Medidas preventivas podem evitar 90% dos acidentes com crianças

No Dia Nacional de Prevenção de Acidentes com Crianças e Adolescentes, celebrado hoje (30), especialistas alertam que 90% desses casos que resultam em morte e internação poderiam ser evitados com atitudes simples. A Rede Primeira Infância e a organização não governamental (ONG) Criança Segura lançaram um relatório sobre prevenção de acidentes na primeira infância (até […]

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No Dia Nacional de Prevenção de Acidentes com Crianças e Adolescentes, celebrado hoje (30), especialistas alertam que 90% desses casos que resultam em morte e internação poderiam ser evitados com atitudes simples. A Rede Primeira Infância e a organização não governamental (ONG) Criança Segura lançaram um relatório sobre prevenção de acidentes na primeira infância (até 9 anos), levando em conta dados de 2012 do Datasus.

Principal causa de morte com crianças a partir de 1 ano de idade no Brasil, os acidentes nessa faixa etária foram responsáveis por 3.142 mortes e mais de 75 mil hospitalizações de meninos e meninas, naquele ano. Os acidentes de trânsito, que incluem atropelamentos e atingem passageiros de veículos, motos e bicicletas, representaram 33% das mortes, seguidos de afogamento (23%) sufocamento (23%), queimaduras (7%) e quedas (6%). Os atendimentos em hospitais passam a contar a partir de 24 horas de internação, ou seja, não são típicos de prontos-socorros.

“Existem políticas públicas que podem ser estabelecidas para prevenção, uso de produtos mais seguros e treinamento em primeiros-socorros, por exemplo, mas é uma situação que só pode ser revertida por cada um, adequando os ambientes das casas, usando a cadeirinha, brincando em espaços seguros”, destaca a coordenadora nacional da ONG Criança Segura, Alessandra Françoia. “São atitudes simples, mas que precisam fazer parte do dia a dia.”

Para a médica Renata Dejtiar Waksman, do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), todos os atores sociais são responsáveis pelas crianças, e o trabalho de prevenção tem que começar já no consultório do obstetra, com a chamada prevenção primária.

“As pessoas subestimam a criança, acham que ela não consegue fazer as coisas, não consegue colocar o dedo na tomada, não consegue rolar da cama, acham que ela não é capaz disso. Falta conhecimento das características e habilidades das crianças, além da falta de supervisão e a distração dos cuidadores”, ressalta Renata.

Análises feitas com base no estudo mostram que alguns elementos estão ligados ao aumento da exposição das crianças aos riscos de acidentes. Entre eles, está a falta de informação, de infraestrutura adequada, de espaços de lazer, creches e escolas e de políticas públicas direcionadas à prevenção. Fatores como a pobreza, o fato de a mãe ser solteira e jovem e ter baixo nível de educação e as habitações precárias, além das famílias numerosas, também estão associados aos riscos de acidentes.

A pediatra Renata Waksman diz que é preciso encarar o problema como uma epidemia. “Acidentes podem ocorrer em todos os níveis sociais. Aquela criança que tem acesso direto à rua corre risco, mas a outra, que mora em um condomínio, pode ser atropelada na porta da garagem. Infelizmente, [o risco de acidente] está se tornando uma situação muito democrática”.

O relatório mostra ainda que, a cada morte, mais quatro crianças ficam com sequelas permanentes, capazes de gerar consequências emocionais, sociais e financeiras na família e na sociedade. De acordo com o governo brasileiro, cerca de R$ 70 milhões são gastos na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) com o atendimento de crianças que sofreram acidentes.

“O queimado é um paciente caríssimo, por exemplo. Precisa de muito tempo de internação, várias cirurgias reparadoras e estéticas. Os custos social e econômico são muito grandes, sem contar o custo emocional para as famílias”, enfatiza a presidenta do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP, Marislaine Lumena.

Para ela, os acidentes com crianças são um grave problema de saúde pública. “A criança é curiosa, não tem noção do perigo, ela explora os ambientes e se expõe ao risco. Além da mudança de comportamento e das medidas educativas e legislativas, é preciso mais fiscalização das leis”, recomenda. Marislaine cita como exemplo o álcool líquido e os andadores infantis, que tiveram a venda proibida, mas que, segundo ela, continuam sendo comercializados livremente.

Veja abaixo dicas de como diminuir os riscos no dia a dia:

Na Rua

– Ensine a criança a respeitar os sinais de trânsito, atravessar a rua na faixa de pedestres e olhando para os dois lados.

– Menores de 10 anos não devem atravessar a rua sozinhos. É importante segurar os pequenos pelo pulso.

– Entradas de garagens, quintais sem cerca ou estacionamentos não são seguros para brincadeiras.

