Mesmo com adiamento de prova, pandemia expõe abismo entre quem vai prestar o Enem em MS
A pandemia do novo coronavírus revela um abismo ainda maior entre as realidade de quem se prepara para o principal vestibular do país, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Em MS, o adiamento da prova dá certo respiro a estudantes da rede pública, que viram aulas presenciais interrompidas como medida de contenção. Notícias relacionadas […]
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A pandemia do novo coronavírus revela um abismo ainda maior entre as realidade de quem se prepara para o principal vestibular do país, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Em MS, o adiamento da prova dá certo respiro a estudantes da rede pública, que viram aulas presenciais interrompidas como medida de contenção.
É que diferente da rede particular, que já providenciou bem cedo um eficiente sistema de aulas à distância, somente agora estudantes do ensino público dispõem, por exemplo, das aulas transmitidas pela TV.
Já a maior parte das escolas particulares já conta com uma plataforma on-line que permite acesso direto para tirar dúvidas com professores, armazena as video-aulas e fornece todo o material didático. O expertise dos docentes costuma ser certeiro nas questões que integra a prova e, com isso, o índice de aprovação é bastante alto. Como não existe almoço grátis, o custo costuma ser alto – as escolas de elite chegam a cobrar, por exemplo, até R$ 3 mil em mensalidades nos cursos com professores renomados.
Além disso, o tempo extra garantido pelo adiamento do Enem também garante ‘intensivão’ àqueles que aguardam a aplicação do exame, principalmente por quem goza dos recursos tecnológicos oferecidos pelas escolas particulares.
Correndo atrás
A estudante Bruna Siqueira, de 19 anos, estuda por conta própria para o Enem. A rotina de estudos na pandemia conta com cuidar dos irmãos menores enquanto os pais trabalham e procurar na internet aulas gratuitas com conteúdo para o Enem. “Tentei ano passado, mas a prova foi difícil, não fui bem. Tudo era novo. Estou estudando de casa e fico procurando no youtube aulas específicas sobre os tópicos. Estou em alguns grupos de WhatsApp de pessoas que compartilham conteúdo. Tenho me virado, porque é o que eu consigo fazer”, conta.
Amiga de Bruna, Ana Maria dos Santos, de 18 anos, também está em grupos de WhatsApp de pessoas que compartilham conteúdo. “A gente conseguiu até umas video-aulas do Youtube, um canal muito bom para quem nunca teve esse ensino preparatório. Tem sido uma descoberta. A única coisa ruim é que a gente não consegue tirar dúvidas com professores, então vai entre a gente, mesmo”, conta.
Um dos canais mais conhecido é o No Enem (clique AQUI), que publica videoaulas gratuitas direcionadas para o exame. “Olha, foi uma descoberta sensacional. Mas a gente sabe que muitos não têm internet. Eu mesma tenho que usar a da minha vizinha”, completa Ana Maria.
Na contramão de todo o aparato tecnológico e financeiro das escolas preparatórias particulares, o Instituto Luther King, referência na preparação ao Enem para estudantes de baixa renda em Campo Grande, se esforça para dar uma resposta a essas diferenças. O instituto providencia, para a próxima semana, metodologia semelhante a das concorrentes, a fim de aumentar o rendimento dos estudantes matriculados.
Por ano, pelo menos 140 vagas dão oportunidade de aprendizado direcionado ao Enem a quem vem da rede pública ou que têm baixa renda. De aulas a material didático inclusos, os pré-vestibulandos só precisam arcar com o passe de estudante – que está suspenso no Estado para quem ainda está na REE (Rede de Ensino Particular).
Um ponto positivo é que, com o novo sistema, com aulas no youtube e os plantão tira-dúvidas permitirão o Luther King alcançar cerca de 200 pessoas em breve.
“Até o momento temos os grupos de WhatsApp, com as aulas enviadas por Power Point, e tira-dúvidas e alguns professores postaram aulas no Youtube. Mas, até a próxima semana, vamos ter as video-aulas, pela internet, com essa interação em tempo real”, adianta a coordenadora pedagógica do Instituto Luther King, Renilda dos Santos.
A coordenadora opina, particularmente, que o adiamento ajuda na preparação, mas a manutenção da prova ainda este ano favorece a diferença de aprendizado entre quem se prepara a partir do ensino público e o particular. São pouco mais de dois meses de aulas presenciais suspensas que cavaram mais ainda o abismo social dos candidatos.
“Muitos dos nossos alunos comentam que só no nosso cursinho preparatório é que tiveram conhecimento realmente aplicado ao Enem. Eles relatam que nas escolas públicas recebem ensino, mas não tem esse direcionamento para a prova, deixa a desejar. Aqui, temos professores que fazem isso, e dá uma oportunidade a eles. Mas, quem vai tentar vestibular direto no 3º ano vai ter uma lacuna ainda maior do que antes”, considera a coordenadora do curso que, em 16 anos, já aprovou mais de 1.350 alunos em vestibulares.
Ela destaca que outro problema é que muitos estudantes que chegam ao instituto não têm o privilégio de serem estudantes profissionais e precisam dividir a rotina de estudos com empregos. “É uma coisa que a gente não vê com frequência entre outros estudantes, que tem muito mais estrutura para se dedicar à prova. Nossos alunos, a maioria, tem uma jornada de trabalho. Sobra menos tempo para estudar”, comenta.
Adiamento
A manutenção das datas do Enem 2020 eram um ponto inegociável do Governo Federal, mesmo com a suspensão das aulas em toda a rede de ensino. Diversas frente políticas protestaram pela decisão de manter o exame, já que a desigualdade seria ainda maior durante a pandemia.
O Senado Federal votou e aprovou, na última semana, um projeto de lei para garantir o adiamento da prova enquanto durar a pandemia. Porém, quando a matéria seria pautada na Câmara, o MEC cedeu pelo adiamento. Agora, a realização do Enem 2020 depende de uma enquete direcionada aos inscritos, prevista para junho. As inscrições também foram adiadas e seguem abertas até o próximo dia 27.
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