Emissário implica assessor de Renan Filho em entregas de R$ 3,8 mi para Renan
O amigo pessoal do delator Ricardo Saud, Durval Rodrigues da Costa, implicou o assessor especial do governo de Alagoas, Ricardo Rocha, como o responsável por supostamente receber propinas pagas pelo grupo J&F ao senador Renan Calheiros (MDB-AL). O dinheiro seria destinado à campanha do atual governador do Estado, Renan Filho (MDB), e seria uma contrapartida […]
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O amigo pessoal do delator Ricardo Saud, Durval Rodrigues da Costa, implicou o assessor especial do governo de Alagoas, Ricardo Rocha, como o responsável por supostamente receber propinas pagas pelo grupo J&F ao senador Renan Calheiros (MDB-AL). O dinheiro seria destinado à campanha do atual governador do Estado, Renan Filho (MDB), e seria uma contrapartida para o apoio do senador à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, em 2014.
Em depoimento prestado em maio, Costa afirmou que os valores eram recebidos por um homem chamado “Ricardo”. Na época, após divulgação da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre o caso, o empresário Ricardo Santa Ritta, filho de Carlos Ricardo Santa Ritta, assessor especial de Renan Calheiros no Senado, entrou em contato com a Polícia Federal para esclarecer que tinha informações sobre o Ricardo citado por Costa.
Em depoimento prestado no dia 9 de agosto, na sede da PF em Brasília, afirmou que o Ricardo procurado pelos agentes “possivelmente” seria Ricardo José Gomes da Rocha, o Ricardo Rocha, atualmente lotado como assessor especial no gabinete do governador Renan Filho.
Segundo Santa Ritta, à época da entrega das propinas, Rocha era motorista do filho de Renan Calheiros durante as eleições. Dez dias depois, Durval Costa foi novamente chamado para depor e esclarecer o caso.
A PF apresentou fotos de Rocha. O amigo de Saud confirmou o assessor especial como “a provável pessoa que lhe acompanhou na entrega dos valores em espécie destinados ao senador Renan Calheiros”, em 2014.
Ricardo Rocha foi alvo de buscas e apreensões no último dia 5 de novembro, quando a Polícia Federal foi às ruas cumprir mandados judiciais no âmbito da Operação Alaska. Segundo Durval Costa, Ricardo Rocha seria o motorista que buscou e levou propinas em espécie para Renan Calheiros em diversas ocasiões.
Na primeira delas, em Maceió, o motorista subiu até o quarto do Ibis Hotel onde Costa estava hospedado e reunido com José Aparecido Alves Diniz, ex-prefeito de Abadiânia (GO) e ex-assessor de Renan Filho, para buscar mala com R$ 600 mil.
Durval Costa destacou que Diniz havia dito que, quando ele não estivesse presente para receber os valores seria Ricardo quem pegaria o dinheiro, por ser uma “pessoa da confiança” de Renan e que poderia ter ingresso no estacionamento da garagem do prédio onde morava o senador.
Na segunda entrega, também em Maceió, Costa afirma ter entrado em contato com Ricardo Rocha, que buscou a mala com R$ 800 mil no hotel, contou as cédulas e “foi embora para entregar o dinheiro a Renan Calheiros”.
O motorista, contudo, teria solicitado que pudesse ir a Recife buscar a próxima remessa de dinheiro que estaria por vir.
A terceira ocasião foi em Recife, quando Durval Costa teria se encontrado com Ricardo Rocha e uma pessoa da confiança de André Gustavo Vieira – publicitário condenado na Lava Jato, em segunda instância, a 6 anos e 4 meses, após admitir que operou propinas para o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine.
Essa pessoa teria entregue uma mala com R$ 700 mil a Ricardo Rocha, que voltou para Maceió no mesmo dia com o dinheiro “para entregar ao senador Renan Calheiros”.
Durval Costa relatou que o modus operandi se repetiu mais duas vezes, com o “motorista de Renan” indo buscar malas com R$ 800 mil e R$ 900 mil.
Relações
A Polícia Federal chegou ao nome de Ricardo Rocha após o administrador Ricardo Santa Ritta entrar em contato com os agentes afirmando ter sido identificado por Costa como o motorista Ricardo.
Em depoimento, Santa Ritta afirmou que sua relação com Renan Calheiros tem origem no fato do pai, Carlos Santa Ritta, ter exercido cargos no gabinete do senador e exercer função de secretário-geral do MDB em Alagoas. Ricardo Santa Ritta confirmou à Polícia Federal que atuou na campanha de Renan Filho ao governo do Estado em 2014, elaborando o plano de governo e ações na área de publicidade, mas que “nunca exerceu a função de motorista ou secretário particular” do candidato.
Santa Ritta declarou que conheceu só José Aparecido Alves Diniz, ex-assessor de Renan Calheiros, em 2015, após a época dos repasses citados por Durval Costa.
Amigo do delator
Durval Costa diz ser, há 20 anos, amigo pessoal do delator Ricardo Saud, executivo do grupo J&F. Trabalhou como assessor do ex-deputado federal Aracely de Paula (PR) e também para o governo de Minas Gerais. Ele falou à PF no dia 21 de maio.
O depoimento no qual detalha as supostas entregas tem sido corroborado com respostas de hotéis e companhias aéreas à Polícia Federal em que confirmam suas estadias durante as eleições em cidades onde diz ter feito entregas.
Os depoimentos sobre repasse de propinas a Renan Calheiros destinadas à campanha de Renan Filho foram tomados no âmbito do inquérito 4707, que apura pagamento de R$ 40 milhões feitas pelo grupo Grupo J&F a senadores do MDB durante as eleições de 2014 a pedido de Mantega. A contrapartida seria garantir a “unidade do PMDB em prol da candidatura da ex-presidente Dilma Rousseff”.
Segundo o delator Ricardo Saud, da J&F, os pagamentos foram feitos por meio de “simulação da prestação de serviços e emissão de notas fiscais fraudulentas, entregas em espécie e doações oficiais”.
No dia 5 de novembro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Alaska para cumprir mandados de busca e apreensão e intimar para depôr os senadores Renan Calheiros, Eduardo Braga (MDB-AM), Jader Barbalho (MDB-PA), o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo Filho e o ex-ministro Guido Mantega (Fazenda/Dilma Rousseff).
A operação quase levou à prisão de Dilma Rousseff, solicitada pela Polícia Federal e negada pelo ministro do STF Edson Fachin. A ex-presidente classificou a ação como “estarrecedora” e “absurda” – visto que se trata de um processo a qual ela não é investigada formalmente e nunca foi chamada a prestar esclarecimentos.
Defesas
A reportagem entrou em contato com a defesa do senador Renan Calheiros e com a Secretaria de Estado do Gabinete Civil de Alagoas, para ouvir o assessor Ricardo Rocha, mas não havia obtido retorno até a publicação desta matéria. O espaço está aberto para as manifestações de defesa.
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