Ao todo, o inquérito soma quase 700 páginas

Se condenados, a pena prevista para os quatro acusados de torturar um menino de quatro anos em supostos rituais de magia negra pode chegar a 20 anos de prisão. De acordo com Paulo Sérgio Lauretto da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), responsável pelo caso, os envolvidos serão indiciados por tortura duplamente qualificada, formação de quadrilha e podem responder por corrupção de menores, já que duas meninas, uma de 9 e outra de 12 anos, primas do garoto, presenciaram os rituais de tortura.

As investigações foram concluídas nesta sexta-feira (4). Agora, o conteúdo apurado vai ser encaminhado para o MPE (Ministério Público Estadual) que dará continuidade ao trabalho.  Ao todo, o inquérito soma quase 700 páginas, divididas em dois volumes.

Nos documentos, a diretora de uma Ceinf (Centro de Educação Infantil), para onde o menino de quatro anos foi levado é citada por omissão. Segundo o delegado, por exigência do setor de assistência social do abrigo onde a criança estava, a mãe adotiva o levou até a unidade escolar. No local, a diretora observou ferimentos na face do menino e, por esse motivo, o garoto foi impedido de assistir aula. Contudo, a diretora não comunicou o fato às autoridades.

“Ela é citada por omissão. Se desde o início ela tivesse acionado alguém, alguém poderia ter evitado que o caso se agravasse”, disse. O delegado lembra que em depoimento, a diretora do Ceinf alegou que não denunciou o caso, pois confiou no acompanhamento feito pela assistente social do abrigo onde o garoto estava.

Lauretto lembra que o abrigo onde o menino estava não será indiciado. “A assistência social tinha o prazo de seis meses para acompanhar e depois emitir um relatório sobre a adaptação do garoto. Eles estavam fazendo o serviço corretamente e estavam dentro do prazo”, finaliza.

O caso

A criança foi resgatada na noite desta terça-feira (23) depois de uma visita de rotina do abrigo que constatou os machucados no menino, que tinha muitas lesões pelo corpo, nas costas, pescoço e teve a unha do dedão do pé arrancada, além de ter água quente derramada em sua cabeça.

O menino foi levado para a Santa Casa da Capital e segundo informações da enfermeira que atendeu o menino, ele pode até perder a visão dos dois olhos devido às agressões sofridas. O casal, de 31 e 46 anos, tios do menino tinham a guarda desde maio de 2015.

O menino tem uma irmã, que ainda está no abrigo. Na residência que fica na região central de , foram encontrados dois celulares, R$ 402, pulseiras de miçangas, patuá e um boneco, que segundo informações eram usados em prática de magia negra.

A justificativa para tanta barbárie seria o diabo, como disse a tia. Segundo a autora, eles ouviam vozes, que eram do diabo, e por isso, praticavam as torturas. O caso foi registrado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro e deve ser repassado para a DPCA (Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente) para investigação.