Servidores denunciam Consórcio Guaicurus por ‘esconder’ ônibus que deveriam estar nas ruas
Mais uma denúncia indica suposta fraude na operação contrato de concessão do transporte coletivo urbano de Campo Grande. Segundo servidores envolvidos na fiscalização direta do serviço, as empresas que formam o Consórcio Guaicurus estariam mantendo quase um terço da frota parada todos os dias, e tirariam os carros das garagens apenas para ‘fingir’ que estão […]
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Mais uma denúncia indica suposta fraude na operação contrato de concessão do transporte coletivo urbano de Campo Grande. Segundo servidores envolvidos na fiscalização direta do serviço, as empresas que formam o Consórcio Guaicurus estariam mantendo quase um terço da frota parada todos os dias, e tirariam os carros das garagens apenas para ‘fingir’ que estão rodando como deveriam.
Segundo as informações oficiais da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), atualmente Campo Grande tem 555 ônibus, e apenas 50 deveriam ficar parados como ‘frota reserva’, usada para substituir outros em eventuais problemas mecânicos.
No entanto, a equipe de reportagem do Jornal Midiamax foi às ruas na última quarta-feira (19) verificar a denúncia e flagrou 118 coletivos estacionados nos arredores de 5 terminais e nas garagens da Viação Jaguar e Cidade Morena.
A ronda, documentada em vídeos e fotos, foi realizada entre as 10h e as 14 horas, ou seja, pegou todo o horário de pico no movimento do almoço. Por questão de logística, a reportagem deixou fora da rota de visita o terminal Júlio de Castilho e as garagens da Viação Campo Grande e Viação São Francisco.
Mesmo assim, o número de ônibus flagrados parados é o dobro do apontado pela Agereg como ‘frota reserva’. Com menos ônibus rodando, a velocidade média nas viagens cai junto com o total de quilômetros rodados. Os empresários economizam, enquanto os passageiros sofrem.
Servidores preocupados
De acordo com os servidores, haveria pressão para fazer ‘vista grossa’ e os ônibus ficam todos estacionados no entorno dos terminais, em ruas de pouco movimento, sem nenhum disfarce.
Os denunciantes garantem que, assim como no dia da ronda feita pela reportagem, mais de 150 ônibus ficam parados todos os dias.
Segundo os servidores que resolveram falar com o Jornal Midiamax, o temor é de que para justificar a inércia frente às irregularidades, os órgãos de fiscalização acabem punindo quem está ‘na ponta’ e, de acordo com eles, ‘apenas cumpre ordens’.
Recentemente, após a série de reportagens apontando suspeitas de irregularidades, como a suposta manobra dos empresários para economizar aumentando o tempo de esperao ‘clima teria mudado com relação à ação fiscalizatória’. A Agereg até informou que notificou o Consórcio para justificar o suposto corte nas tabelas.
Vale lembrar que um inquérito no MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) investiga por que Agereg teria liberado Consórcio Guaicurus de pagar 2200 multas.
Articulados, mais novos e com ar condicionado parados
Nas imediações do Terminal General Osório, a equipe flagrou 6 ônibus parados nas ruas laterais. Foi um dos menores números, porém, os veículos parados eram 2 articulados e 4 dos ônibus mais novos, que chegaram em Campo Grande na última aquisição do Consórcio Guaicurus.
Atualmente as empresas mantêm mais de 50 ônibus vencidos em circulação. Mesmo assim, a Agereg afirmou que ainda pretende ‘reavaliar a multa’, mesmo após o prazo dado ao Consórcio se esgotar.
Nos arredores do Terminal Morenão, em uma rua lateral paralela à avenida Costa e Silva com pouco movimento, mais 25 ônibus estacionados. Desta vez, entre os flagrados, estavam os equipados com ar condicionado, que deveriam estar circulando conforme promessa amplamente divulgada oficialmente.
A falta de conforto é uma das principais reclamações de trabalhadores e estudantes que usam cotidianamente os ônibus, sempre atrasados, lotados, velhos e quentes.
No Terminal Guaicurus, mais 20 ônibus estavam encostados enquanto o terminal estava abarrotado de passageiros em pleno horário de pico. Nas garagens da Viação Jaguar e Cidade Morena, muros altos e funcionários desconfiados tentam manter a frota longe da vista. Mesmo assim, pelo menos 25 ônibus estavam estacionados em cada uma.
Tudo pelo lucro, nada pelo passageiro
Com menos veículos nas ruas, os empresários economizam mais ainda, e a qualidade do serviço despenca.
Com o transporte péssimo, os passageiros fogem para opções como os aplicativos de transporte ou motocicletas e dificilmente quem ganha pelo menos um pouco acima da média nacional se submete ao suplício do serviço de transporte coletivo urbano em Campo Grande.
O trânsito piora e as empresas ainda tentariam usar a queda no número de clientes para aumentar os lucros, justificando aumento na tarifa e isenção fiscal milionária que recebe desde 2013.
Vereadores ignorados e Procon-MS em ação
Além da Agereg e dos promotores de Justiça, os parlamentares eleitos pelos campo-grandenses também têm prerrogativa de fiscalização dos atos do executivo, como a manutenção do contrato de concessão.
Recentemente, o Procon-MS entrou na briga de forma tímida, e se limitou a autuar o Consórcio pela segunda vez, com ‘risco’ de multa de R$ 100 mil depois de inúmeras denúncias dos passageiros sobre os atrasos constantes.
Primeiro prefeito a ‘quase multar’
O prefeito Marquinhos Trad (PSD), pressionado sobre a postura da Prefeitura diante de tantos problemas, ressalta que foi o primeiro prefeito a pelo menos autuar o Consórcio Guaicurus com possibilidade real de multa.
Desde a assinatura do contrato milionário no final do mandato do ex-prefeito Nelson Trad Filho (PSD), em 2012, passaram pela Prefeitura de Campo Grande Alcides Bernal (PP), Gilmar Olarte (Sem Partido) e Marquinhos Trad (PSD).
No entanto, apenas em 2019, depois de mais de um ano com quase 50 ônibus acima da idade prevista em contrato rodando, é que a Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos) aplicou a sansão, com ameaça de multa de R$ 2,7 milhões ao Consórcio por conta dos veículos velhos e vencidos.
Agereg e Agetran não falam mais
A reportagem entrou em contato com a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), que estabelece horários e quantos veículos devem estar nas ruas, para saber como é feita a fiscalização. Mas, como tem sido usual nas últimas semanas, quando o Jornal Midiamax iniciou uma série de reportagens investigando as suspeitas sobre o contrato de concessão do transporte coletivo urbano em Campo Grande, ainda aguarda resposta.
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