Com a alta quase que diário no valor dos combustíveis, a solução para o campo-grandense tem sido procurar alternativas, entre elas, a adesão ao gás GNV (Gás Natural Veicular) com objetivo de diminuir os gastos na hora de abastecer. Entre as empresas do setor, o reflexo é sentido no aumento da demanda e até escassez de matéria-prima em .

No bairro Santo Antônio, a proprietária da GNV Tech foi surpreendida com o aumento repentino da procura, gerando uma falta de suprimentos. “Aumentou bastante, mas está faltando ferro e tubo de alto (igual de combustível) desde a semana passada”, disse Dalila Duarte Bordignon, de 30 anos.

Conforme Bordignon, desde o aumento da gasolina, os serviços de conversão aumentaram em 10 vezes. Antes, a oficina realizava uma média de 10 a 15 trocas por mês, agora, são feitas até três substituições por dia.

Com disparada da gasolina, demanda por GNV sobe 80% e falta matéria-prima em Campo Grande
Mudança é feita em diversos veículos (Foto: de França)

No quesito economia, o custo médio do investimento sai a partir de R$ 4 mil, mas é recuperado com o tempo, devido a diferença de preço na gasolina. “Em um carro 1.6, a média é de 10 km por litro de gasolina, no GNV a autonomia é de 13 km por metro cúbico. Enquanto a gasolina está na média de R$ 5,50 o gás varia entre R$ 3,29 a R$ 3,49”, explica a proprietária.

Na vila Nova Bandeirantes, o gerente da Sertec Engenharia também sentiu o aumento no movimento, que comparado com o ano de 2020, já está 80% maior. “Foi a partir de fevereiro, na hora que começou a aumentar o preço da gasolina. No ano passado era um por semana, agora são quatro, aumentou pelo menos 80%”, explicou Raul Flores, de 26 anos.

Com essa busca repentina, a empresa percebe uma dificuldade em encontrar matéria-prima. Como é tudo importado do Rio de Janeiro e São Paulo, há algumas peças em falta. Começou a faltar na indústria, imagino pelo aumento do giro, a indústria não está dando conta” explicou ele.

Na oficina, o público predominante são os motoristas de aplicativo e proprietários de carros de maior consumo, como o veículo S10. “Em um carro 1.6 a diferença de rendimento fica na média de 3 quilômetros, entre 1 litro de gasolina e 1 metro cúbico de gás”, finalizou Raul.

Histórico de mercado

O proprietário da Sertec, fundada em 1984, no período de 2002 a 2005 houve uma escalada muito grande do GNV, semelhante ao atual momento, mas que acabou diminuindo por uma série de questões.

“Não há interesse público da MS Gás em democratizar o GNV, nenhum dos presidentes [da empresa] sentou para ver o que podia ser melhorado [no setor]. De 2005 para cá, a rede de postos com gás diminuiu de 12 para 7. Não ocorreu a interiorização do gás”, detalhou o engenhei mecânico Leonardo Limberger, de 39 anos.

Com a procura crescente por novas saídas, a empresa vive uma nova onda de prosperidade no setor. “Lei de mercado, aumentou o combustível e as pessoas procuram por alternativas mais econômicas.  O serviço sai a partir de R$4 mil, durante a linha histórica a economia do GNV nunca ficou abaixo de 60%”, finalizou Limberger.

O Jornal Midiamax entrou em contato com a assessoria de imprensa da MS Gás para posicionamento a respeito da reclamação de quem trabalha no setor, mas não houve retorno até a publicação. Posteriormente, a assessoria da empresa destacou, em nota, investimentos realizados. Confira-a na íntegra:

“A MSGÁS tem como política de investimento a ampliação da de distribuição do Gás Natural para os segmentos residencial, industrial e GNV. Nessa ampliação, a MSGÁS agregou 2 novos postos de GNV em Campo Grande (que estavam desativados) e está em negociações com proprietários de postos de combustível em Três Lagoas. Além disso, está desenvolvendo estudos para incentivar o mercado, com foco no consumidor. Esses estudos estarão concluídos ainda no primeiro semestre de 2021”, conclui a nota.

*Atualizada às 14h45 para acréscimo de posicionamento

ICMS nas alturas

Mato Grosso do Sul está entre os cinco estados com maior cobrança de ICMS sobre a gasolina. No País, a variação na cobrança é de até 74% e outras 20 unidades da federação conseguem manter o imposto em percentuais inferiores ao de MS.

Em algumas cidades do interior a gasolina já chega a R$ 5,69 o litro. Desse valor, por exemplo, R$ 1,70 é destinado aos cofres estaduais. Considerando-se o preço médio de R$ 4,90 apontado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) para Campo Grande, a cada litro abastecido na Capital, R$ 1,47 é destinado apenas para esse tributo.

A postura é corroborada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que colocou nos governadores a responsabilidade pelas altas nos combustíveis.

Para acabar com a disparidade na alíquota, o presidente enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei complementar para definir os combustíveis e lubrificantes sujeitos à incidência única do ICMS. Na prática, a medida altera a forma de cobrança e põe fim à autonomia de governadores para fazerem o aumento conforme entenderem.

Em MS, o percentual era de 25%, mas Reinaldo enviou projeto de lei elevando para 30%. Na época da aprovação, em 2019, o governador justificou que a intenção era incentivar o consumo de etanol. Na prática, consumidores que não tem opção de variar entre os dois combustíveis, por exemplo, apenas amargam o prejuízo.