Um freezer é aberto e, dentro dele, junto a salgados e carnes congeladas, a revelação de um crime aterrorizante: uma mulher matou, esquartejou e congelou partes do corpo do marido. Seguindo traços semelhantes de crueldade, dois jovens tiram a vida de um jogador de futebol, de apenas 19 anos, também esquartejando-o e espalhando os restos mortais em um rio de uma pacata cidade.

Essas histórias, que mais parecem sinopses de filme de terror, relatam crimes brutais ocorridos em 2023, em pequenas cidades de Mato Grosso do Sul, e integram a lista nefasta de mais de 400 homicídios ao longo do ano.

Difícil eleger o crime mais bárbaro. Afinal a dor de cada família, que perdeu uma pessoa querida, não pode ser mensurada, ou mesmo comparada. Mesmo assim, o impacto midiático de alguns deles fazem as tragédias serem içadas a uma espécie de outdoor social. Vidas precocemente interrompidas que se tornam assunto, chamam atenção pela crueldade e trazem questionamentos sobre o que é humanidade.

Além do “Caso Sophia”, que ganhou uma retrospectiva à parte, outros quatro tiveram enorme repercussão, noticiados em todo o Estado e além dele.

Marido envenenado e esquartejado

O ano não havia chegado a metade quando a população da pequena Selvíria – cidade com cerca de 7 mil habitantes, localizada a 399 quilômetros de Campo Grande – entrou em choque com a notícia de que uma idosa, de 61 anos, conhecida pelos locais por fazer e vender salgados, havia matado e esquartejado o marido, com quem era casada há dois anos. O crime aconteceu no dia 22 de maio.

Antônio Ricardo Cantarin, de 64 anos, morreu depois de ingerir veneno de rato – oferecido a ele pela esposa, pensando que fosse remédio. Após perceber que o marido estava morto, verificação que era feita a cada 10 minutos após o envenenamento, a mulher esquartejou a vítima e colocou partes do corpo em um freezer onde também deixava os salgados que ela vendia. O restante foi colocado em uma mala e deixado às margens de uma rodovia.

As investigações apontaram que o homem agonizou por cerca de 8 horas até o momento da morte. À polícia, a mulher disse que era maltratada por ele. Ela foi presa, admitiu o crime e detalhou que conseguiu desmembrar o corpo por ter experiência em matar porcos.

Jogador de futebol morto, esquartejado por ex e amigo

Corpo de Hugo foi espalhado pelo Rio Iguatemi (Foto: Reprodução)

Em julho, a pacata Sete Quedas, cidade localizada a 467 quilômetros de Campo Grande, estampou manchetes dos principais jornais do Estado e de fora dele.

A repercussão, infelizmente, foi provocada pela descoberta de um crime brutal que acabou com a vida de um jogador de futebol. Hugo Vinícius Skulny tinha apenas 19 anos quando foi morto a tiros.

O corpo do rapaz foi esquartejado com duas serras elétricas, uma delas usada por açougueiros. Depois foi espalhado pelo Rio Iguatemi, localizado a menos de 100 quilômetros de onde o jovem foi assassinado. O crime veio à tona em 2 de julho, dias após ele ser visto pela última vez em uma festa realizada no dia 25 de junho.

As investigações apontaram que o crime foi premeditado. A ex-namorada de um Hugo e um amigo foram presos sob acusação de homicídio que dificultou a defesa da vítima, ocultação de cadáver e fraude processual.

Médico é morto a mando de comparsa em golpes de estelionato

Médico foi encontrado morto em casa alugada por assassinos (Reprodução e Marcos Morandi, Midiamax)

Na manhã do dia 3 de agosto, em Dourados – 3ª maior cidade de Mato Grosso do Sul, localizada a 225 quilômetros de Campo Grande – vizinhos de uma casa recém- alugada, sentiram um estranho odor e acionaram a Polícia.

Ao entrarem no local, os policiais encontraram o jovem médico Gabriel Paschoal Rossi, de 29 anos, estrangulado. A vítima era do Estado do Rio Grande do Sul e havia se formado há poucos meses quando teve a vida interrompida.

O corpo já apresentava sinais de putrefação, que indicaram que ele estivesse morto há mais de 3 dias. As mãos e pés do médico – que atendia a população em Unidades de Pronto Atendimento e no Hospital da Vida, um dos principais hospitais de Dourados – estavam amarrados com fios de telefone e de carregadores de celular. A cena perturbadora apontava indícios de que havia muita história por trás daquele crime.

As investigações logo revelam que Gabriel estava envolvido em um grande esquema de estelionato, no qual ele usava dados de pacientes mortos e repassava para a quadrilha que realizava aberturas de contas, saques e até mesmo empréstimos. Durante o inquérito, a Polícia descobre que ele foi morto após cobrar R$ 500 mil de Bruna Nathalia de Paiva, uma de suas comparsas.

Conformes as investigações, a mulher planejou o crime e ofereceu R$ 50 mil para cada um dos homens que participou do assassinato do médico. Bruna, Augusto Santana, Keven Rangel Barbosa e Gustavo Kenedi Teixeira, foram presos no dia 7 de agosto em uma cidade do interior de Minas Gerais.

Mãe é morta por marido na frente dos filhos

Mikaela foi morta em casa pelo marido (Arquivo pessoal)

Um áudio de apenas 14 segundos, enviado na manhã do dia 8 de setembro, confessa um crime de feminicídio ocorrido na pequena Anastácio, cidade com pouco mais de 24 mil habitantes, a apenas 134 quilômetros de Campo Grande.

“O negócio é o seguinte, peguei a Mikaela me traindo com o ****. Eles já estavam há quatro meses juntos. Quando eu tava trabalhando, eles tavam de sacanagem lá e eu fiz merda, tá?! Tô avisando você, pra você ir lá ver o corpo”.

A mensagem foi enviada para o padrasto da vítima Mikaela Oliveira Rodrigues, de 22 anos. A mulher era mãe de duas crianças pequenas. Os filhos foram levados para o carro. Enquanto dormiam dentro do veículo, o pai deles, Juliano Azevedo, tirava a vida da jovem dentro do banheiro, na casa onde a família morava.

Depois de matar a mulher ele fugiu com os filhos e enviou o áudio para o padrasto de Mikaela, para que o corpo fosse encontrado. O casal estava junto há quase 8 anos. O crime foi motivado por uma desconfiança de traição.

No dia 11 de setembro, três dias após a jovem mãe ser morta, o marido da vítima fez publicações nas redes sociais. Depois disso, ele deixou as crianças na casa da mãe dele, em Campo Grande. Juliano se entregou à Polícia na cidade onde vivia com Mikaela e os filhos.