Após aplicar golpe de R$ 300 mil, garagista quer ressarcir vítimas e se entregar à Justiça
Genival Siqueira, acusado de vender carros em sua garagem e não repassar o dinheiro aos donos, disse estar “envergonhado” com o que fez e disposto a vender a casa para quitar as dívidas
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Genival Siqueira, acusado de vender carros em sua garagem e não repassar o dinheiro aos donos, disse estar “envergonhado” com o que fez e disposto a vender a casa para quitar as dívidas
O ex-garagista Genival Siqueira, 61, tido como foragido da Justiça por chefiar uma quadrilha que teria aplicado golpes de R$ 300 mil, conta presumida, em ao menos 22 clientes de sua empresa, a Siqueira Automóveis Ltda, já fechada, disse estar disposto a vender seu “único bem”, um imóvel, para quitar as dívidas com as vítimas que teriam sido trapaceadas por ele.
O ex-dono de garagem garantiu nesta manhã, ao Midiamax, que se entrega “nos próximos dias”. Ele é acusado de vender carros a terceiros e não repassar o dinheiro aos donos.
Entre 2006 e 2007, a quantia devida hoje por Siqueira era a mesma soma de seu limite em conta bancária, disse ele, que possuía um patrimônio calculado em R$ 2 milhões. Ele afirmou que hoje em dia vive de “favores” de amigos e que até a roupa que veste teria sido doada a ele.
Quanto à questão de se entregar à Justiça, ele sabe que o gesto não suavizaria sua implicação judicial. “A chance dele se apresentar e ficar preso é de 99%”, afirmou o advogado Alberto Gaspar Neto, defensor de Siqueira. “Estou envergonhado”, afirmou o acusado.
O garagista, a mulher, duas filhas e uma irmã dele foram detidos entre o fim de abril e início de maio do ano passado por formação de quadrilha e estelionato, segundo denúncia proposta pelo MPE (Ministério Público Estado).
O empresário fugiu quando sua família fora presa pelo Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo). Ele se entregou depois e amargou 12 de prisão. A Justiça mandou soltá-lo, mas o MPE recorreu e, por ordem do TJ-MS (Tribunal de Justiça) de Mato Grosso do Sul, ele deve retornar à prisão.
A prisão deveria ocorrer na primeira semana deste ano, segundo o defensor, que tentou revogar a medida, mas não conseguiu. Gaspar Neto entrou com pedido de habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de Justiça), corte que ainda não examinou o recurso.
O advogado acha a apresentação de Siqueira “quebra a necessidade da prisão preventiva imposta ao dono de garagem. “Pra mim ele não é um foragido e, sim, não localizado”, acredita Garpar Neto.
A ideia de Siqueira é vender o imóvel onde mora, avaliado, segundo ele, em R$ 400 mil, dinheiro que poderia ser rateado entre as vítimas.
Ocorre que a casa está penhora por força de um processo contra o ex-garagista que corre na 15ª Vara Cível de Campo Grande desde maio de 1999. Uma multa de trânsito teria motivado essa questão, segundo Siqueira. Ainda que permitido o ressarcimento, o ex-garagista não se livraria da acusação por estelionato e formação de quadrilha.
O caso
Segundo investigação do Decon, Siqueira teria aplicado golpes em ao menos 22 pessoas em Campo Grande entre os anos de 2008 e 2009. Os clientes da garagem ou levavam prejuízo ao deixar o veículo para ser vendido ou quando compravam um veículo.
Num dos casos o cliente deixou dois veículos para vender na empresa de Siqueira. Como o negócio não foi fechado, o dono dos carros resolveu trocá-lo por outro veículo, que seria da garagem.
Acontece que o carro era financiado e, para quitá-lo, restava pagar parcelas no valor de 19 mil. Pelo combinado, Siqueira era quem devia assumir o compromisso, o que não aconteceu. Pior: o carro financiado não era da garagem e, sim, de outro cliente que havia deixado o carro lá para que fosse vendido. Desfecho da trama: os dois clientes foram trapaceados.
Motivo dos golpes
Genival Siqueira disse que sua empresa enfrentou problemas financeiros a partir de 2008, período do que ele chamou de “crise economia mundial”, daí as complicações financeiras com os clientes.
Ele, que na década de 70 era um policial civil, disse que além da crise mundial, se afundou na desgraça econômica por que era um “ser intemperante [pessoa que age por impulso].
Siqueira disse que no período da acusação, ele havia abandonado a condição de fiel da Igreja Adventista, razão pela qual “vivia sem equilíbrio, em festividades, tinha problemas com sono, amizades” e, por conta disso, “caiu no sedentarismo” que fez com que ele virasse um dependente de cigarros, bebidas e farras.
“Fiquei com a mente destruída, queria morrer. Parecia o fim de tudo, tinha ódio até do meu trabalho”, narrou Siqueira ao Midiamax, nesta manhã.
Depois de enfrentar os embaraços judiciais, Siqueira voltou a freqüentar a igreja. “Estudei a mente, corpo, alma e espírito”, disse ele que, durante a entrevista repetia escritos da bíblia, como o capítulo 12, versículo 2, que diz: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.
Em seguida, afirmou o ex-dono de garagem que já foi dono de 72 carros: “Devo ser penalizado pelos meus atos, sei que vou sofrer com a retenção de minha liberdade, mas faço isso por estar envergonhado dos meus processos, por ter sido soberbo”.
Sequestro
A empresa de Siqueira era uma das pioneiras do ramo em Campo Grande. Ele disse ter aberto o negócio no dia 2 de fevereiro de 1982. “Fui o primeiro a promover leilões de carros aqui na cidade”, gaba-se.
Por conta do golpe, Siqueira disse que no ano passado sofreu um sequestro-relâmpago e recebeu ameaças de morte. Ele só foi libertado quando trocou objetos seus pela dívida cujo valor não recorda.
”Não quero justiça vingativa, queremos justiça, apenas”, disse Gaspar Neto, ao ouvir o relato do ex-garagista.
Quando detido, o ex-garagista afirmou que pesava 90 kg, 25 kg a mais do peso de hoje. Ele disse ter emagrecido com a ajuda de um livro que o ensinou a se alimentar, o “Saúde com Sabor”.
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