MPE-MS afirma não ver apologia à pedofilia em quadro polêmico
Promotor e procuradores falaram do assunto
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Promotor e procuradores falaram do assunto
A questão da obra de arte que foi retirada do Marco (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul), apreendida pela polícia após boletim de ocorrência de deputados de Campo Grande, por supostamente “incitar a pedofilia”, ganhou mais um viés na tarde desta sexta-feira (15). O MPE (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) emitiu manifestação dizendo que não acredita haver nenhuma incitação à violência na tela da artista Alessandra Cunha.
O promotor de justiça Gerson Eduardo de Araújo, titular da 27ª Promotoria de Justiça, especializada no atendimento à Infância e Juventude, afirmou que a obra de arte “mostra uma criança assustada diante de dois homens nus, contendo no fundo e em destaque um olho onde lágrimas são vertidas. A imagem retratada no quadro não representa um incentivo ou elogio ao crime de pedofilia ou a outro crime de abuso sexual contra uma criança. O propósito da artista, salvo melhor, juízo, tem condão de causar uma reflexão, um debate sobre o tema e não promover o incentivo para que crianças sejam alvos desses crimes”, declarou.
Essa visão parece ser a mesma partilhada pela classe artística, que está revoltada e realizou protesto na manhã desta sexta, por volta das 11h, chamando a ação dos deputados Paulo Siufi (PMDB), Coronel Davi (PSC) e
Herculano Borges (SD) de “censura”. Os deputados, por sua vez, acreditam que a tela é uma “agressão á família, moral e aos bons costumes”.
Opiniões
A mostra “Cadafalso”, de Alessandra, tem outras 31 telas e ficaria no museu até domingo (17). Apesar da classificação etária da mostra ter ido de 12 para 18 anos, um dos quadros realmente foi retirado do local pela polícia nesta quinta-feira (14). O promotor de justiça disse que na ocasião o MPE foi apurar se houve alguma violação ao Estatuto da Criança e do Adolescente, e foi constatado que no que concerne a entrada de menores ao museu, a alteração dessa classificação já teria sido suficiente. Mesmo assim a tela foi levada.
A procuradora de justiça Ariadne de Fátima Cantú da Silva, que atuou muitos anos à frente da Promotoria da Infância e Juventude, visitou a exposição na manhã de hoje e manifestou-se sobre o trabalho da artista, especialmente sobre a obra apreendida, afirmando não encontrar na obra da autora qualquer elemento que violasse os preceitos estabelecidos no ECA.
“É lamentável que um belo trabalho como o da artista Alessandra Cunha seja considerado ofensivo quando vemos a toda hora os direitos da população serem ofendidos pelos barbarismos da corrupção”, disse Ariadne. Para a também procuradora de justiça Jaceguara Dantas da Silva Passos, a apreensão da obra “se constitui em uma agressão à arte e a cultura, que devem ser incentivadas em qualquer sociedade desenvolvida e democrática”.
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