Vítimas de abuso sexual na Irlanda dizem estar desapontadas com carta do papa

Os grupos de vítimas de abusos sexuais cometidos por padres pedófilos na Irlanda se declararam muito decepcionados com o conteúdo da carta pastoral na qual o papa Bento 16 se diz envergonhado dos casos de pedofilia e critica “os graves erros” dos bispos que ocultaram as denúncias por décadas. “Sentimos que a carta fica aquém […]

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Os grupos de vítimas de abusos sexuais cometidos por padres pedófilos na Irlanda se declararam muito decepcionados com o conteúdo da carta pastoral na qual o papa Bento 16 se diz envergonhado dos casos de pedofilia e critica “os graves erros” dos bispos que ocultaram as denúncias por décadas.

“Sentimos que a carta fica aquém [das expectativas] na hora de abordar as preocupações das vítimas”, disse Maeve Lewis, diretora-executiva da organização One in Four.

Lewis critica o papa por não reconhecer a responsabilidade do Vaticano nos casos de abusos sexuais contra crianças em instituições católicas na Irlanda e no resto do mundo e diz que ele errou ao não pedir a renúncia do primaz da Igreja Católica irlandesa, o cardeal Sean Brady.

Brady agradeceu mais cedo a “preocupação e amabilidade” do papa na carta, na qual diz compreender a escolha difícil a frente dos bispos que receberam, as denúncias de abuso sexual e não cita em nenhum momento punição a eles.

O próprio cardeal, na época padre, foi acusado de ocultar denúncias. Familiares das vítimas chegaram a exigir o seu afastamento desde que a igreja admitiu que ele havia participado de duas reuniões em 1975, em que duas supostas vítimas de abusos sexuais haviam prometido manter silêncio, a pedido das autoridades eclesiásticas.

“Não há nada nesta carta que sugira que qualquer nova visão de liderança na Igreja Católica exista”, diz Lewis, que critica o fato da carta focar demasiadamente nos sacerdotes do baixo clero e eximir o alto clero.

Seriedade

Outra vítima dos abusos sexuais, Andrew Madden, afirmou em nota que a carta “não aborda este assunto com total seriedade”.

“O contexto é, certamente, inadequado, já que, por definição, uma carta pastoral é dirigida apenas aos católicos praticantes e, portanto, faz caso omisso de muitas outras pessoas que se viram afetadas por esta questão”, explicou Madden. “Como prevíamos, a carta também não aborda nenhum dos assuntos que eu e outros grupos apresentamos no mês passado em nossa carta aberta ao papa”, acrescentou.

A carta das vítimas pedia claramente que o Vaticano reconhecesse sua culpa nos casos e que o papa aceitasse a renúncia de vários integrantes do alto clero irlandês, inclusive a do cardeal Brady.

“Uma carta pastoral não é a maneira de dar uma resposta aos relatórios de Ferns, Ryan e Murphy, que tratavam de violações, maus-tratos e abusos sexuais contra crianças cometidos por padres e religiosos neste país e que foram ocultados pelas autoridades da Igreja”, concluiu Madden.

A Igreja Católica da Irlanda foi criticada por ocultar, segundo relatório de uma investigação oficial publicado em novembro passado, os abusos sexuais cometidos por padres da região de Dublin envolvendo centenas de crianças durante várias décadas.

O documento, de mais de 700 páginas, fala sobre a atitude da hierarquia católica no arcebispado de Dublin entre os anos 1975 a 2004. Acusa, principalmente, quatro arcebispos por não terem denunciado à polícia que sabiam dos abusos sexuais, cometidos a partir dos anos 60.

Carta

Na carta, o papa expressa “muita desolação” e pede desculpas às vítimas, manifestando a vergonha e o remorso de toda a Igreja Católica ante o escândalo de pedofilia.

“Vocês sofreram gravemente e eu sinto muito, verdadeiramente”, disse Bento 16, em uma medida inédita que visa a recuperar a confiança da Igreja Católica. “É compreensível que vocês achem difícil perdoar e se reconciliar com a Igreja. No nome dela, eu abertamente expresso a vergonha e remorso que nós sentimos”.

Ele disse ainda que está disposto a se encontrar com as vítimas e conversar sobre o sofrimento que enfrentam e que a carta deve ajudar a curar as feridas e renovar a fé.

Bento 16, que não se referiu às denúncias em outros países da Europa e até mesmo no Brasil, anunciou a abertura de uma investigação em várias dioceses da Irlanda, em seminários e em congregações religiosas.

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