meu olho, era muita dor” relembra. Após o doloroso procedimento, a vítima passou a apresentar piora, com inflamações, irritações nos olhos e muita dificuldade para enxergar. “Eu procurei eles [Caravana] várias vezes, mas nada resolviam”. Foi então que o filho pagou uma consulta com oftalmologista particular.

Este médico constatou que a cirurgia havia sido realizada de forma errada e que a vítima estava cega do olho direito, com 90% do olho esquerdo comprometido. “Eu bem que podia ter ficado em casa. Agora, até que faço algumas coisinhas, mas não vou pra rua sozinho, sem acompanhante. Não saio mais de casa à noite, ficou bem pior, porque não consigo diferenciar a distância das coisas”.

Ciente da gravidade da situação, Cacildo procurou o advogado Fernando Bernardo e moveu ação contra o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul por erro médico. Inicialmente, solicitou indenização por danos morais na ordem de R$ 100 mil e mais pensão. No entanto, o juízo de primeiro grau condenou o Estado apenas ao pagamento de R$ 30 mil e não cedeu pensão, por considerar não ter havido prejuízo aos proventos, uma vez que o idoso já era aposentado.

Houve recurso junto ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e o advogado garante que vai acionar outras instâncias superiores, para que o valor da indenização seja redimensionado. “Entendemos que o valor fixado foi baixo, pois ele teve as duas vistas prejudicadas. Não dá pra imaginar um idoso sem as vistas por conta de erro causado por órgão público. Por isso vamos recorrer e lutar também para que ele consiga uma pensão, pois o erro trouxe prejuízos e ele nem consegue mais andar de bicicleta”, afirmou Fernando Bernardo.

O próprio aposentado também acredita que o valor da indenização é pequeno perto de todo o sofrimento que lhe foi causado. “O que se faz com R$ 30 mil? Se eu for pagar para consertar o que fizeram, esse dinheiro não dá. Tiro os custos do advogado, pago umas continhas e já acabou o dinheiro. Espero que a Justiça entenda minha situação e aumento isso”, reforçou.

Mais erros

O Governo do Estado e a empresa 20/20 Serviços Médicos S/S se tornaram réus em pelo menos 12 processos envolvendo erros médicos após cirurgias de catarata, supostamente ocorridos durante a Caravana da Saúde. Pacientes pedem indenização por ficarem cegos ou perderem parcialmente a visão. Alguns alegam que, por este motivo, não conseguem mais voltar ao trabalho ou realizar tarefas simples do cotidiano.

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