‘Estratégia machista’: acusadas de matar dizem que manicure ‘procurou’ a morte

A intenção das autoras era raspar a cabeça da vítima 

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A intenção das autoras era raspar a cabeça da vítima 

Durante a segunda audiência sobre o assassinato da manicure Jennyfer Nayara Guilhermete de Morais, de 22 anos, as duas indiciadas pelo crime adotaram a estratégia de procurar desqualificar a reputação da vítima,  alegando que ela ‘procurou’ a própria morte ao se envolver com um homem casado. Em depoimento Gabriela Antunes Santos e a amiga Emilly Karolainy Leite alegaram que a intenção era raspar a cabeça da jovem: “É o que o povo faz com talarico, raspa a cabeça”.

Talarico é a gíria dada a quem ‘cobiça’ pessoa que se relaciona com outro, normalmente usado para homens. Desde os depoimentos, as indiciadas têm insistido na tese de que a vítima ‘provocou’ o crime ao se envolver com um homem comprometido. Os depoimentos ocorrem em meio ao clima de indignação no País após o caso de estupro em investigação no Pais, em que a tentativa de desqualificar a vítima está provocando muita polêmica, principalmente entre os movimentos femininas.. 

Três testemunhas de defesa e também as próprias autoras foram ouvidas pelo juiz Aluizio Pereira dos Santos na tarde desta quinta-feira (2). Na audiência, Gabriela contou detalhes da relação com a vítima e afirmou, mais uma vez, que não tinha a intenção de matar a manicure e que foi ameaçada por ela minutos antes do crime.

Gabriela contou que conhecia a vítima desde criança e que namorava Alisson Patrick Vieira da Rocha, de 22 anos, desde os 14 anos. Em novembro do ano passado, olhando o celular do marido, a jovem diz ter visto que ele e a vítima estavam trocando mensagens e assim descobriu a traição.

Ela contou que, em certa ocasião, uma amiga chegou ao trailer de lanche dela e gritou que Alisson havia chamado a vítima para ir a um motel. Na data, o casal discutiu e decidiram fazer uma viagem para a praia, com o dinheiro que  Gabriela teria ganhado em uma indenização por perder um filho em um acidente de trânsito, para resolver o casamento.

Foi na volta das férias, em janeiro de 2016, que as discussões que levaram à morte de Jennyfer começaram. No dia 14 de janeiro, Gabriela afirmou que postou em sua página do Facebook que estava cansada de amizades falsas. No dia seguinte, a manicure foi falar com ela, pedindo para que parasse de difamá-la.

As duas discutiram e a vítima alegou que elas precisavam conversar. Na tarde do dia 16, dia do homicídio, Gabriela relatou que passou no lava-jato do marido e pegou o Chevrolet Sonic de um cliente para ir até a academia, mas no caminho mudou de idéia e junto com a prima, uma adolescente de 17 anos, foi até a casa da Emilly para buscar uma máquina de cortar cabelo.

Segundo a jovem, foi ai que a amiga descobriu o caso e se propôs a ajudar na vingança, que seria raspar a cabeça da manicure. As duas suspeitas já haviam feito a mesma coisa com outra jovem, que também se envolveu com o marido da Gabriela.

O trio então foi até a casa onde Jennyfer trabalhava. “Assim que chegamos, ela veio até o carro se debruçou na janela e perguntou aonde iríamos conversar”, lembrou Gabriela. As duas ainda chegaram a ligar para uma amiga em comum na tentativa de conversar na casa dela, mas a jovem não quis se envolver e o grupo decidiu ir até o Inferninho.

Para o juiz, Gabriela relatou que no local as quatro desceram do carro e andaram até a beira do precipício. Com a máquina de cortar cabelo na mão, a suspeita pediu explicação e disse: “Vou raspar sua cabeça, para você nunca mais ficar com o marido dos outros”.

Nas palavras de Emily, que afirmou perante do juiz ter ficado ao lado da amiga, Jennyfer riu e ameaçou a desafeto. “Você vai raspar minha cabeça? Cabelo cresce, mas você tá cavando sua cova”, falou a vítima se referindo ao marido, que conforme a jovem, se vingaria caso algo acontecesse à mulher.

Foi neste momento que Gabriela foi até o carro, pegou um revólver calibre 38 e ameaçou a vítima. Segundo Emily, a amiga deu dois tiros de advertência, pedindo para que a manicure se desculpasse, mas em vez disso ouviu a confirmação da traição e ainda provocações. “A Gabriela deu um tiro pro lado, a Jennyfer riu e falou ‘corna mãe, corna filha’. Então a Gabriela deu um tiro na cabeça dela”, descreveu Emily.

Depois do crime, as envolvidas afirmaram que a autora soltou a arma e correu para o carro, sem ver o que aconteceu com o corpo da manicure. Antes de sair do local, o trio ficou cerca de meia hora dentro do carro esperando a Gabriela se acalmar.

Durante todo o depoimento, a autora chorou e se mostrou arrependida. Ela ainda contou que não está mais com Alisson, mas que só cometeu o crime por amar demais o homem. “Ele foi meu primeiro homem, conheci em um dia, casei em outro”.

De acordo com o juiz Aluizio Pereira dos Santos, das nove testemunhas que deveriam ser ouvidas nesta quinta-feira, apenas três compareceram e a partir de agora, ninguém mais será ouvido. “Encerrou as audiências e agora vêm as alegações finais e a sentença. Vamos decidir se o caso vai para o tribunal do júri ou para o julgamento e em 30 dias espero ter o resultado final”, afirmou.

“Corna mãe, corna filha”

Para o juiz Gabriela contou que no Natal de 2013 chamou a amiga de infância para ficar com ela. Em determinada hora, a mãe da jovem flagrou o marido, padrasto de suspeita, ‘ficando’ com a vítima no banheiro da casa. Depois do episodio, a família parou de apoiar a amizade das duas.

A autora ainda afirmou que depois do crime descobriu que o relacionamento entre Alisson e Jennyfer acontecia há bastante tempo. Na hora da ‘vingança’, porém, ela teve a ajuda dele para cometer o crime contra a ex-amiga.  Foi o marido quem tirou a jovem da cidade e a levou para uma chácara. Na fuga, Gabriela perdeu o bebê que esperava.

Arma do crime

O revólver usado no crime, segundo a jovem, foi comprado pelo marido em outubro de 2015. O motivo, segundo ela, foi ameaças da família da travesti Adriana Penosa, cujo nome de batismo é Thiago da Silva Martins, assassinada por Alisson no dia 22 de março do ano passado.

O casal guardava a arma dentro do colchão usado por eles e Gabriela ainda alegou que só pegou o revólver porque se sentia ameaçada.

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Com 14 anos, Gabriela morava com a mãe e o padrasto e um dia, jogando no celular do homem, viu a mensagem de uma mulher para ele. Ela então encaminhou a mensagem para a mãe, que após ouvir a história questionou o marido.

Na discussão, o homem chegou a acusar a adolescente de tomar banho com a porta aberta para provocá-lo e passou a agredi-la. A suspeita ainda falou que a mãe ajudou a bater nela e por isso ela fugiu de casa pulando o muro. Na casa de Alisson, a jovem encontrou abrigo e não saiu mais de lá, quando fez 18 anos procurou a justiça itinerante e casou legalmente com o homem. 

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