Nos últimos cinco anos, 11 prefeituras em Mato Grosso do Sul comandadas pelo PSDB foram alvo de operações de grupos de investigação estaduais. A mais recente foi Terenos, em 9 de setembro, que levou o prefeito Henrique Budke (PSDB) para a prisão.
Nesse período, três municípios comandados pelo PP e um liderado pelo PSD receberam agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), vinculados ao MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul).
O levantamento feito pelo Jornal Midiamax revela ainda que alguns esquemas atravessaram gestões. Ou ainda investigações seguem mesmo com a troca de comando no Executivo Municipal.
Em 2025, seis prefeituras do PSDB foram alvo de operação
Em fevereiro de 2025, o Gaeco e o Gecoc deflagraram a Operação Malebolge, em Água Clara e Rochedo. Um empresário comandava esquema que fraudou contratos que ultrapassam os R$ 10 milhões nos municípios de Água Clara, administrado por Gerolina Alves (PSDB), e Rochedo, cujo prefeito é Arino Jorge (PSDB).
Assim, as investigações apontaram que o esquema contava com pagamento de propinas a servidores para fraudar licitações, principalmente na área da educação. Mediante recebimento de propina, servidores atestavam ter recebido produtos e serviços que nunca foram realizados, além de acelerar trâmites para emissão de notas frias para acelerar pagamentos a empresários.
Já em abril, Três Lagoas foi alvo da Operação Backstage. As investigações apontam que uma empresa de Três Lagoas teria vencido sistematicamente diversas licitações para fornecimento de estruturas e equipamentos para realização de eventos e shows na cidade, desde 2022, em procedimentos com fortes indícios de irregularidades.
O prefeito à época dos contratos era Angelo Guerreiro (PSDB). Atualmente, quem administra o município é Cassiano Maia (PSDB).
Em maio, foi deflagrada a segunda fase da Operação Grilagem de Papel em Coxim, comandada por Edilson Magro (PP). Uma organização criminosa formada por servidores públicos e terceiros teria fraudado a expedição de diversas certidões de regularização fundiária de terrenos desocupados, mas com propriedade definida.
A partir dessas certidões ilegais, as propriedades eram transferidas no Cartório de Registro de Imóveis para os próprios envolvidos, seus familiares ou terceiros que pagavam propina para esta finalidade.
No mês de junho, o Gaeco voltou à Sidrolândia para cumprir a quarta fase da Operação Tromper. Esta etapa visa ao aprofundamento das investigações que miram em fraudes em licitações e contratos administrativos da prefeitura de Sidrolândia.
Voltou a ser preso Cláudio Serra Filho, o Claudinho Serra (PSDB), que foi vereador e diretor-presidente da Fundação Municipal de Esportes de Campo Grande e secretário municipal de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica de Sidrolândia na gestão de Vanda Camilo (PP).
Em julho, foi a vez de Nioaque receber agentes do Gaeco e do Gecoc. A Operação Auditus revelou que empresas de especialidades médicas cobravam da Prefeitura de Nioaque por exames que não eram realizados de fato.
Entre os alvos, estava a secretária municipal de Saúde, Márcia Jara. Ela ocupou o cargo na administração do ex-prefeito Valdir Júnior (PSDB). A investigação ainda identificou a ocorrência de fraudes em licitações com empresas da saúde, entre 2019 e 2024.
No mês de setembro, o Gaeco deflagrou a Operação Spotless, em Terenos. O prefeito Henrique Budke (PSDB) foi preso, apontado como líder da organização criminosa que fraudou licitações que ultrapassam R$ 15 milhões.
O esquema ainda pagava propina para agentes públicos que atestavam falsamente o recebimento de produtos e de serviços, bem como aceleravam os processos internos para pagamentos de contratos.
Ano de 2024 foi marcado por quatro operações
A primeira operação do ano passado foi a terceira fase da Tromper, em Sidrolândia. Em abril de 2024, a ação trouxe à tona uma nova ramificação da organização criminosa, atuante no ramo de engenharia e pavimentação asfáltica.
O então vereador de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB), chegou a ser preso, mas foi solto sob monitoramento eletrônico menos de um mês depois.
No mês de junho, a prefeitura de Douradina foi alvo da Operação Sommelier. Uma organização criminosa direcionou licitação para contratar empresa de fachada, que tinha como sede uma loja de vinhos em Campo Grande, para organizar um concurso na prefeitura de Douradina.
As investigações identificaram que houve conluio entre agentes públicos para direcionar licitação que escolheu empresa para realizar concurso público para a prefeitura comandada à época por Jean Fogaça. O objetivo era desviar dinheiro através do superfaturamento.
Em agosto, Terenos foi alvo da Operação Velatus. Na gestão de Henrique Budke (PSDB), quatro empreiteiras se revezavam para vencer licitações, repassavam dinheiro umas às outras e até mesmo faziam empréstimos para os “parceiros” darem conta de tocar obras as quais venceram licitação e, supostamente, teriam condições de executar.
Já em novembro, foi realizada a primeira fase da Operação Grilagem de Papel. Na época, o prefeito Edilson Magro (PP) disse à reportagem do Jornal Midiamax que um dos servidores suspeitos já havia sido afastado após a instauração de um procedimento disciplinar para apurar as denúncias.