No Trânsito

– Crianças com menos de 10 anos devem sentar no banco de trás do carro. Até os 7 anos, é importante usar cadeirinhas de segurança adequadas à idade e ao peso da criança. Sempre usar cinto de segurança.

– Não deixe a criança sozinha no carro, mesmo que o vidro esteja entreaberto.

– Ao contratar transporte escolar, busque referências e verifique a documentação do veículo e do motorista.

Nas Áreas de Lazer

– Escadas, sacadas e lajes não são lugares para brincar.

– No parquinho, verifique se os equipamentos são apropriados à idade da criança e fique atento a perigos como ferrugem, pregos expostos e superfícies instáveis.

– O piso deve absorver o impacto e ser de como grama, emborrachado ou areia.

– Ensine regras de comportamento, como não empurrar, nem se amontoar.

– Empinar pipa só em lugares abertos, longe de fios elétricos e trânsito.

– Ensine a criança a usar capacete quando estiver de bicicleta, skate ou patins.

– Conheça as plantas de sua casa e remova as venenosas.

Na Piscina

– As crianças devem sempre ser supervisionadas por um adulto quando estiverem próximas de água.

– Instale cercas de isolamento na piscina com, no mínimo, 1,5m de altura, cadeados e travas.

– Evite brinquedos e outros atrativos próximos a piscinas e reservatórios de água.

– Boias e outros equipamentos infláveis passam uma falsa sensação de segurança. O ideal é que a criança use sempre um colete salva-vidas em embarcações ou na prática de esportes aquáticos.

– Ensine a criança a não brincar de empurrar, dar “caldo” dentro d’água ou simular que está se afogando.

Em Casa

Quarto

– Crianças com menos de 6 anos não devem dormir em beliches. Se não houver escolha, coloque grades de proteção nas laterais.

– Nunca deixe um bebê sozinho em mesas, camas ou outros móveis, mesmo que seja por pouco tempo.

– As grades de proteção do berço devem estar fixas. O vão entre as grades não deve ter mais que 6 cm de distância.

– Remova do berço todos os brinquedos, travesseiros e objetos macios quando o bebê estiver dormindo.

– Certifique-se de que os brinquedos da criança são atóxicos e indicados à idade dela. Compre produtos com o selo do Inmetro.

– Inspecione os brinquedos regularmente em busca de danos.

– Brinquedos com correntes, tiras e cordas com mais de 15cm devem ser evitados.

– Fique atento ao recall de brinquedos com problemas ou defeitos.

– Deixe o chão livre de objetos pequenos como botões, bolas de gude, moedas e tachinhas.

Sala

– Instale grades ou redes de proteção nas janelas, sacadas e mezaninos. As redes devem ter espaços de no máximo 6cm.

– Use portões de segurança no topo e na base das escadas e, caso sejam abertas, instale redes de proteção.

– As tomadas devem estar protegidas por tampas apropriadas, esparadrapo, fita isolante ou mesmo cobertas por móveis.

– Mantenha camas, armários e outros móveis longe das janelas e cortinas e verifique se estão estáveis.

– Cuidado com as quinas dos móveis.

Cozinha

– Corte os alimentos em pedaços bem pequenos na hora de alimentar a criança.

– Não deixe fósforos, isqueiros e outras fontes de energia ao alcance dos pequenos.

– Mantenha a criança longe da cozinha e do fogão, principalmente durante o preparo das refeições.

– Cozinhe nas bocas de trás do fogão e sempre com os cabos das panelas virados para trás.

– Evite carregar as crianças no colo enquanto mexe em panelas no fogão ou manipula líquidos quentes.

– Não use toalhas de mesa compridas.

Banheiro

– Cuidado com pisos escorregadios, coloque antiderrapante nos tapetes.

– Conserve a tampa do vaso sanitário fechada ou lacrada com dispositivo de segurança ou mantenha a porta do banheiro trancada.

– Nunca deixa a criança sozinha na banheira.

– Saiba quais produtos domésticos são tóxicos. Produtos comuns, como enxaguantes bucais, podem ser nocivos se a criança engolir em grande quantidade.

– Mantenha medicamentos trancados e nunca se refira a eles como ‘doce’. Isto pode levar a criança a pensar que não é perigoso ou que é agradável de comer.

Área de Serviço

– Não deixe as crianças por perto quando estiver passando roupa, nem largue o ferro elétrico ligado sem vigilância.

– Mantenha cisternas, tonéis, poços e outros reservatórios domésticos trancados ou com proteção.

– Deixe os baldes com água no alto, longe do alcance das crianças, esvazie todos após o uso e guarde-os virados para baixo.

– Guarde todos os produtos de higiene e limpeza trancados, fora da vista e do alcance das crianças.

– Nunca deixe sacos plásticos ao alcance das crianças.

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