Sob pressão após novo escândalo, chefe da Polícia Civil de MS pede para sair do cargo
Adriano atirou contra carro de jovem de 24 anos após confusão no trânsito em Campo Grande
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A briga de trânsito na noite de quarta-feira (16), com abordagem, perseguição e tiros contra o carro de uma jovem, de 24 anos, terminou com a saída do então delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Adriano Garcia Geraldo, do cargo. Ele tomou posse em 22 de fevereiro de 2021 e no último ano também já tinha se envolvido em outra ‘crise’.
O Jornal Midiamax confirmou a informação do pedido de dispensa da função de Adriano e também que outros nomes são cotados para o cargo. A princípio, já na quinta-feira (17) uma decisão de afastamento teria sido tomada. Nesta sexta-feira (18), ofício assinado por Adriano ao governador pede a dispensa da função.
“Considerando que por questões de cunho pessoal e familiar, opta por colocar à disposição de Vossa Excelência a função em apreço, cujos motivos que ensejaram a presente tomada de decisão serão esclarecidas pessoalmente em momento oportuno”, diz no ofício.
Assim, o cargo de delegado-geral fica vago, até nova decisão do governador do Estado Reinaldo Azambuja (PSDB). Reunião acontece nesta tarde na Governadoria, para que o novo nome seja decidido. Até o momento, não houve publicação no Diário Oficial do Estado.
O que disse sobre a abordagem
Em entrevista ao programa Capital Meio-Dia, o delegado disse que não sabia quem estava no carro, já que o Renault Kwid da jovem tinha insulfilm. “Não sabia se era criminoso e só vi do que se tratava e quem estava no carro quando parou”, alegou. Ainda conforme o delegado, ele então viu que era uma mulher, habilitada.
Sobre os disparos, Adriano chegou a dizer: “Entre chorar a minha família ou a dela, que seja a dela”. A jovem de 24 anos não portava arma de fogo no veículo, tem habilitação e a documentação do carro estava em dia. Ainda na entrevista, Adriano diz que poderia ter “quebrado o vidro do carro”, mas não o fez, e sim esperou que todos chegassem para então tirar a jovem do veículo.
O delegado ainda afirma que em situações de abordagem, o motorista deve parar o carro, colocar as mãos no volante e ligar a luz. No entanto, assim como relatado pela jovem e por testemunhas, Adriano estava em viatura descaracterizada, mesmo alegando que tenha se identificado como policial.
Segundo ele, a viatura descaracterizada não é carro irregular ou ilegal. “Quando a gente faz as coisas certas, as coisas se esclarecem com o tempo. As perícias vão falar por si”, disse. Adriano ainda pontuou que fez o teste de etilômetro e também compareceu na delegacia para prestar os esclarecimentos — procedimento padrão em qualquer ocorrência semelhante. “Fiz a coisa certa”, afirmou.
Reunião na Sejusp
Nesta quinta, Adriano foi convocado a participar de reunião com o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Carlos Videira, para esclarecer a ocorrência da noite de quarta-feira. “É um conjunto de circunstâncias que justificam a ação dela: à noite, a viatura não era caracterizada, é evidente que ela tomou um susto”, disse o secretário.
A reunião acabou não acontecendo, já que Adriano viajou para participar da formatura da filha, que acontece neste fim de semana. Videira ainda pontuou que, se ficar comprovado que existiu abuso de poder, uma sindicância será aberta.
Boletim de ocorrência
A versão registrada na delegacia admite que tudo começou após uma briga de trânsito. Na versão da ocorrência, foi confirmado que Adriano buzinou após ser ‘fechado’ e que a motorista de 24 anos teria ‘mostrado o dedo’ após levar a buzinada. O histórico afirma que o delegado atirou duas vezes depois que ela já tinha parado o carro, e um dos disparos quando ela tentou fugir.
Segundo a versão da Polícia Civil, Adriano teria atirado porque achou que a jovem, mesmo com o carro trancado pelo carro dele, estaria “virando o volante para o lado dele e engatando ré”. No entanto, pouco antes, ele mesmo diz que não sabia quantas pessoas poderiam estar no carro porque tinha insulfilm, ou seja, contraditoriamente, diz que não seria possível ver o interior do veículo.
Durante o atendimento da ocorrência dos disparos feitos pelo delegado-geral, os policiais que atenderam à ocorrência do chefe recolheram a memória de uma câmera que ela tinha no para-brisa do carro, e o celular da jovem.
A motorista garante que, nas filmagens, poderia provar que o delegado-geral a perseguiu sem se identificar logo após se irritar em uma desinteligência de trânsito. “Simplesmente mostrei o dedo para ele porque meu carro afogou e ele buzinou. Eu não tenho bola de cristal para saber que ele é delegado”, disse a jovem.
Em notas, Polícia Civil e Adepol-MS (Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul) foram favoráveis às declarações feitas por Adriano, sem relatar a versão da motorista.
Crise com delegado geral na Polícia Civil
Delegados da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul suspeitaram que decisões do então delegado-geral estariam ligadas à suposta tentativa de interferir na briga pelo controle do ‘jogo do bicho’ em Campo Grande. Diversos colegas confirmaram ao Jornal Midiamax que ‘estranham’ o comportamento do chefe. Na época, houve conversas sobre um possível afastamento.
Adriano acabou tirando férias no período em que o caso foi noticiado, mas retornou ao cargo. A crise já causou bate-boca em reunião oficial na DGPC (Delegacia-Geral da Polícia Civil) e os policiais temiam represália por parte da cúpula. Houve, inclusive, remanejamento de delegados que teriam sido contrários a posicionamentos de Adriano.
Ao Midiamax, Adriano Garcia disse à época que as suspeitas são ‘absurdas’. No entanto, colegas dele confirmam que várias unidades policiais da Capital foram arrastadas para uma série de ‘batidas’ contra anotadores do jogo do bicho em bairros de Campo Grande. As ações não teriam efeito prático e teriam isolado uma força-tarefa criada desde a Operação Omertà, que atingiu a contravenção na cidade.
Pouco depois, o então delegado-geral voltou a ser notícia, por conta de uma discussão com delegada durante uma reunião, justamente para tratar da contravenção e de possíveis operações. Ele teria questionado a delegada sobre informações e nomes de responsáveis pelo jogo do bicho.
A delegada acabou dizendo que não falaria ali na sala, com mais de 20 delegados, os nomes. Isso, porque não confiava. Neste momento, o delegado-geral teria determinado que ela falasse. “É uma prerrogativa do delegado, ainda tem investigação em andamento, inquérito. É uma garantia do delegado, então disse que não falaria. Naquele momento acabei sendo infeliz na colocação que não acreditava na polícia”, explicou.
Pela discussão, foi aberto um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) contra a autoridade policial. Nele, Adriano diz que ao responder rispidamente, a delegada transgrediu o artigo 155 da Lei Complementar nº 114/2005 que define, entre outras posturas, ‘observar o princípio da hierarquia funcional’.
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