Em 2023, PSDB recebeu maioria das visitas do Gaeco
A primeira fase da Tromper foi deflagrada em maio de 2023. Segundo as investigações, o esquema, que contava até com abertura de empresas de fachada, começou na cidade em 2017. Ou seja, a organização criminosa não se intimidou e atuou nas gestões de Marcelo Ascoli (PSL) e Vanda Camilo (PP).
Essa organização criminosa reunia empresários que fraudavam documentos das empresas concorrentes, para garantir que seriam as contratadas. Mesmo assim, sem estrutura, essas empresas terceirizavam os serviços pelos quais receberam milhões de reais do dinheiro público.
A gestão do ex-prefeito Marquinhos Trad, na época filiado ao PSD e hoje vereador pelo PDT, em Campo Grande foi alvo da Operação Cascalhos de Areia em junho. A investigação apontou indícios de uma suposta rede de empreiteiras nas mãos de laranjas e supostamente usadas por uma quadrilha para desviar dinheiro da prefeitura.
Os indícios colocam André Luiz dos Santos, o Patrola, no foco das investigações. Ele é apontado como verdadeiro operador das empresas investigadas. Além disso, segundo denúncia anônima que deu início às apurações, supostamente seria sócio do ex-prefeito Marquinhos Trad no esquema. O político negou.
Já em julho, Caarapó foi alvo da Operação Telonai. O vereador Aparecido dos Santos, o Cido Santos (PSDB), e o servidor Marcelo Nascimento foram investigados por desvio de impostos arrecadados pelo município comandado por André Nezzi (PSDB), no valor de R$ 2 milhões.
A princípio, a dupla agia desviando os valores dos impostos de ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis) e IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana). Cido era servidor durante o período investigado e foi condenado em janeiro de 2025.
No mesmo mês, o Gaeco voltou à Sidrolândia para a segunda fase da Operação Tromper. O desdobramento das investigações, depois da primeira fase, identificou o efetivo conluio entre empresas que participaram de licitações e firmaram contratos com a prefeitura de Sidrolândia.
Essas empresas compunham uma organização criminosa que fraudava licitações e desviava dinheiro público, e ainda pagava propina a agentes públicos, inclusive em troca do compartilhamento de informações privilegiadas da administração pública.
Em agosto, Ribas do Rio Pardo foi alvo da Operação Tangentopoli, contra um esquema de corrupção por meio de pagamento de propina do ex-prefeito José Domingues Ramos, o Zé Cabelo (PSDB), a vereadores.
Zé Cabelo foi prefeito por três mandatos. Conforme as investigações, os vereadores exigiam propina para montar uma base partidária, aprovando projetos de interesse do Executivo.
Amambai foi alvo da Operação Laços Ocultos em novembro de 2023. A investigação identificou que a organização criminosa atuava há anos fraudando licitações públicas, voltadas para contratação de empresas especializadas em obras e serviços de engenharia.
Nos últimos seis anos, os valores dos contratos ultrapassaram os R$ 78 milhões. Um relatório do Gecoc, apresentado em agosto de 2025, apontou que o ex-vice-prefeito — e ex-vereador — Valter Brito da Silva (PSDB) seria o líder da organização criminosa, que contava com participação da filha, empresários e servidores.
2022 foi marcado por uma operação contra corrupção
Em novembro de 2022, foi deflagrada a Operação Publicanos em Ivinhema. As investigações revelaram que entre os anos de 2019 e 2021, um servidor da Prefeitura Municipal de Ivinhema praticou de forma recorrente crimes de peculato e lavagem de dinheiro em prejuízo dos cofres públicos municipais.
Na época, o prefeito era Éder França Lima, o Tuta (PSDB). Ele afirmou na época não ter conhecimento da venda irregular de terrenos públicos durante a sua gestão, entre 2013 e 2020.
Por conta da pandemia de Covid-19, houve poucas operações no ano de 2021. Antes da doença impactar a sociedade, ações do Gaeco e Gecoc foram realizadas em 2020.
Em 2020, PSDB recebeu metade das visitas do MPMS
Bandeirantes foi alvo da Operação Sucata Preciosa em junho de 2020. As investigações revelaram esquema de emissão de notas fiscais frias por empresas como se estivessem prestando serviço de reparos em veículos sucateados da frota da prefeitura.
O prefeito Álvaro Urt (PSDB) teve o mandato cassado por conta da ação. Ele foi reeleito naquele ano, mas não tomou posse. Em 2024, voltou a vencer a eleição municipal, mas novamente não assumiu.
Em agosto, a Operação Gambiarra, na cidade de Dourados gerida por Délia Razuk (PP), revelou um esquema de fraudes na contratação direta para manutenção de escolas públicas.
No mês de novembro, a Operação Carta Marcada desmontou uma organização criminosa que fraudou licitações da prefeitura e da Câmara de Água Clara. Pouco depois, a gestão de Délia Razuk em Dourados foi alvo da Operação Ponto Britânico, por fraude na folha de ponto de servidores da saúde.
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(Revisão: Bianca Iglesias)