‘Escondida’ em escola, capela pintada a mão há 81 anos é sonho de muitas noivas em Campo Grande
Em nova série, MidiaMAIS mostra as igrejas consideradas mais bonitas da cidade, com suas histórias, curiosidades e arquitetura
Graziela Rezende –
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Ao lado esquerdo, onde uma enorme quadra de esportes primeiro chama a atenção, está a porta entreaberta. Alguns passos e, à primeira vista, a capela já dimensiona para algo impressionante: arquitetura religiosa impecável, pintura em alto-relevo e diferentes santos no altar. “Escondida” dentro do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, no Centro de Campo Grande, o santuário tem 81 anos e é o sonho de muitas noivas.
O MidiaMAIS inicia uma série, onde mostrará as igrejas consideradas mais bonitas da cidade, com suas histórias, curiosidades e arquitetura. A primeira delas é a Capela Nossa Senhora Auxiliadora, na escola que leva o mesmo nome e ocupa toda a quadra no cruzamento da avenida Mato Grosso com a rua Pedro Celestino, pegando a ruas Antônio Maria Coelho e Padre João Crippa.
Tudo começa em 1931, quando o internato é inaugurado e somente meninas estudam ali, enquanto meninos estudam no colégio Dom Bosco, que fica nas proximidades. Anos depois, no mesmo endereço, inicia-se a construção da capela. Para a pintura, toda em alto-relevo, chegava o italiano Mariscalch e sua equipe à capital sul-mato-grossense. Instalados na própria escola, começam o trabalho em 1942 e o terminam após dois anos.
Italiano ficou 2 anos pintando capela
“A capela inaugurou no dia 24 de maio de 1944. Éramos 54 alunas e ainda tem gente viva por aí, igual eu. Até hoje me emociono ao entrar na igreja e lembrar da primeira eucaristia. Sempre digo que ali foi o desabrochar mais forte da minha vocação. Mas antes, quando estavam construindo e eu era aluna, via os andaimes altos e ninguém podia entrar. Só ficava vendo um pouco a pintura contemporânea, feita pelo profissional de Firenze, com inspirações direto da Itália”, afirmou a irmã Maria Nilda Cavalcante Rangel, de 88 anos.
Segundo Nilda, a colônia italiana tinha um forte vínculo, além de ser muito unida. Com isso, foram várias as referências para a construção da capela.
“Dom Bosco mandou missionários para cuidar do senhor Mariscalch e a equipe dele. Na época, ele residia em Araraquara, no interior de São Paulo. Depois, a pintura foi tombada e só se permitiu a restauração, feita recentemente por um artista restaurador, que é o senhor Furlan”, argumentou a irmã.
Arcos, frases em latim e santos
Quem entra na igreja, cuja lotação máxima é de 170 pessoas, vê que uma das portas dá acesso a um jardim, que passará por reforma em breve. “Temos também um acesso direto para a entrada da noiva e dos convidados. Os casamentos foram liberados há pouco tempo e as noivas amam, principalmente quando fica tudo decorado. A capela é toda cheia de detalhes, com arcos, frases em latim e muito mais”, explicou a coordenadora educativa, Heloísa Nascimento, de 44 anos.
No dia a dia, a rotina é outra, já que as portas da capela se abrem às 6h e ocorrem missas antes das aulas começarem.
Quando os alunos chegam para escola, as portas permanecem abertas, já que a intenção é que o estudante, espontaneamente, entre no local se tiver vontade.
Em datas especiais, como comemorações do Dia das Mães, por exemplo, a capela também é palco para homenagens.
“A capela fica ali perto do pátio, de uma das quadras de esportes, justamente para as crianças terem acesso. Ali as irmãs também participam das missas, tudo antes das aulas. No altar, quando chegam, encontram uma aluna salesiana assim como eles, a Laura Vicuña, que faleceu aos 13 anos e se tornou beata, além de Dom Bosco e Madre Mazzarelo, fundadores da missão salesiana, e São José e Nossa Senhora Auxiliadora”, argumentou a coordenadora.
Após mais de meio século, capela passou por restauração
Após mais de meio século, a capela passou por restauração. Desta vez, outro artista restaurador, também de origem italiana, passou a atuar no local. Da construção à reforma, a irmã Nilda é quem presenciou muitos momentos na capela. A história dela se confunde com a da escola, deixando saudade, tanto como estudante, diretora e exemplo de ser humano. Aliás, ela até comentou que, quando está em Campo Grande, muitos amigos vão ao local para “matar as saudades”.
“Eu nasci no Rio Grande do Norte e entrei no colégio, aos 8 anos. Fiquei lá de 1943 a 1950, quando eu pedi para minha mãe para ser freira e ela falou não. Me levaram para Ribeirão Preto e lá estudei mais dois anos. Voltei para o Auxiliadora em 1952, então, fiquei no internato do 4º ano ao magistério, entrei na congregação e voltei na década de 90 como a diretora que fez todo o ensino primário, ginásio e magistério nesta escola”, ressaltou.
Anos depois, a irmã Nilda se formou pedagoga, estudando no interior de São Paulo e, mais tarde, fez especialização na Itália. “Eu cresci e acompanhei muita coisa aqui. E a capela é uma delas. É realmente um lugar lindo e especial. Agora, com a permissão para os casamentos, muita gente está interessada”, explicou.
‘Uma das mais belas de Campo Grande’, diz noiva
No ano de 2016, logo que foram permitidos casamentos na Capela Nossa Senhora Auxiliadora, a arquiteta Raquel Abdala, de 33 anos, não perdeu tempo e fez o pedido. Estudante do Colégio Auxiliadora, ela diz que a capela “já era familiar” e então convidou o noivo para conhecê-la, ressaltando que se tratava de uma das mais belas igrejas da cidade.
“A gente até tinha outras opções, mas, eu tinha uma grande preferência por esta capela. Quando abriu para casamentos, logo eu entrei em contato e deu certo. Eu acho uma das mais belas de Campo Grande, toda pintada a mão. Hoje em dia, não se fazem mais capelas assim e rendeu fotos lindas do casamento, muito mesmo. Muitos convidados, que vieram de outras cidades, acharam tudo muito bonito”, finalizou a noiva.
Veja detalhes da capela:
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