Na manhã desta quinta-feira (17), o Secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Carlos Videira, convocou uma reunião com o delegado-geral, Adriano Geraldo Garcia, chefe da Polícia Civil, para esclarecer disparos feitos por ele contra o carro de uma jovem, de 24 anos em .

Videira disse ao Jornal Midiamax que nesta manhã vai conversar com o delegado-geral para esclarecer alguns pontos, e que na noite dessa quarta-feira (16) Adriano tinha falado com ele explicando a sua versão. “A câmera instalada no carro dela será importante para ver se de fato o que foi relatado ocorreu”, disse o secretário.

Ainda segundo Videira, tudo será analisado para que seja explicado o ocorrido. “É um conjunto de circunstâncias que justificam a ação dela: à noite, a viatura não era caracterizada, é evidente que ela tomou um susto”, justificou o secretário. Videira ainda pontuou que se ficar comprovado que existiu abuso de poder, uma sindicância será aberta.

Boletim de ocorrência

No B.O redigido por um subalterno de Adriano, a versão registrada admite que tudo começou devido a uma briga de trânsito. Na versão da ocorrência, foi confirmado que Adriano buzinou após ser ‘fechado' e que a motorista de 24 anos teria ‘mostrado o dedo' após levar a buzinada. O histórico afirma que o delegado atirou por duas vezes depois que ela já tinha parado o carro, e um dos disparos quando ela tentou fugir.

Segundo a versão da Polícia Civil, o delegado-geral teria atirado porque achou que a jovem, mesmo com o carro trancado pelo carro dele, estaria “virando o volante para o lado dele e engatando ré”. No entanto, pouco antes, ele mesmo diz que não sabia quantas pessoas poderiam estar no carro porque tinha Insulfilm, ou seja, contraditoriamente, diz que não seria possível ver o interior do veículo.

Durante o atendimento da ocorrência dos disparos feitos pelo delegado-geral,  os policiais que atenderam a ocorrência do chefe recolheram a memória de uma câmera que ela tinha no para-brisa do carro, e o celular da jovem. A motorista garante que, nas filmagens, poderia provar que o delegado-geral a perseguiu sem se identificar logo após se irritar em uma desinteligência de trânsito. “Simplesmente mostrei o dedo para ele porque meu carro afogou e ele buzinou. Eu não tenho bola de cristal para saber que ele é delegado”, disse a jovem. 

Sem se identificar

A jovem ainda disse que não sabia que carros normais tinham sirene. “Eu até achei que era uma ambulância e do nada ele para na minha frente e começa a apontar uma arma para mim, ele não se identificou e começou a atirar”, relatou a estudante. De fato, até mesmo carros com blindagem, que podem ser comprados sem licença específica, possuem sirene e não é possível identificar, somente pelo sinal sonoro, que a pessoa que está conduzindo seja de alguma força de segurança.

“Ele meteu uma buzinada. Eu mostrei o dedo, porque fiquei irritada, e ele já começou berrar. Eu saí de perto, como qualquer mulher faria quando vê um homem agressivo vindo pra cima. Ele acionou uma sirene, mas eu vi que não tinha identificação nenhuma no carro. Achei até que era uma ambulância por perto. Estava preocupada em escapar de um cara que me xingou no trânsito e não gostou porque respondi”, relata.

O caso lembra outra narrativa de tragédia no trânsito de Campo Grande, quando o PRF (Polícial Rodoviário Federal) Ricardo Moon, atirou e matou o empresário Adriano Correa, também após ficar irritado com uma ‘fechada'. Depois, no julgamento, a defesa de Moon também adotou a tática de dizer que o policial disparou porque achou que o motorista ia atirar nele com um maçarico culinário. O objeto chegou a ser ‘plantado' no carro da vítima, mas a manobra deu errado e Moon não provou a versão registrada. Ele foi condenado a 24 anos, mas ainda não está cumprindo a pena.