disparos feitos contra o carro de uma jovem de 24 anos

Sobre os disparos, Adriano chegou a dizer: “Entre chorar a minha família ou a dela, que seja a dela”. A jovem de 24 anos não portava arma de fogo no veículo, tinha habilitação e documentação do carro em dia e também foi encaminhada para a delegacia após o ocorrido, para prestar esclarecimentos.

Ainda na entrevista, Adriano diz que poderia ter “quebrado o vidro do carro”, mas não o fez, e sim esperou que todos chegassem para então tirar a jovem do veículo. O delegado ainda afirma que em situações de abordagem, o motorista deve parar o carro, colocar as mãos no volante e ligar a luz.

No entanto, assim como relatado pela jovem e por testemunhas, Adriano estava em viatura descaracterizada, mesmo alegando que tenha se identificado como policial. Segundo ele, a viatura descaracterizada não é carro irregular ou ilegal. “Quando a gente faz as coisas certas, as coisas se esclarecem com o tempo. As perícias vão falar por si”, disse.

Adriano ainda pontuou que fez o teste de etilômetro e também compareceu na delegacia para prestar os esclarecimentos — procedimento padrão em qualquer ocorrência semelhante. “Fiz a coisa certa”, afirmou.  

Reunião na Sejusp

Nesta quinta, Adriano foi convocado a participar de reunião com o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Carlos Videira, para esclarecer a ocorrência da noite de quarta-feira.

Segundo Videira, tudo será analisado para que seja explicado o ocorrido. “É um conjunto de circunstâncias que justificam a ação dela: à noite, a viatura não era caracterizada, é evidente que ela tomou um susto”, justificou o secretário. Videira ainda pontuou que se ficar comprovado que existiu abuso de poder, uma sindicância será aberta.

Boletim de ocorrência

No B.O redigido por um subalterno de Adriano, a versão registrada admite que tudo começou devido a uma briga de trânsito. Na versão da ocorrência, foi confirmado que Adriano buzinou após ser ‘fechado’ e que a motorista de 24 anos teria ‘mostrado o dedo’ após levar a buzinada. O histórico afirma que o delegado atirou duas vezes depois que ela já tinha parado o carro, e um dos disparos quando ela tentou fugir.

Segundo a versão da Polícia Civil, Adriano teria atirado porque achou que a jovem, mesmo com o carro trancado pelo carro dele, estaria “virando o volante para o lado dele e engatando ré”. No entanto, pouco antes, ele mesmo diz que não sabia quantas pessoas poderiam estar no carro porque tinha insulfilm, ou seja, contraditoriamente, diz que não seria possível ver o interior do veículo.

Durante o atendimento da ocorrência dos disparos feitos pelo delegado-geral, os policiais que atenderam à ocorrência do chefe recolheram a memória de uma câmera que ela tinha no para-brisa do carro, e o celular da jovem.

 A motorista garante que, nas filmagens, poderia provar que o delegado-geral a perseguiu sem se identificar logo após se irritar em uma desinteligência de trânsito. “Simplesmente mostrei o dedo para ele porque meu carro afogou e ele buzinou. Eu não tenho bola de cristal para saber que ele é delegado”, disse a jovem.

Em notas, Polícia Civil e Adepol-MS (Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul) foram favoráveis às declarações feitas por Adriano, sem relatar a versão da motorista.

Oitiva

Nesta quinta-feira (17) acontece oitiva sobre o PAD (Processo Administrativo Disciplinar) instaurado contra a delegada Daniela Kades, após uma discussão com Adriano durante reunião na DGPC (Delegacia Geral da Polícia Civil).

A Corregedoria ouve o delegado titular da Homicídios, Carlos Delano, que já fez parte da Força-Tarefa da Omertà, durante as várias deflagrações de fases da operação que acabou na prisão de mais de 20 pessoas, entre elas, que acabou morrendo em 2020, preso em uma cela do Presídio Federal de Mossoró. Jamil Name Filho ainda continua preso em Mossoró.

No dia 3 de dezembro de 2020, Adriano Geraldo Garcia foi ouvido em um depoimento que durou pelo menos 2 horas. Além do delegado-geral, os advogados de defesa da delegada Daniela Kades também foram ouvidos.