‘Estamos perdendo anciões’: Indígenas temem avanço do coronavírus em Campo Grande
Casos confirmados e mortes causadas em decorrência do coronavírus aumentaram em aldeias de Mato Grosso do Sul. Três indígenas morreram com suspeita da doença, nesta terça-feira (21). Com parentes na região, moradores da Aldeia Marçal de Souza, em Campo Grande, lamentam a morte de anciões, detentores da cultura e história indígena no Estado. O cacique […]
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Casos confirmados e mortes causadas em decorrência do coronavírus aumentaram em aldeias de Mato Grosso do Sul. Três indígenas morreram com suspeita da doença, nesta terça-feira (21). Com parentes na região, moradores da Aldeia Marçal de Souza, em Campo Grande, lamentam a morte de anciões, detentores da cultura e história indígena no Estado.
O cacique Josias Jordão Ramires conta que a mãe dele está internada em estado grave com a suspeita da doença. Ela também estava na Aldeia Bananal, no distrito de Taunay, em Aquidauana, distante a 135 quilômetros da Capital, onde uma das vítimas fatais.
“Desde sexta-feira (17) ela está entubada, sedada, com febre. Ainda não saiu o resultado dos exames, mas é uma situação que preocupa demais. Ela é diabética e tem hipertensão. Ela foi há um mês cuidar da minha avó, que é de idade. Os casos aumentaram muito, estamos vulneráveis e não sabemos o que fazer para conter o vírus”, disse.
Sem visitas de agentes de saúde ou suporte do poder público, o líder também explica que uma das formas de manter os moradores informados é enviar vídeos através do WhatsApp sobre a doença e como se cuidar. “A gente tenta fazer o básico, pedindo para evitar aglomeração, uso de máscara e álcool em gel, mas precisamos que exames de testes rápidos sejam feitos. e não depois de confirmado.”
O filho do vice-cacique, Brayan Dias, 20 anos, disse que pessoas da aldeia foram ao velório das vítimas de coronavírus no interior, para se despedir. Ele ressalta que a maior parte dos indígenas trabalha informalmente e com atendimento ao público, aumentando as chances de contaminação.
“Em média, dentro de cada terreno moram duas famílias, se um pegar, todos pegam (Covid-19). Até o momento, não temos apoio. É triste porque estamos perdendo anciões, histórias, livros vivos, com a nossa cultura, raízes, ficando à deriva”, lamentou.
Fazendo parte do grupo de risco, a aposentada Izabel Barros,59, perdeu uma perna e a visão em consequência da diabetes. Ela conta que tenta se proteger, mas até assistência para a comorbidade está em falta.
“Minha prima da Aldeia de Limão Verde pegou (Covid-19), mas já está bem. Não somos acostumados a ficar assim, medo nós temos, me protejo para não contrair. Acho que somos esquecidos, nenhum ajuda. Já tentei atendimento na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), e São Julião, nunca dão retorno, faz 5 anos. Na UBS (Unidade Básica de Saúde) Arnaldo Estevão não tem medicamento (para tratar diabetes)”, desabafa.
Lelimar Marques,30, diz que os familiares enfrentam dificuldades para ter acesso aos cuidados médicos, devido a distância. “Eu estou protegida, mas meu marido que vai para trabalho não, meu irmão que trabalha com entrega não. É muito triste, porque lá (Aquidauana), da aldeia até a cidade é 1h30 (com condução). Aqui não estamos longe, mas não estamos imunes de serem infectados”, finaliza.
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