Réu por matar Márcia tenta ser absolvido, mas extratos revelam transferências de R$ 100 mil

Márcia foi morta há um ano, em outubro de 2021, por ‘amigo confidente’ e corpo encontrado na BR-262 em Campo Grande

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(Foto: Leonardo de França – Arquivo Midiamax)

Um ano após a morte de Márcia Catarina Lugo, ocorrida no dia 8 de outubro de 2021 na BR-262, a defesa ainda tenta absolvição de Carlos Fernandes Soares. Considerado ‘amigo’ da vítima, Carlos tinha a confiança da vítima e prestava serviços até de motorista para ela. Extratos bancários mostram que houve mais de R$ 100 mil em transferências para contas do acusado e de seu lava jato, durante o período em que Márcia estava desaparecida, e até após sua morte.

Ao todo, 18 testemunhas foram ouvidas para a denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), oferecida em julho de 2022, por homicídio triplamente qualificado. Antes disso, o assistente de acusação da promotoria representou pela alteração no crime de homicídio para latrocínio, uma vez que a denúncia afirma que o crime foi praticado “para assegurar a ocultação do furto de valor monetário considerável da conta da genitora da vítima”. Já a defesa de Carlos requereu absolvição e impronúncia ou afastamento das qualificadoras. Ainda durante a fase processual, a tese de latrocínio foi afastada.

O laudo necroscópico feito no corpo concluiu que a causa da morte de Marcia foi traumatismo crânio-encefálico provocado por tiro, com disparo à queima-roupa. Carlos foi pronunciado por homicídio qualificado por motivo torpe, dissimulação e para assegurar a vantagem de outro crime. O julgamento – que deve ser feito durante Tribunal do Júri na Capital – ainda não foi marcado e está pendente desde julho.

A defesa justificou como razões para impronúncia “a ausência de indícios de autoria”. Segundo os advogados, Carlos “foi incisivo em afirmar a sua inocência e enfático ao atribuir a autoria a Carlos Machuca, vulgo China”. Além disso, alegaram que “o acusado pormenorizou os detalhes fáticos havido no dia do crime”. O pedido foi feito no dia 11 de julho e no dia 28 de setembro foi removido sigilo externo do processo.

(Foto: Leonardo de França – Arquivo Midiamax)

Transferência de mais de R$ 100 mil

Testemunhas relataram, durante a fase do inquérito policial, que foram feitas transferências via Pix no valor total de R$ 104.600,00 entre os dias 23 de setembro e 8 de outubro, para conta de Carlos e de seu lava-jato, por meio das contas corrente e poupança da mãe de Márcia. Segundo os familiares, a transferência só seria possível por meio de aplicativo bancário, que Márcia tinha acesso em seu celular.

Ela também costumava carregar uma caderneta com as senhas e contas dela e da mãe anotadas, e o celular de Márcia não foi encontrado após ela desaparecer. Familiares conversaram com o gerente de um dos bancos, que confirmou que Márcia esteve na agência na semana em que ocorreu o desaparecimento e morte, dizendo que queria habilitar o celular dela para fazer aplicações financeiras na conta.

Entretanto, a operação não foi realizada pois ela teria dito “de repente” que ia até o Bairro Moreninhas, na companhia de um rapaz, que a aguardava sentado no interior da agência. Quando mostrada a foto de Carlos para o gerente, ele afirmou que “eram muito parecidos”, se referindo a Carlos e ao rapaz que acompanhava Márcia.

Os extratos mostraram que foi feito um Pix da conta-corrente da mãe de Márcia para Carlos no valor de R$ 800 no mesmo dia em que o corpo dela foi encontrado, tendo como recebedor o lava-jato de Carlos, cerca de duas horas antes dela ter sido encontrada na BR-262 com um tiro na testa. Além disso, foi feito um empréstimo de R$ 15 mil no mês anterior à morte de Márcia, na conta de sua mãe.

Enquanto prestavam depoimento na delegacia, familiares de Márcia receberam um documento que havia chegado pelos Correios na residência da mãe da vítima, de uma contratação de empréstimo no valor de R$ 1329,81 no dia em que Márcia foi morta, entretanto, horas após sua morte.

(Foto: Leonardo de França – Arquivo Midiamax)

R$ 400 para consertar tiro em SUV

Após o assassinato, Carlos foi até uma tapeçaria para que o estofado fosse arrumado depois do furo provocado pelo tiro dado na testa da vítima. O tapeceiro disse à polícia que, quando começou a remover o estofado, percebeu manchas de sangue, mas continuou com o trabalho sem questionar. O carro, uma SUV, era locado. 

Imagens apagadas x senha do celular de Márcia

As imagens de câmeras de segurança do lava-jato, o qual Carlos era dono, foram deletadas do sistema pelo namorado da irmã do autor a pedido dele. A polícia chegou a ir atrás das imagens, mas foi informada pela irmã de Carlos, que por mensagens de WhatsApp ele havia pedido para que fossem deletadas.

Logo após o sumiço de Márcia, o marido dela — policial civil aposentado — foi até o lava-jato para saber do paradeiro da esposa, questionando Carlos, já que o policial não conseguia acessar a localização dela pelo celular. 

Carlos, que tinha acesso às senhas do telefone de Márcia, disse que alguém teria formatado o aparelho, por isso não estaria conseguindo localizá-la. No dia do achado do corpo da vítima, a polícia não conseguiu encontrar seus documentos, carteira e celular.

Os documentos de Márcia foram localizados no dia seguinte, na lixeira do banheiro de um shopping da cidade pelo segurança do local. 

(Foto: Reprodução/ Redes Sociais)

Depoimento e destruição de provas

Quando foi preso pela Polícia Civil, Carlos afirmou que fugiu logo em seguida para a fronteira, depois de ser ameaçado pelo agiota se revelasse sobre o crime. 

Em depoimento, ele foi questionado sobre o veículo Chevrolet Onix prata, que fazia uso antes de ser preso. Ele informou que o carro foi deixado com um conhecido, filho da proprietária de um hotel localizado na cidade de Bela Vista do Norte, no Paraguai. Carlos afirmou ter deixado as chaves e documentos com o rapaz, dizendo que voltaria para pegá-lo.

Questionado sobre como se deslocou de Bela Vista à Ponta Porã, o homem afirmou que utilizou o referido carro e, ao chegar à cidade fronteiriça, foi orientado por ‘China’, por meio de mensagens via WhatsApp, a se livrar do carro, pois ele estaria sendo rastreado.

Carlos informou que ligou para o conhecido que estava na posse do veículo e, como o homem já estaria se deslocando para Ponta Porã, entregou o carro para ele. Dois celulares, que estavam com ele, foram apreendidos.

Esposa de policial aposentado

Márcia era esposa de um investigador da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, aposentado em 2007. O policial, que esteve no local acompanhado de outro membro da família, fez o reconhecimento. Ele não quis conversar com a imprensa, mas acompanhou as equipes da Polícia Civil e do Batalhão de Choque até a delegacia, para os procedimentos de praxe.

A vítima estava vestida, com roupas e joias — pulseiras, relógio e aliança. O boletim de ocorrência do desaparecimento foi registrado na tarde da sexta-feira (8), e indica o desaparecimento de Márcia na noite de quinta-feira (7), por volta das 19h, na Vila Carvalho. Conforme relato, ela teria saído da casa da mãe e uma testemunha a viu sendo seguida por um carro utilitário SUV. Ao virar a esquina, a mulher entrou no carro e não foi mais vista.