Advogados de acusados em CPI podem ir a depoimento de delegado

Os advogados dos três principais acusados de integrar o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira – o do próprio contraventor, o do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o do ex-diretor para o Centro Oeste da empresa Delta, Cláudio Abreu, preso em abril – acompanham o depoimento do delegado da Polícia Federal Matheus Mella. O responsável […]

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Os advogados dos três principais acusados de integrar o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira – o do próprio contraventor, o do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o do ex-diretor para o Centro Oeste da empresa Delta, Cláudio Abreu, preso em abril – acompanham o depoimento do delegado da Polícia Federal Matheus Mella. O responsável pela operação Monte Carlo depõe desde às 10h30 da manhã desta quinta-feira na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a rede de influências do bicheiro com autoridades.
A presença dos advogados foi autorizada pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que não comunicou o fato aos colegas. Segundo o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que falou a jornalistas ao deixar a reunião da comissão por alguns instantes, o senador Pedro Taques (PDT-MT) levantou questão de ordem para questionar a presença dos advogados dos acusados sem que a comissão tenha sido consultada.
“Pelo que o presidente Vital acaba de comunicar, foi uma decisão monocrática, onde não houve comunicação ao plenário, o que faz dessa comissão não apenas secreta, mas também com presenças secretas. Nenhum dos membros da CPI foi comunicado da presença dos advogados dos principais acusados. Eu posso até admitir a hipótese de o presidente decidir pela presença dos advogados monocraticamente, mas temos que ser cientificados para que possamos, por exemplo, orientar nossas perguntas, para que pudéssemos formular nossos argumentos”, disse o tucano.
Quem é quem
O senador Demóstenes Torres é acusado de favorecer o bicheiro e fazer lobby pela aprovação do jogo, o que beneficiaria os negócios de Cachoeira. Segundo informações da investigação, o senador ofereceu um jantar em sua própria casa onde, além do bicheiro, também esteve presente o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
Cláudio Abreu é o diretor para o Centro Oeste da empresa Delta, acusada de fazer depósitos para empresas de fachada de Cachoeira. O diretor foi preso em 25 de abril deste ano, por desdobramentos da operação Saint-Michel. Ele aparece nas gravações feitas pela Polícia Federal, em conversas com Carlinhos Cachoeira e outros integrantes do grupo liderado pelo empresário, discutindo o pagamento de propinas e supostas tentativas de fraudes em licitações.
Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

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