Sobrevivente a tentativa de feminicídio, mulher diz que ex-esposo era ciumento, mas réu nega separação

Rafael Ramos Pereira é julgado por matar suposto namorado da ex-esposa e por tentar matá-la

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Rafael Ramos Pereira – (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

Mais de dois anos após matar Marcos Vinicius Moreira da Costa, de 23 anos, e tentar assassinar a ex-esposa, Rafael Ramos Pereira, de 30 anos, enfrenta o júri popular na manhã desta quarta-feira (2). O crime ocorreu em uma residência no jardim Centro Oeste e o acusado ficou mais de cinco meses foragido antes de ser preso.

A ex-esposa e vítima da tentativa de feminicídio foi a primeira a ser ouvida nesta manhã. Aos jurados, disse que ela e Rafael estavam separados devido a traições dele. Inclusive, afirma que havia medidas protetivas contra ele, por ameaças de morte, mas que ambos conviviam normalmente para criarem os três filhos, de 3, 8 e 11 anos na época dos crimes, juntos.

No dia do crime, Lidiane e Rafael já haviam discutido. Isso porque, conforme relato da vítima, Rafael não aceitava o fato da ex-esposa sair de casa. “Ele me chamava de vagabunda, dizia que eu não era uma boa mãe”, relata. O acusado, inclusive, chegou a ir até a casa da ex-esposa para deixar os filhos. Os dois brigaram e ele saiu do local com as crianças.

Lidiane, então, convidou uma amiga dela para tomar cerveja. A amiga, por sua vez, convidou Marcos, colega de trabalho delas. “Por volta da 1h, eu já tinha tomado alguns alcoólicos e depois tomei uma bebida que me deixou desorientada, então pedi para o Marcos me levar embora”, explica.

Ex-esposa relembra dia do crime – (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

Os dois foram de carro de aplicativo até a casa de Lidiane, que o convidou para dormir no local por medo de Marcos voltar, uma vez que o réu já havia a ameaçado de morte no dia. “Falei para ele dormir no sofá, mas estava quebrado. Então, disse para ficar na cama das crianças, que estava cheia de roupa. Aí disse para ele escolher onde iria dormir, porque eu iria deitar. Foi aí que ele deitou do meu lado, mas não fizemos nada aquela noite”.

Mais tarde, Rafael, que tinha a chave de casa, entrou na residência e esfaqueou ambos. A vítima conta que acordou com o grito de Rafael a chamando. “Acho que ele achava que tinha me matado. Nisso eu já tinha sido esfaqueada quatro vezes. Quando acordei, ele me deu mais uma facada”.

A vítima conseguiu empurrar o ex-marido para fora de casa e foi acolhida por uma vizinha. “Ela me colocou sentada em uma cadeira e eu já estava toda ensanguentada, mas para mim eu só levara uma facada. Quando o Samu chegou, eu já estava quase sem vida”, relembra.

A vizinha em questão também foi ouvida e explicou que, na noite dos crimes, saiu da residência para fechar o registro de água quando ouviu “gritos abafados”, como se a vítima estivesse dentro de casa.

Relacionamento conturbado

O réu, por sua vez, negou que o casal estivesse separado, mas sim vivendo “um relacionamento conturbado pós-Covid”. “Perdemos muitas pessoas importantes para nós durante a Covid. Ficamos bastante abalados e passamos a beber e brigar”.

No dia do crime, afirma que passou a tarde com a mãe, por ser uma sexta-feira Santa. À noite, voltou para casa com os filhos, mas brigou com a ex-esposa. “Meu filho disse para irmos embora porque a mãe estava dando nojo, disse com essas palavras”, afirma.

O homem, então, retornou para a mãe dele com as crianças. Quando foi dormir, a filha deles teve crises epiléticas e o réu afirma ter tentado ligar para Lidiane, que não atendia e chegou a desligar o celular.

Réu escuta relato de testemunhas – (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)

Por volta da meia-noite, foi até a casa deles e entrou pela porta da cozinha. Nesse momento, viu uma camisa de time de futebol no sofá e imaginou ser do cunhado. “Até questionei se ele teria ido para lá sem ninguém avisar”. Depois, relata ter ouvido conversas dentro do quarto. Ele foi até o cômodo, mas afirma que não conseguiu abrir a porta, pois estavam segurando.

Ele, então, passou a forçar a porta e desferiu um soco, que quebrou o objeto. Ele foi até a cozinha, pegou a faca e conseguiu entrar no quarto. No cômodo, entrou em luta corporal com Marcos e com a ex-esposa. “Não vou mentir, vou contar o que realmente aconteceu, porque estou cansado de mentiras. Vou pagar o que for para pagar. Não vejo a hora de conviver com meus filhos”.

Disse, também, que nem nos seus piores pesadelos imaginou tirar a vida de alguém. Rafael Ramos Pereira responde por homicídio e tentativa de homicídio, qualificados por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima, além de feminicídio. Contudo, nega as qualificadoras.

“Boa pessoa e trabalhador”

Além dessa vizinha, outros três moradores do mesmo condomínio onde o casal residia também foram testemunhas da defesa. A segunda vizinha afirma que Rafael era um “bom homem, trabalhador e ótimo pai”.

Sangue da vítima na calçada do residencial – (Foto: Leonardo França, Aquivo, Midiamax)

Ela afirma que, na época dos fatos, havia conseguido vaga na creche para um dos filhos do casal, então, pediu para que eles comparecessem em uma reunião política, na qual os dois foram vistos juntos dois dias antes do crime. Outra vizinha, ouvida como terceira testemunha, também relata a aparição conjunta de réu e vítima nessa reunião.

Na época do fato, em abril de 2022, o Jornal Midiamax conversou com moradores do condomínio onde vivia o casal, que relataram não saber da separação. Ainda, disseram não conhecer Marcos Vinicius. O relato é de que o autor do crime era muito ciumento e que as discussões e agressões eram frequentes.

Consequências

As sequelas das facadas impactaram – e muito – a vida da ex-esposa. Aos jurados, explicou que um dos golpes foi no estômago, o que a levava a ter dores fortes.

Ainda, explica ter ficado cinco dias internada e 1 ano sem trabalhar, em decorrência das consequências da tentativa de feminicídio. “Agora eu moro do lado da casa da minha mãe, ela me dá um suporte. Eu casei de novo e ele me ajuda bastante, mas enquanto isso era eu, minha mãe e minha irmã”, relata. Também precisou fazer terapia pelo trauma. “Tinha medo por conta do que aconteceu”.

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