A Polícia Federal realizou 51 operações em ao longo do ano de 2021. Os trabalhos tiveram como objetivo atacar o crime organizado, combater esquemas de corrupção e desvio de recursos públicos, bem como enfraquecer a capacidade financeira de traficantes e contrabandistas. De acordo com Fabrício de Azevedo Carvalho, delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado na Superintendência Regional em MS, foram apreendidas 4,67 toneladas de cocaína e 107 toneladas de maconha.

Além disso, foram apreendidos ainda 577 quilos de pasta base de cocaína e mais 260 mil litros de produtos químicos, como acetato de etila e permanganato de potássio, usados no refino da cocaína. Entre as ações, o delegado destaca a Operação SOS Saúde, que resultou na apreensão de R$ 29 milhões em bens, sendo a maior neste quesito, e a Operação Aqueus,  que resultou na prisão preventiva de 23 pessoas, na prisão temporária de outras sete, bem como em 63 mandados de busca e apreensão a investigados por tráfico.

No que diz respeito ao tráfico de drogas, o delegado disse que o principal objetivo é bloquear o dinheiro das organizações, como forma de impedir que continuem a agir. “A gente busca sempre descapitalizar, enfraquecer as finanças sequestrando dinheiro e bens”, disse. Ele ressaltou também ser pouco comum a apreensão dos produtos químicos. “Não tínhamos esse tipo de apreensão em grande quantidade. São produtos industriais, mas considerando o destino, constatamos que seria usado no preparo de refino de cocaína”.

Nesta retrospectiva, o Midiamax traz as principais operações realizadas pela PF em território sul-mato-grossense.

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Fabrício de Azevedo Carvalho, delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado na Superintendência Regional em MS. Foto: Henrique Arakaki

Corrupção e desvios

Deflagrada no dia 9 de fevereiro, a Operação MG2 desarticulou grupo que praticava estelionato previdenciário tanto em Mato Grosso do Sul quanto no Mato Grosso. Por meio de carteiras de habilitação falsas apreendidas em Fátima do Sul, foi descoberto que tais documentos eram usados no cadastro para pedidos de benefícios previdenciários. No dia 16 de abril, foi realizada a Operação Aletheia, para apurar fraude em concurso público em Campo Grande, para ingresso em cargo técnico de educação em uma universidade.

A Operação Quinta Parcela, do dia 29 de abril, combateu fraudes do Auxílio Emergencial, benefício destinado às famílias em razão da pandemia. A Operação Independência, deflagrada no Dia 12 de maio, em Corumbá, investigou fraudes em licitações nas obras da Praça Independência. Já a Operação Mina de Ouro, de 8 de junho, desarticulou organização criminosa ligada à lavagem de dinheiro, peculato e corrupção passiva. Esta ação teve apoio da do Brasil e da CGU (Controladoria-Geral da União). 

A Operação SOS Saúde, deflagrada pela PF, CGU e Receita no dia 4 de agosto, resultou na apreensão de R$ 29 milhões em bens. O grupo investigado é suspeito de desviar recursos públicos recebidos do Governo do Estado e que deveriam ser usados na operacionalização do Hospital Regional de Ponta Porã. Os alvos respondem por falsificação de documentos, dispensa irregular de licitação, peculato e organização criminosa. “Houve aqui a maior apreensão de bens lícitos e ilícitos do ano nas operações”, disse Fabrício.

Foram realizadas ainda a Operação Asclépio, contra evasão de divisas e operações de câmbio não autorizadas, Operação Escamotear, contra fraudes no auxílio emergencial, Operação Romeu Sierra Índia, contra lavagem de dinheiro, Operação Mercês, para investigar crimes eleitorais, Operação Inescrupulosos, contra fraudes no auxílio, e a Operação A Verdade, que apurou práticas de crimes eleitorais ocorridos durante o pleito para vereador em 2020, em Dourados, por falsidade ideológica nas prestações de contas.

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Imagem mostra policiais federais em ação. Foto: Arquivo

Tráfico de Drogas e Crime Organizado

No âmbito do tráfico de drogas e combate ao crime organizado, o delegado citou as operações Aqueus e Escritório do crime, que trouxeram resultados importantes para derrubar as facções que atuam em MS. A Aqueus, realizada no último dia 14, resultou na prisão preventiva de 23 pessoas, na prisão temporária de sete pessoas, no cumprimento de 63 mandados de busca e apreensão, bem como no sequestro de 13 imóveis e 33 contas bloqueadas. “Não adianta só prender, é preciso atacar o núcleo financeiro”, alegou Fabrício.

