A Isis, deflagrada pela PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) junto ao Ministério Público Estadual nesta quarta-feira (15) tinha como alvo autores de crimes de violência contra a mulher, e nada mais justo do que ser comandada por uma mulher. Conhecida como “coronel Neidy” na Corporação, Neidy Nunes Barbosa Centurião, de 46 anos, é a comandante responsável pela operação que cumpriu 17 mandados de prisão. Responsável por 150 policiais, a atuação dela se estende por quase 30 anos, desde que assumiu o concurso com apenas 17 anos.

À época, Neidy precisou ser emancipada pelo pai, devido a ser menor de idade, para fazer o curso de formação no estado de São Paulo, já que em 1994 não existia ainda Academia de Polícia em Mato Grosso do Sul. Das duas vagas para o cargo, ela foi aprovada em segundo lugar.

De lá para cá, a coronel chegou a comandar outras operações nas cidades do interior que passou — e —, mas segundo ela nunca com a proporção da Operação Isis de hoje. “Aqui em eu estou há 10 anos, desde 2012, quando voltei de Corumbá”.

Após o curso de formação em São Paulo, onde ficou durante quatro anos, ela se apresentou em Mato Grosso do Sul e foi enviada para o atual Batalhão de Trânsito, antiga Companhia Independente de Trânsito, na Capital. Após um ano, foi chamada, em 1998, para compor a equipe de policiais que fundaria a Cavalaria da Polícia Militar. Em seguida, foi enviada para Dourados para participar da criação da Cavalaria de lá.

(Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

No ano de 2022 ela retornou para Campo Grande, para o 1º Batalhão, na região central, e em seguida foi transferida novamente para o Batalhão de Trânsito. Os três anos seguintes foram de Neidy morando em Corumbá, na fronteira com a Bolívia, de onde saiu em 2012 para retornar à Capital.

“Em 2012 voltei para Campo Grande para trabalhar no gabinete do Comando Geral, e em 2014 assumi o Batalhão Rodoviário como subcomandante, que abrange o estado inteiro. Também passei pela policlínica, como diretora administrativa, onde desenvolvi algumas pesquisas para melhorar as estratégias de atendimento dos policiais, tanto nos aspectos de adoecimento físico como mental”, relembra.

Neidy também chegou a trabalhar na PM5, área responsável pelas relações públicas da PM, quando foi novamente remanejada para o gabinete do Comando Geral, onde atualmente tem o cargo de assessora do comandante. Entretanto, aos 17 anos, ainda jovem, ela confessa que tinha medo da atuação dos policiais, quando pequena.

“Eu morria de medo da polícia. Eu fazia o terceiro ano do ensino médio e queria ser juíza, mas naquela época era muito difícil passar no curso de Direito. O pai de uma amiga minha era tenente do Exército e falou ‘faz o concurso da polícia, se você não gostar pelo menos já sai com e tem emprego garantido'. E não é que eu passei?”, lembra aos risos.

Além de coronel, Neidy também é mãe e esposa, e tem dois filhos, hoje com 18 e 21 anos. Durante os quase 30 anos na PMMS, ela não se vê fazendo outra coisa hoje que não sendo policial militar, e agradece ao destino de tê-la feito continuar na instituição.

“Eu descobri que às vezes as pessoas falam que a polícia é violenta e que policial mata, mas eu digo que é o único local onde você pode realmente ajudar as pessoas, mas não deve esperar retribuição por isso”, afirma.

Ainda que algumas funções sejam pouco compreendidas pela população, Neidy entende que a função da polícia é de cuidado. “Temos, por exemplo, a função de cobrança de imposto quando vamos fazer uma blitz e a pessoa está com documento atrasado, então temos o lado que as pessoas não entendem, ou uma briga de vizinhos, que algum dos dois vai ficar com raiva de você”, analisa.

Para a operação de hoje, ela chegou às 3h30 na sede do Comando Geral, e, antes de iniciar a organização das equipes, se preocupou primeiro com a alimentação dos militares que comandaria. “Eu e o coronel Klimpel preparamos a alimentação dos policiais, que às vezes sai de casa sem se alimentar, por ser muito cedo, e depois fomos organizar a dos alvos e quais viaturas eles iriam ocupar”.

(Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Operação Isis

De acordo com o Coronel Almeida, comandante da PMMS, foram expedidos 30 mandados de prisão sendo que 17 foram cumpridos. Ao todo, 150 policiais participam da operação divididos em 40 equipes.

Também responsável pela Operação, o coronel Klimpel, subcomandante do CPM (Comando de Policiamento Metropolitano), cada viatura também estava com uma dupla de cadetes em formação, que colocaram em prática as instruções que tiveram sobre cumprimento de mandados de busca e apreensão.

Ainda segundo o coronel Zerlotti, coordenador do Promuse (Programa Mulher Segura), os crimes de violência contra a mulher são os mais atendidos pela PM, atrás apenas de perturbação de sossego e vias de fato. Só em abril deste ano foram 518 atendimentos via Copom, através do telefone 190.

Os mandados foram cumpridos nos bairros: Los Angeles, Noroeste, Aero Rancho, Vila Almeida, Centro Oeste e Indubrasil. Foram 15 dias para fazer o levantamento com os alvos que deveriam ser presos, após crimes praticados contra mulheres. O militar da reserva de 58 anos foi preso no Bairro Centro Oeste e o guarda no Bairro Vila Almeida. Já um dos alvos não foi localizado, já que está na cidade de Barretos fazendo tratamento para câncer. 

O nome da operação faz referência à Lei nº 5.202, de 30 de maio de 2018, que instituiu no calendário oficial do Estado de Mato Grosso do Sul o dia 1º de junho, como Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. A data lembra a morte da jovem Isis Caroline, ocorrida em 1º de junho de 2015 e tida como o primeiro caso de feminicídio registrado no Estado, após a vigência da Lei 13.104/2015.