Ainda anestesiados pela dor da perda da pequena Sophia OCampo, morta aos 2 anos, em janeiro deste ano, quando sofreu vários abusos e foi agredida, o pai afetivo da menina agradeceu e repostou um vídeo recriado pela IA (Inteligência Artificial).

Nas imagens, a própria Sophia é recriada e relata com detalhes como acabou morrendo. O padrasto e a mãe da menina estão presos.

Na sua rede social, o pai afetivo fala da dor da perda que já completou mais de 5 meses e da luta para que o crime não fique impune. “Fazem 5 meses que perdemos nossa filha da pior forma possível. A homofobia venceu, a falta de amor por parte da genitora que deveria cuidar e zelar pelo bem mais precioso. Juntamente com o padrasto que nunca amou de verdade e não merece nem ser chamado de ‘pai’. Hoje, eu que sou pai afetivo de Sophia e meu marido, pai biológico, lutamos para que os autores e coautores paguem pelo e sejam punidos severamente.”

No vídeo, foi recriada uma menina com características parecidas com a de Sophia, onde a Inteligência Artificial narra o que aconteceu até a sua morte. Os maus-tratos sofridos pelo padrasto e pela mãe, que deveria cuidar dela. 

O médico legista que fez a autópsia da menina contou durante a segunda audiência do caso, que não restavam dúvidas dos abusos sofridos pela criança.  Em seu depoimento, o médico é categórico ao falar que Sophia morreu ainda na manhã do dia 26 de janeiro, e que o que aconteceu com Sophia não foi acidente.

Assista ao vídeo:

Inteligência Artificial

Os vídeos são recriados pela Inteligência Artificial com mais de 32 mil seguidores. Algumas histórias são narradas pelas vítimas e outras pelos próprios assassinos. Outros cinco perfis também recriam fatos com a Inteligência Artificial. A técnica é idêntica a do app viral Wombo, que faz pessoas retratadas em fotos cantarem. As deep fakes reais são feitas depois de milhares de imagens alimentarem um modelo de inteligência artificial, que se torna capaz de gerar réplicas digitais da imagem de alguém.

Laudo chocante

O Midiamax teve acesso com exclusividade aos depoimentos do dia 26 de maio que foram prestados por testemunhas, e inclusive pelo médico legista, que durou cerca de 48 minutos. Durante o depoimento, ele afirmou não ter dúvidas sobre o que aconteceu com Sophia. Em seu depoimento, o médico é categórico ao falar que Sophia morreu ainda na manhã do dia 26 de janeiro, e que o que aconteceu com Sophia não foi acidente.

A mãe de Sophia a levou ao posto de saúde por volta das 16 horas do dia 26 de janeiro, dizendo que a filha estava viva e que, durante o trajeto, a teria mordido na boca. Mas ao chegar à unidade de saúde, as médicas que atenderam a criança afirmaram que ela já estaria morta há pelo menos quatro horas.

O médico relatou que a autópsia no corpo de Sophia começou às 9h30 do dia 27 de janeiro e que a criança já estava morta há pelo menos 24 horas antes do exame, portanto, Sophia morreu na manhã do dia anterior. 

Ainda segundo o depoimento do médico, o trauma raquimedular foi a causa da morte e, no caso da Sophia, um trauma de grande energia para a condição física de uma criança de 2 anos e 7 meses. Mas, o médico diz que não foram encontradas costelas quebradas na criança. O médico ainda disse que Sophia agonizou até a morte. 

Quando questionado sobre o trauma sofrido por Sophia, na medula, o médico explica o caso. “Não é uma simples queda que provocou o trauma, um simples acidente, foi usada uma força grande provocada por um adulto”, fala o médico.

Abusos sexuais

Em relação aos abusos que Sophia teria sofrido, o médico legista afirmou que a criança sofreu abuso de 1 a 2 dias antes da morte e também pelos exames feitos havia uma cicatrização de cerca de 21 antes da morte.

O médico ainda relatou que o abuso pode ter sido cometido por manipulação do local. Ainda segundo o legista, havia indícios de violência sexual passada e atual em Sophia.

Perita do caso Nardoni

A defesa que atua para o pai da pequena Sophia OCampo, morta aos 2 anos, em Campo Grande, em janeiro deste ano, teve o caso analisado pela perita Rosângela Monteiro, que atuou no caso Nardoni em 2008. 

O Jornal Midiamax conversou com a perita que confirmou ter feito uma consultoria para a defesa do caso Sophia. Ela analisou o material enviado pela advogada do pai de Sophia, Janice Andrade. Em seu parecer, Rosângela é clara ao afirmar que a menina foi abusada inúmeras vezes. 

Confira o trecho do parecer feito pela perita em São Paulo e que o Jornal Midiamax teve acesso com exclusividade:

“A violência sexual foi claramente identificada pelo rompimento de hímen, a heperemia em partes da vagina e esquimoses na face interna das coxas, e o rompimento do hímen já estava cicatrizado, portanto fora realizado em data anterior da morte da vítima”, diz parte da análise feita. 

Em outro trecho a perita conclui que: “Há muito tempo essa menina sofria abusos. A ausência de esperma não significa que o suspeito [padrasto] não tenha sido o autor. Ele pode perfeitamente ter usado preservativo, pode ter sido utilizado qualquer outro objeto por ele, pela mãe ou por outrem, já que o esperma de outro homem foi constatado em uma colcha encontrada no local”. 

Rosângela ainda é enfática ao afirmar que a ausência de esperma nos exames periciais, não quer dizer que não houve crime. “Na sequência, realiza o exame de DNA tanto na amostra em que foi realizado o exame de esperma. O resultado foi ausência de esperma e presença somente de material biológico da vítima nas duas amostras, tanto na que foi realizado exame de esperma como na que não foi”, conclui a análise.

“Veja, o exame de DNA é super sensível. O fato da pesquisa de esperma ter dado negativo, não quer dizer que não houve manipulação no local. Poderia conter a pele do agressor se ele manipulou o local”, fala a análise da perita. 

Segundo a advogada contratada pelo pai de Sophia, a análise da perita do caso Nardoni ainda não foi anexada ao processo, já que ainda estão à espera da oitiva do perito que atendeu ao caso, e logo após isso será feito o pedido formal para que o parecer de Rosângela Monteiro faça parte oficialmente do processo.