Já a Operação Escritório do Crime, em novembro, mirou grupo ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital) que operava o tráfico internacional de armas e drogas na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Foram cumpridos, na cidade de Ponta Porã, oito mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão temporária. O trabalho teve apoio das autoridades paraguaias, que atacaram uma extensão da facção no país vizinho. “A gente conseguiu deter um grupo antes que ele pudesse se estabelecer na fronteira”.

Houve ainda a Operação Santa, Operação Pé na Estrada, Operação Minus, Operação Fronteira Segura II, Operação Mamom, Operação Fênix, Operação Ouro Branco, Operação Cavalo Branco, Operação Senex, Operação Camarim, Operação Dinastia, Operação Greasy Money, Operação Celeritas, Operação Hermes, Operação Follow Me e a Operação Escobart. A Escobart, realizada em maio, teve como objetivo combater o tráfico de drogas sintéticas, como ecstasy, por meio de envios pelos Correios.

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Contrabando de cigarro é realizado tanto em grandes quanto em pequenos carregamentos. Foto: Arquivo

Contrabando e descaminho

No âmbito dos crimes de contrabando e descaminho, a PF realizou no dia 2 de fevereiro a Operação Audacius, para desarticular grupo ligado a cigarreiros. Na ação, foi realizado o sequestro e bloqueio de mais de R$ 2 milhões em bens móveis e imóveis, assim como valores depositados em contas bancárias em nome dos investigados. Já no dia 4 de maio, foi desencadeada a Operação Sabazius, com a finalidade de apurar contrabando de bebidas alcoólicas. 

Este esquema criminoso consistia, basicamente, na obtenção de benefícios fiscais por meio da reinserção no território nacional de bebidas alcoólicas que haviam sido exportadas ou, ainda, na mera simulação de exportação dessas mercadorias que, na verdade, permanecem e são comercializadas em território nacional. Segundo o delegado, o contrabando é um dos crimes mais difíceis de se investigar, em razão da ramificação das organizações, que leva a um grande número de envolvidos.

“Não é só o grande carregamento, é aquele carregamento formiguinha, de algumas caixas de cigarro em um carro”, disse o delegado, explicando que também há os receptadores, que distribuem as mercadorias nos bairros. Nos últimos anos, a PF constatou inúmeras participações de agentes da segurança pública nos esquemas de contrabando. Tal cenário se deve ao poder de sedução dos contrabandistas, que dispõem de grande capital financeiro, bem como também ao fato de que o contrabando não é socialmente tão reprovável, em razão de não haver clara violência. “Os criminosos se valem de recursos financeiros para correr os agentes públicos com valores altos, para deixar passar um carregamento, por exemplo”, ressaltou Fabrício.

Ainda no mês de maio, houve a Operação Harpócrates II, que atacou  organização criminosa especializada na prática de condutas que configuram delitos como descaminho de produtos eletrônicos, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O esquema criminoso funcionava assim: lojistas de Campo Grande se utilizam de doleiros para enviar dinheiro para fornecedores de mercadoria situados no Paraguai; em seguida, promovem a entrada de produtos eletrônicos no Brasil, sem, entretanto, realizar o pagamento do imposto devido; são utilizadas empresas de fachada para expedir notas fiscais para justificar a entrada das mercadorias; por fim, esses equipamentos são revendidos no mercado nacional.

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“A gente atendeu a todas as demandas pertinentes”, destacou o delegado da PF sobre os trabalhos do ano. Foto: Henrique Arakaki

Meio Ambiente 

No âmbito do meio ambiente, a PF realizou, juntamente com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), com apoio da Força Nacional, a fiscalização de áreas remanescentes de vegetação florestal nativa, em Terra Indígena Arroio-Korá, no município de Paranhos. Havia indícios de desmatamento e exploração de madeira nesta área que é inserida no Bioma Mata Atlântica, considerada de especial proteção por legislação federal.  

Em agosto, foi deflagrada a Operação Yaguareté, que investiga a morte de forma não natural de onças-pintadas em fazendas na região do pantanal sul-mato-grossense. Houve uma ostensiva de investigação policial que apurou suspeita de envenenamento contra estes animais, que se encontram em extinção. Foram analisadas 20 carcaças de animais silvestres de diversas espécies que, pelo estado em que se encontravam, podem ter sido vítimas de envenenamento provocado por ação humana. A equipe investigou também as causas da morte de onças na região. “A gente atendeu a todas as demandas pertinentes que nos foram encaminhadas”.