Na Capital, Fórum de caciques discute situação das comunidades indígenas

  27 caciques e oito etnias participam do encontro

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27 caciques e oito etnias participam do encontro

O Fórum de caciques indígenas de Mato Grosso do Sul, uma das entidades representativas das comunidades no Estado, reúne-se nessa semana junto à representantes das aldeias, professores, profissionais da saúde, políticos e com o recém nomeado coordenador da CR (Coordenação Regional) da Funai (Fundação nacional do índio) em Campo Grande, o coronel da reserva militar, Renato Vidal Santana.

Titular da Sub Secretaria de Assuntos Indígenas de Mato Grosso do Sul, a terena Silvana Dias de Souza Albuquerque participou da discussão na quinta-feira (17), que abordou a Educação. Ela afirma que o convite partiu das lideranças que integram o espaço. “Sempre estive com eles e eles querem ter esse contato mais próximo com o governo”, contou. “Enquanto não há demarcação, temos que trabalhar para a melhoria das comunidades”.

As professoras de escolas indígenas Dalila, Lindomar, Janete e Elineia explicaram que reivindicam a efetivação da educação escolar indígena. Especialistas e pós-graduadas, elas buscam mais espaço para a docência. “O que nós precisamos é que algum indígena de fato fale por nós. Enquanto não tenha ninguém que vivencie o que vivenciamos, a situação não vai avançar. O Fórum está dando esse suporte pelo que estamos vendo. A gente tem o conhecimento de que outros Estados têm esse representante na educação”, explicam.

“Também reivindicamos a política de cotas. Que de acordo com a legislação, apoie a educação escolar indígena”, complementaram. Elas pedem que o Estado abra mais vagas de concurso para a docência. Conforme explicaram, o encontro do Fórum termina com a promessa de que o edital será publicado.

Terena da aldeia Tereré, em Sidrolândia – distante cerca de 65 km de Campo Grande -, e presidente do Fórum, Jucelino conta que o debate abordou diversas situações das comunidades. “A gente marcou um debate para discutir as aldeias, a educação, a saúde, aqui tem caciques legítimos”, afirmou. Segundo ele, o Fórum definiu, em maioria, apoiar a nomeação do coronel para a Funai. Ele explicou que a Funai está defasada e que precisa atender às comunidades. “A maioria de nós vive da agricultura”, contou.

O Fórum e outras entidades como o Conselho Terena apresentam divergências sobre as questões indígenas, a exemplo da nomeação do coronel para o cargo na CR. A Funai foi ocupada no mesmo dia que o nome de Renato foi divulgado no Diário Oficial da União.

Jucelino acredita que as divergências são naturais e fazem parte da política. “Política é natural, normal, quem não vive de política? Todos que estão aqui vieram com seu próprio recurso, com seu carro. Nós queremos construir algo, seja com quem for”, contou.

 

 

O Fórum recebe críticas dos movimentos dissidentes pelo diálogo junto à nomes como a deputada estadual Mara Caseiro (PSDB) e o deputado federal Carlos Marun (PMDB) – que articulou a nomeação do coronel -. Para Jucelino, o Fórum busca diálogo para projetos e melhorias para indígenas de todo o Estado. “Nós reivindicamos eleições, educação, saúde, nós temos responsabilidade”, pontuou. “Nossa reunião é aberta, eles [Conselho Terena] também podem vir se quiserem participar”.

“A população indígena nunca teve amparo nenhum. Nós temos que deixar de ser hipócritas e ver que a nossa sociedade é plural”, declarou.

José é cacique da etnia Ofaié-Xavante da região de Brasilândia – distante cerca de 355 km de Campo Grande -. Ele conta que o espaço de reunião pretende fazer encaminhamentos sobre os assuntos discutidos. “Hoje nosso Estado tem muitos problemas. Nosso objetivo é trazer os problemas e encaminhar soluções. Nós estamos aqui para o diálogo. Nós vivemos em um mundo democrático. Os Ofaié estão apoiando o coordenador apoiado pelo ministro. A gente ouve que estamos à favor dos ruralistas e aqui não tem nenhuma criança. A Funai está precisando de gestão”, opinou ele.

“Vim participar com os colegas, a gente acha que o Fórum vai ajudar. Sempre respeitamos as dificuldades. Queremos levar coisas boas para a nossa comunidade. A gente só quer levar nossa luta para a frente”, explicou Marciano, Guarani e Kaiowá da aldeia Pirakuá em Bela Vista – distante cerca de 310 km de Campo Grande.

Estudante da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), Genilson afirma que a situação do povo Kinikinau em Mato Grosso do Sul pede atenção com urgência. “Como um jovem, me sinto privilegiado. Mas hoje estamos dependendo de outras etnias, precisamos das outras etnias. Hoje nossa arma é a caneta”, explicou.

Da aldeia Alves de Barros em Porto Murtinho – distante cerca de 437 km de Capital -, Ambrósio é presidente da associação das reservas Kadiwéu – que abrange seis aldeias da etnia. Ele explica que, mesmo que a nomeação do novo coordenador da CR não tenha passado por consulta junto às comunidades, estão abertos para conhecer o coronel.

“Tudo novo gera curiosidade. Estamos abertos a novas opiniões. Nós queremos conhecer esse novo coordenador, desde que ele preencha a vontade de um povo carente. Hoje foram debatidos diversas frentes, de assuntos fundiários até a questão da fome nas aldeias. Ninguém aqui quer se distanciar da Funai. Nós Kadiwéu somos guerreiros e cavaleiros, nunca iremos perder a rédea dos nossos cavalos”, afirmou.

Renato Vidal Santana (Luiz Alberto)Renato Vidal participou do encontro e afirma que foi um dos primeiros contatos junto às comunidades indígenas do Estado. “A primeira reunião foi na segunda [14], nos reunimos com o deputado Marun e aí tivemos o primeiro contato. As carências são as maiores possíveis. As situações são lamentáveis, escola, saúde, insegurança e alcoolismo são alguns dos problemas”, declarou.

Para ele, a reação contrária dos indígenas que ocupam a Funai se deve à “interesses por trás da causa indígena”. “Existem muitos interesses por trás da causa indígena, eu tenho certeza que tem, ONGs, conselhos. Esse pessoal veste uma carapuça”, afirmou.

“Ele precisava de um militar, ele pôs na cabeça que seria um militar. Ele me ligou e me deu uma semana e meia para pensar”, contou, sobre o convite realizado pelo deputado federal Carlos Marun (PMDB), para que assumisse a CR de Campo Grande.

A reunião do Fórum de caciques acontece desde o dia 15 e termina nesta sexta-feira (18). Etnias como a Terena, Guarani e Kaiowá, Guarani Nhandeva, Ofaié-Xavante, Kadiwéu, Kinikinau e Guató participam das discussões.

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