Responsável por 99% das apreensões de aditivos químicos do BR, MS teve 54 operações da PF em 2022

Em Corumbá, na fronteira com a Bolívia, aditivos químicos são desviados pelo tráfico de drogas para refino de cocaína

Danielle Errobidarte – 26/12/2022 – 14:50

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Última operação foi feita em Campo Grande, no TCE-MS. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Durante todo o ano de 2022, a PF (Polícia Federal) de Mato Grosso do Sul deflagrou 54 operações em todo o Estado. O destaque foi para a cidade de Corumbá, a 429 quilômetros da Capital, responsável por 99% das apreensões de aditivos químicos utilizados por organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas, para o refino de cocaína. Além desse tipo de crime, a delegacia da PF na fronteira com a Bolívia focou esforços na repressão ao contrabando de imigrantes.

Segundo o delegado regional de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Fabrício de Azevedo Carvalho, foram feitas 16 operações contra o tráfico de drogas em MS, quatro delas no modal via Correios: a primeira e a segunda fase da Operação Remessa Ilegal – nos dias 5 e 17 de agosto – a Operação Delivery, no dia 4 de maio, as três em Campo Grande, e a quarta em Dourados, no dia 5 de julho.

A delegacia de Corumbá, no ano de 2022, teve destaque na temática de Direitos Humanos e combate ao tráfico de pessoas. No dia 1º de setembro foi deflagrada a Operação Náuatle, do contrabando de imigrantes. “Geralmente são bolivianos irregulares que não têm controle migratório e pagam esses ‘coiotes’ para que saiam da Bolívia em direção à São Paulo, geralmente para trabalharem em oficinas de costura na região do Brás”, afirma o delegado.

Delegado de Polícia Federal Fabrício de Azevedo Carvalho. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Também em Corumbá, a Operação Mad Max cumpriu 12 mandados de busca na região, incluindo as cidades de Ladário e Porto Esperança, contra o contrabando de combustível em MS. Entretanto, o destaque maior foi para a quantidade de precursores químicos, que representam 99% de toda a apreensão do Brasil.

“Além da droga, da cocaína e da maconha, Corumbá também se destaca na apreensão de precursores químicos. São produtos químicos destinados no refino da cocaína, que geralmente são desviados no mercado interno, seja através de uma importação fraudulenta, ou de desvio do produto, que são destinadas à Bolívia, na utilização do refino de cocaína”, afirma o delegado.

No ano de 2022, o Brasil apreendeu 258.539 quilos de precursores químicos. Destes, 258.332 foram em Mato Grosso do Sul, em Corumbá, na fronteira com a Bolívia. Por isso, o delegado afirma que existe uma extensa interlocução entre as forças de segurança dos países vizinhos, Bolívia e Paraguai, inclusive com a troca de informações dos setores de inteligência, e até de intercâmbio de policiais.

No dia 9 de março também foi deflagrada a Operação Chupim para combate ao tráfico através da contratação de motoristas de aplicativo. “Os motoristas eram contratados para transportar carga lícita e no meio da carga era incluído droga, sem conhecimento deles”, afirma o delegado.

Apreensão durante a Operação Chupim. (Foto: Divulgação/ PF)

Em Naviraí, a 359 quilômetros da Capital, a Operação Armador, deflagrada no mês de setembro, iniciou a partir de duas apreensões de cocaína, a primeira de 187 quilos e a segunda de 153 quilos, quando foram identificados os responsáveis pelo agenciamento da carga.

A última operação da PF, Terceirização de Ouro, deflagrada no dia 8 de dezembro, decorreu de indícios de crimes relacionados a contratos de terceirização de mão de obra do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul). O principal contrato investigado supera a quantia de R$ 100 milhões. O presidente do TCE-MS, conselheiro Iran Coelho das Neves, vai usar tornozeleira eletrônica durante o afastamento de 180 dias do cargo. Além dele, também foram afastados dos cargos os conselheiros Waldir Neves e Ronaldo Chadid.

(Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Balanço das operações

Ainda segundo o delegado Fabrício Azevedo, foram contabilizados os resultados de 47 das 54 operações realizadas, resultando em 25 mandados de prisões preventivas e nove temporários cumpridos. Quanto à apreensão de entorpecentes, foram 12.392 drogas sintéticas, 95,6 toneladas de maconha, 7,67 toneladas de cocaína, 302 quilos de skank, 955 mil pacotes de cigarros.

Também foi feito flagrante de 52 estrangeiros ilegais na fronteira com a Bolívia, no dia 23 de fevereiro, 40 no dia 7 de março, 34 em 20 de janeiro, 40 no dia 3 de março, 27 em 7 de abril, três no dia 26 de janeiro – que estavam em um carro de aplicativo – e outros 80 na semana passada, totalizando 276. Ao todo, foram cumpridos 263 mandados de busca e apreensão e R$ 358.015.854,13 em valores apreendidos, incluindo em espécie e em bens.

Operações do Gaeco

O Jornal Midiamax solicitou entrevista com a promotora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), mas o pedido foi negado pela assessoria de imprensa. Por isso, as operações serão elencadas a partir das reportagens já feitas, durante todo o ano. O destaque do ano foi para a Operação Courrier — correspondência —, que cumpriu ao todo 38 mandados judiciais.

Conforme o Gaeco, a operação mira o núcleo ‘Sintonia dos Gravatas’, célula em que advogados usam de suas funções para transmitir recados aos faccionados presos. Na ocasião, foi preso um ex-chefe de cartório, acusado de fornecer senha de acesso a sistemas da polícia a um dos advogados investigados por integrarem o PCC.

(Foto: Henrique Arakaki/Arquivo Midiamax)

Já durante a Operação “Deviare”, descobriu-se que quatro guardas municipais de Ponta Porã, durante uma ocorrência de apreensão de aproximadamente 1,8 tonelada de maconha em uma residência, desviaram fuzis, pistolas, revólveres e munição que também estavam armazenados naquele local.

Ainda foi descoberto que pelo menos um dos agentes, de maneira rotineira, adquiria, recebia, transportava, ocultava, mantinha em depósito, para desmontar, montar e remontar, para vender e expor à venda as armas de fogo e munições na fronteira. Um dos investigados buscou adquirir vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

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