Contra racismo e homofobia, artista russo faz foto inspirada em socialite que sentou em mulher negra

A socialite russa Daria Zhukova foi o centro de uma polêmica na semana passada depois de ter sido clicada sentada sobre uma cadeira que imitava a forma de uma mulher negra. Zhukova — namorada do bilionário russo Roman Abramovich — foi acusada de racismo e pediu desculpas por ter “possivelmente ofendido alguém”. Mas a foto […]

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A socialite russa Daria Zhukova foi o centro de uma polêmica na semana passada depois de ter sido clicada sentada sobre uma cadeira que imitava a forma de uma mulher negra. Zhukova — namorada do bilionário russo Roman Abramovich — foi acusada de racismo e pediu desculpas por ter “possivelmente ofendido alguém”. Mas a foto rodou o mundo e provocou amplas reações de rechaço.

O artista russo Sasha Kargaltsev, baseado em Nova York, foi um dos que se manifestaram, produzindo uma foto em resposta a Zhukova. Na imagem, um homem branco simula uma cadeira, enquanto um negro se senta sobre ele — em referência direta ao racismo e à homofobia. Em entrevista a Opera Mundi, Sasha contou que se viu forçado a sair da Rússia justamente por esses motivos. “Me deixa muito triste ver que o racismo está sendo glamourizado e passado a ser não somente aceitável, como ‘na moda’”, lamentou.

A composição artística pretende reverter a injustiça visual e a ofensa retratadas na foto de Zhukova e restaurar a igualdade de gêneros, raças e orientações sexuais, salientou o artista, para quem as escolhas da socialite russa — “uma das mais poderosas empreendedoras culturais russas do mundo” — são “apavorantes e inaceitáveis”.

“Eu queria unir o meu sentimento de repulsa ao racismo e à homofobia em uma mesma foto, já que os preconceitos estão interligados”, afirmou. Para o artista, a atitude da socialite russa apenas reflete o pensamento da elite do país. “Ela não esperava essa reação tão negativa. Isso apenas demonstra a arrogância dos multimilionários russos”.

O jovem se mudou para Nova York em 2010, após ganhar uma bolsa para estudar na New York Film Academy. As paixões de Sasha — a Polaroid e corpos nus — produziram belos retratos no Central Park e no Bronx. Um dos trabalhos que teve maior repercussão foi um ensaio fotográfico “Asilo”, de 2012, que retratou jovens russos gays que pediram asilo nos Estados Unidos por sua orientação sexual. Os jovens posaram nus em diferentes locais dos arredores de Nova York, com a cidade ao fundo. O ensaio recebeu críticas positivas no Ocidente e popularizou o trabalho de Sasha, em um momento em que a Rússia vem sendo criticada por suas leis anti-homossexualidade.

Apesar de achar que seu trabalho com corpos nus provoca tanta polêmica no Ocidente quanto na Rússia, Sasha lamenta a falta de visão crítica do grande público russo. “Infelizmente, eu entendo que meu trabalho vai ser visto pelos russos como provocativo e inapropriado, enquanto a imagem de Zhukova não vai nem mesmo ‘mexer com as cabeças deles’”.

Antes de se mudar para os EUA, Sasha estudou na Universidade Pan-russa de Cinematografia, de onde saíram alguns dos mais importantes cineastas russos, como Sergei Eisenstein. Mas o jovem multitalento não parece otimista com seu país natal. “Só voltarei à Rússia quando o país for um lugar seguro para a população LGBT. Já não sou russo. Somente no meu coração”.

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