Há pouco menos de dois anos, o que era discreto e pouco legível agora ganhou espaço com letras garrafais nos rótulos de alimentos industrializados. Itens que podem ser nocivos à saúde se consumidos em excesso agora têm determinação de serem destacados nas embalagens, tudo para promover consumo mais consciente.

Alto em gordura saturada, alto em açúcar ou alto em sódio são alguns dos destaques que, caso estejam contidos nas formulações, precisam ser destacados pelos fabricantes, desde outubro de 2022. E a medida trouxe resultados, já que há quem admite ter visto os próprios hábitos mudarem diante disso. 

A estudante Maria Eduarda Lopes, de 26 anos, conta que agora pensa várias vezes antes de levar alguns produtos para casa. “Eu já senti na pele isso. Já aconteceu comigo de ver que tinha tanto selo na embalagem, que desisti de comprar”, compartilha a jovem à reportagem.

É o que também percebe a tradutora Amanda Vital, de 30 anos. Para ela, os avisos nos rótulos “acabam gerando um constrangimento e isso pode levar o consumidor a repensar a compra e não fazê-la”. 

Ou seja, a medida é um benefício para a saúde. “Mas acho que só os rótulos não bastam. É preciso mais informação dos alimentos que podem causar prejuízos à saúde e também daqueles que ajudam no equilíbrio alimentar. Além disso, acho que mais necessário do que os rótulos nos ‘maus’ alimentos, é baratear o preço dos considerados ‘mais saudáveis’”, considera a tradutora.

Não funciona para todos

Por outro lado, para o marqueteiro João Lélis, 30 anos, a medida não altera seus hábitos. “Se você pegar uma pessoa como eu, que não se alimenta de uma forma correta e muito saudável, isso vai fazer zero diferença. Mas, para uma pessoa que tem nível de consciência maior ou que cuida mais da sua alimentação, pode fazer diferença. Então, acho que vai depender muito de quem tá comprando”, afirma o jovem.

Consequências de consumir muito esses ingredientes

Nutricionista Juliana Mendonça. (Arquivo pessoal)

A nutricionista Juliana Mendonça, especialista em emagrecimento e nutrição esportiva, detalha sobre a obrigatoriedade desses rótulos especiais quando os alimentos são ricos em açúcar, gordura ou sódio.

“Ter esses rótulos na frente, na parte da frente, serve justamente para orientar os consumidores do perigo do consumo excessivo desses alimentos”, antecipa.

Mas, o que o alto consumo desses alimentos pode ocasionar na nossa saúde? “As gorduras saturadas são, principalmente, gorduras de origem animal. O consumo excessivo de alimentos com alto teor de gordura saturada leva ao aumento de doenças cardiovasculares, que podem culminar em infarto e derrame”, detalha a nutricionista. 

“As doenças cardiovasculares são as que mais crescem anualmente no nosso país em números de mortalidade”, completa.

Assim, consumir muito sódio, que é sal, também aumenta as chances de desenvolver problemas cardiovasculares, além de provocar o aumento da pressão arterial, podendo comprometer o funcionamento dos rins e até mesmo causando problemas mais graves como AVC (Acidente Vascular Cerebral).

“Já um alimento com alto teor de açúcar aumenta a predisposição a várias outras doenças, entre elas, diabetes e obesidade. Tanto obesidade infantil, na adolescência ou na fase adulta”, esclarece a especialista.

Como escolher bem

Conforme a nutricionista, alimentos industrializados ultraprocessados – aqueles que não conseguimos distinguir os ingredientes originais – devem ser sempre evitados.

“Quanto menos alimentos industrializados a gente consumir, melhor é. Mas, quando comprar, devemos sempre observar se tem esse aviso. Se tiver esse selo, que agora é obrigatório, melhor evitar”, orienta a profissional. 

Além disso, outra orientação importante é olhar bem o rótulo que existe na parte traseira do produto, assim como a tabela nutricional – no caso dos ingredientes, é preciso prestar atenção à ordem dos itens: o que tem em maior quantidade naquele produto é o que aparece primeiro na lista de ingredientes. 

Outra dica é procurar produtos com poucos itens listados no rótulo. Quanto maior a lista, mais ingredientes e, possivelmente, mais ingredientes sintéticos foram adicionados ao alimento. 

Por fim, vale a pena considerar que nem todo produto industrializado é igual. Nos exemplos abaixo, é possível observar a comparação entre latas de milho e também entre sachês de molho de tomate. A quantidade de sódio entre os produtos é bastante diferente.

Enquanto molho de tomate da esquerda tem 14 ingredientes e mais de 500g de sódio, produto da direita tem 7 ingredientes e 185g de sódio.

Comparação entre rótulos de molhos de tomate. (Montagem, Midiamax)

No caso do milho enlatado, também é possível observar diferença entre produtos. No caso do produto da esquerda, a quantidade de sódio é de 447mg, já que se trata de milho em conserva. Por outro lado, o milho enlatado da direita não tem adição de sódio por se tratar de um produto cozido no vapor.

Comparação entre rótulos de milho enlatado. (Montagem, Midiamax)