Em pouco menos de sete anos, três empresas do ramo de informática e tecnologia faturaram R$ 117,9 milhões em contratos com o governo de Reinaldo Azambuja (PSDB). As três pertencem ao mesmo grupo, cujos sócios têm atuação diversificada e negócios também nos ramos financeiro, imobiliário e de combustíveis.

De 2015 para cá, a Geoi2 Tecnologia da Informação Ltda recebeu do governo estadual R$ 69,1 milhões. A Imagetech Tecnologia em Informática Ltda garantiu R$ 40,3 milhões no mesmo período. Já a Imagetech Tecnologia em Serviços Ltda abocanhou R$ 8,5 milhões.

As três já tinham contratos no governo antes de Reinaldo assumir em janeiro de 2015. Com o tucano no Parque dos Poderes, a média dos ganhos anuais mais que dobraram.

No caso da Imagetech Informática, os R$ 2 milhões anuais entre 2012 e 2014 saltaram para R$ 5 milhões. A Imagetech Serviços passou dos R$ 507 mil por ano para uma média de R$ 1,3 milhão.

Hoje dona dos maiores contratos, a Geoi2 não recebeu recursos do governo entre 2012 e 2013. A relação da empresa com o Executivo estadual deslanchou a partir de 2017, quando ganhou R$ 5,8 milhões.

As três empresas atuam no governo do Estado com a prestação de serviços de informática, TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), segurança da informação e teleatendimento. As atividades são similares às exercidas no governo por empresas investigadas na Operação Computadores de Lama, sexta fase da Lama Asfáltica.

A reportagem do Jornal Midiamax tentou contato, durante agenda pública na segunda-feira (02), para questionar o governador Reinaldo Azambuja sobre os contratos de informática, mas o tucano não respondeu. Antes de chegar ao local, o líder do executivo estadual se blindou, avisando pela assessoria que não responderia a questionamentos que não fossem sobre o retorno às aulas. Durante a agenda, antes mesmo da pergunta ser feita por completo, Reinaldo permaneceu calado e continuou caminhando. 

Emaranhado de CNPJs com sócios em comum

Hoje, são R$ 22,2 milhões em contratos das Imagetech e da Geoi2 vigentes com (Secretaria de Estado de Fazenda), SED (Secretaria de Estado de Educação), Funsau (Fundação Serviços de Saúde de Mato Grosso do Sul) e (Departamento Estadual de Trânsito) – um deles foi aditado recentemente. Os números são todos do Portal da Transparência.

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Trecho de contrato da Imagetech assinado por Arthur Affonso de Barros Marinho – Reprodução

Ivan Abrahão Marinho e Arthur Affonso de Barros Marinho, pai e filho, são os donos das três empresas, abertas entre 2002 e 2010, em Campo Grande. Eles também administram juntos a Lotus Comércio de Combustíveis Ltda.

O emaranhado de CNPJs é ainda mais extenso. Ivan também é sócio na Imobiliária Dimensão Ltda e tem três holdings – a IM Participações Eireli, a AM Participações Eireli e a IAM Participações Eireli Ltda. Somados, os capitais sociais das três empresas chegam a R$ 26 milhões. Arthur é sócio do pai na AM.

As empresas de informática não foram sempre de Ivan e Arthur Affonso. A entrada do pai na sociedade de Imagetech Tecnologia em Informática se deu em janeiro de 2018, por exemplo.

Já no caso da Imagetech Tecnologia em Serviços, quem figurava no quadro societário antes de Ivan Abrahão Marinho era Reinaldo de Andrade Silva. Reinaldo hoje é proprietário da Bluetrix Tecnologia Ltda, com sede em Santana do Parnaíba (SP).

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Em outro contrato, quem assina pela Imagetech é Ricardo Souza de Andrade – Reprodução

No fim do ano passado, a Bluetrix fechou contrato com a (Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul) para desenvolver aplicativo de vagas de emprego. Fechado em R$ 2 milhões, o vínculo já foi aditado para R$ 3,1 milhões.

A contratação, feita sem licitação, usou recursos carimbados para o combate à pandemia de covid-19.

Os contratos mais recentes das Imagetech e da Geoi2 são assinados por Ricardo Souza de Andrade. Ele já figurou como sócio da Souza & Andrade Ltda, a Carimfor, empresa de Campo Grande do ramo de fabricação de artigos para escritório e gravação de carimbos.

Em nota à reportagem, o grupo Imagetech afirmou que “atua no mercado de tecnologia há mais de 18 anos, possuindo mais de 250 colaboradores, referência em seu segmento, no mercado privado e público, sempre prezando pela transparência e lisura nas suas operações”.

“Os sócios também atuam no ramo de combustíveis e imobiliário há mais de 30 anos. O grupo não é e nunca foi objeto de qualquer investigação, segue as regras de compliance e os contratos em vigor com o Poder Público sempre foram fiscalizados, atestados e cumpridos fielmente, e podem ser acessados no Portal da Transparência”, completou.

Contratos do Governo de MS no setor de informática: alvos de operação da PF  

Deflagrada em 2018, a Operação Computadores de Lama mirou suspeitas de superfaturamento, sobrepreço e direcionamento de licitações do governo estadual na área de informática e TIC. A investida cumpriu mandado de prisão contra o empresário João Roberto Baird, apontado como dono de um conglomerado de empresas do ramo com vínculos com o governo – Itel Informática, PSG Tecnologia Aplicada, Digitho Brasil Soluções em Software, atual Digix, e Mil Tec Tecnologia da Informação. Suposto “testa de ferro” de Baird, Antônio Celso Cortez também acabou detido na ocasião.

Suspeitas de favorecimento em licitação, desvio de recursos públicos e corrupção pairam sobre contratações de empresas de informática no governo estadual pelo menos desde 2013, ano em que foi sancionada a Lei 4.459/2013. A norma extinguiu do plano de cargos e carreiras do Estado as funções de Analista de Tecnologia da Informação e de Técnico da Tecnologia da Informação, o que abriu espaço para terceirização do serviço.

TAC prevê fiscalização maior sobre contratos de informática

Apesar de todos os indícios levantados nas investigações da Polícia Federal, regionalmente os contratos de informática foram alvo de um acordo entre o MPMS (Ministério Público Estadual) e o Governo do Estado em junho de 2020. Com o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), ficou prometida “maior fiscalização e lisura nos processos de compra e contratação de empresas na área de Tecnologia da Informação”.

Os contratos sob a alçada do termo giram em torno dos R$ 400 milhões anuais. De acordo com o Ministério Público, o acordo “prevê maior rigidez e transparência”.

(Colaborou Mayara Bueno).