Até o momento ao menos três testemunhas foram ouvidas, pelo assassinato do indígena Márcio Rosa Moreira, de 40 anos, na tarde de quinta-feira (14) em , a 352 quilômetros de Campo Grande. Foi descartada pela polícia hipótese de que havia ao menos 20 homens no local da suposta emboscada.

Em nota, a Polícia Civil informou que, inicialmente, foi acionada após Márcio ser atingido pelo tiro. O local foi preservado e o corpo do indígena encontrado em um dos cômodos de uma casa em construção, local onde ele teria sido contratado para trabalhar segundo familiares.

Perícia também foi acionada e ao menos dois trabalhadores teriam presenciado os fatos. Eles foram ouvidos e contaram que Márcio chegou em uma motocicleta, com outra pessoa na garupa. Outras duas pessoas já estariam ali, também em uma moto, e chegaram a conversar com Márcio.

No entanto, alguns minutos depois as testemunhas ouviram o tiro. Márcio foi atingido e se escondeu em um dos cômodos da construção, mas não resistiu ao ferimento. Segundo as testemunhas, o acompanhante da vítima correu para um matagal e os autores fugiram, um de moto e o outro a pé.

Uma familiar de Márcio foi ao local e fez a identificação. Ela foi intimada para prestar esclarecimentos na delegacia, mas não atendeu e não foi mais localizada. Indígenas apontaram o autor do crime como sendo um preso, que cumpre pena em regime semiaberto em Amambai. Ele foi interrogado e entregou o celular para perícia.

O suspeito foi submetido a reconhecimento, mas as testemunhas disseram que ele não era nenhum dos homens envolvidos no crime. Por isso, ele acabo liberado. O celular da vítima fatal também foi apreendido e também será periciado, informou a Polícia Civil.

Foi registrado boletim de ocorrência pelo homicídio e inquérito foi instaurado. As três testemunhas foram ouvidas e outras foram intimadas para prestarem esclarecimentos sobre os fatos. Por fim, a Polícia Civil afirmou ser inverídica a informação de que havia 20 homens – supostamente jagunços – no local do crime, bem como que se trataria de uma chacina ou que indígenas foram pesos ou apreendidos.

Liderança indígena

A vítima era um dos líderes Tekoha Gwapo'y Mi Tujury, em Amambai. Líderes indígenas, que preferiram não se identificar, relatam que Márcio teria sido contratado para realizar um trabalho de construção. Ele e outros quatro colegas foram ao local onde o crime ocorreu para iniciar a construção de um muro.

O caso, que é investigado pela polícia, ocorre 20 dias após o confronto entre indígenas e policiais militares, que resultou na morte de Vitor Fernandes, de 42 anos.

Conflitos internos na aldeia

Conflito interno na Aldeia Amambai que antecedeu confronto entre indígenas e policiais militares, no dia 24 de junho, segue acontecendo. Na segunda-feira (11), capitão procurou a Polícia Civil para denunciar que teve a casa destruída por um grupo de 45 pessoas.

Segundo detalhes do registro policial, o capitão estava em casa na madrugada de segunda, quando aproximadamente 45 pessoas destruíram o local, além de agredirem ele e os familiares. Uma das pessoas estaria armada, com uma arma de fogo.

O capitão chegou a revelar o nome de uma pessoa que teria ordenado e comandado o ataque. O caso foi registrado como lesão corporal dolosa na Delegacia de Polícia Civil de Amambai.

Conflito antes e depois da invasão

Confronto entre PM e indígena
Armas foram apreendidas no confronto – Divulgação, PM

Durante o sepultamento do indígena Vitor Fernandes, que reuniu mais de 300 pessoas, as lideranças não pouparam o cacique da Aldeia Amambai, João Gauto. A reportagem apurou que Gauto já trabalhou para o proprietário da Bordas da Mata.

Em conversa com lideranças que moram na Aldeia Amambai, a reportagem do Jornal Midiamax ouviu que descontentamento contra o cacique é geral. Segundo eles, sua permanência no cargo é considerada ilegítima.

“Sabemos que ele deu todas as informações para os policiais e também para os seguranças privados que estavam na fazenda”, disse uma das fontes. Ainda de acordo com essas mesmas lideranças, passada a comoção do sepultamento de Vitor, serão tomadas as providências necessárias para que ele deixe o comando da aldeia.

“Diante de tudo que aconteceu, se ele não renunciar, nós [tomaremos] as providências que forem necessárias para que ele seja afastado”, disse uma professora que trabalha na aldeia. Gauto assinou e encaminhou pedidos de providências à (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) e outros órgãos.

Segundo as peças, enviadas antes da invasão na fazenda e dos confrontos, havia um grupo que estaria causando desordem na aldeia, andando com armas brancas e armas de fogo e querendo invadir as terras em situação de violência.