Com novas lojas e volta de antigas, avenida que corta Santa Luzia e Nasser atrai campo-grandenses
Avenida São Nicolau abrange dois bairros e conta com mais de 160 empresas
Thalya Godoy –
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Poucos metros da Avenida São Nicolau, que corta Vila Santa Luzia e Vila Nasser, reúnem uma variedade de comércios. Na mesma quadra é possível encontrar uma tabacaria, lanchonete, loja de utilidades, casa de material de construção, farmácia, salão de beleza e loja de roupas.
De acordo com os moradores e lojistas, o boom no comércio aconteceu há poucos anos, mas foi freado com a chegada da pandemia em 2020. Desde lá, a área comercial tem se restabelecido com a abertura de novos locais ou volta de lojas antigas.
Porém, ainda existem os estabelecimentos em que os comerciantes e clientes se conhecem há vários anos e trocam informações do dia a dia enquanto fecham as vendas ou escolhem os produtos.
Márcia Araújo de Souza, dos 48 anos de vida, mora há 40 somente na região. Ela observou a Vila Santa Luzia crescer, ganhar asfalto, as casas e as lojas que compõem o atual cenário do bairro. “Aqui era um buraco, vi tudo chegar”, relembra.
Há três anos decidiu empreender pela primeira vez e abriu a loja de moda feminina “Lamar Modas”, na Avenida São Nicolau. Ela diz que não é fácil comandar o espaço pela falta de experiência, mas que gosta do ponto que conquistou.
O sonho era abrir uma loja de preço único, o que não foi possível até o momento, mas tenta fazer um preço “camarada” por ser comércio de bairro e ser atrativa para os moradores. As peças, que incluem roupas, chinelos e cintos, por exemplo, custam a partir de R$ 20 e chegam a até R$ 90.
“Eu vou atrás e não deixo de vender por causa de falta de troco, por exemplo. A gente vai até o comércio do lado e dá um jeito”, assegura a empreendedora.
Enquanto concede a entrevista no caixa da loja, Márcia mantém uma conversa descontraída com Daniele da Silva Matos, de 32 anos, que acompanha a mãe nas compras e que também participa do papo enquanto está no provador. A loja é pequena e se enche das risadas das três mulheres que vão comentando o que acham do bairro.
Danielle é vendedora e avalia que o comércio local ganha da região central pelo preço mais atrativo, mas sobretudo, pelo atendimento. A mulher critica que muitos lojistas são mal educados e não “olham nem na cara”, o que desanima a voltar.
“Não tem necessidade de ir até o centro, tem tudo por aqui. O pessoal no centro atende muito mal e querendo ou não eles dependem da gente, né? Por isso que a maioria não vai para frente. O tratamento no bairro é bem melhor. Não tenho vontade de ir para lá”, garante a cliente.
Márcia e Daniele acreditam e torcem que em poucos anos a avenida se torne mais comercial do que residencial, como em outras regiões da cidade. O bairro era cheio de lojas antes da pandemia, mas a chegada do vírus derrubou as vendas e forçou alguns locais a encerrarem as atividades.
“Poderia ser como nas Moreninhas em que tem banco, casas lotéricas, tem até bombeiros, tem tudo por lá”, deseja a mulher mais jovem.
Apesar do sonho ambicioso, a concentração do comércio da avenida no Santa Luzia é maior em quatro quadras, entre as ruas Santa Rosa e Santa Madalena. As demais lojas são distribuídas ao longo da avenida e dividem espaço com muitas residências.
A Avenida São Nicolau mede cerca de 2 km e abrange os bairros Santa Luzia e Vila Nasser.
Danielle diz que pretende abrir o próprio negócio de venda de roupas, primeiramente, de forma online, e depois sonha com o espaço físico na Avenida São Nicolau por acreditar que seja um bom ponto.
O único lado negativo do bairro, apontam as três mulheres, é a falta de Casa Lotérica ou de Caixa Eletrônico para pagar contas ou sacar dinheiro. Quem não tem um veículo precisa andar cerca de 30 minutos, sob o risco de chegar lá e a máquina estar sem dinheiro.
Potencial para crescer
Gerson Castro, de 60 anos, que trabalha como representante comercial, conta que há sete anos não vai ao centro de Campo Grande fazer compras. Resolve tudo na região em que mora há dez anos.
Como viaja muito por Mato Grosso do Sul, ele avalia que essa tendência de descentralização do comércio não é exclusiva de Campo Grande e compara o valor do aluguel na região central com as mais afastadas.
“O aluguel no centro é um absurdo. Para a população é a melhor coisa que tem. Você ter que sair daqui e ir até a Rua 14 de Julho comprar algo? Se você for nas Moreninhas, na [Avenida dos] Cafezais, você tem um monte de comércio bom”, elogia o homem.
Ele relembra que o comércio da Avenida São Nicolau era menor em cinco anos e foi apontando para os pontos que se tornaram lojas nos últimos tempos.
Segundo o site Procep, a via conta com 162 empresas cadastradas de diferentes ramos como beleza, farmácia, escritório de advogado, elétrica, transporte, manutenção, marketing, igrejas, moda, automotivo, restaurantes, etc.
“O pessoal foi construindo o comércio, ali não tinha nada, por exemplo. Acho que na pandemia as pessoas resolveram fazer um salãozinho no lado ou na frente para trabalhar e ficar perto de casa e não precisar andar. Como a lei era ‘fique em casa’, então já ficava em casa e trabalhava”, avalia.
O proprietário da casa de material de construção Paraíba, Ivan Joaquim, de 40 anos, apostou em abrir o estabelecimento na avenida há dois anos, mesmo em meio à pandemia e deu certo.
“Eu decidi abrir aqui porque era avenida e não tinha uma casa de material de construção, as pessoas tinham que ir para outro bairro. Não tive medo de apostar no ramo porque as pessoas ficavam em casa e queriam fazer reforma ou construir”, relembra.
O empreendedor conta que o diferencial do bairro é a comodidade de comprar perto de casa e fugir do transtorno que é o trânsito até a região do centro. “As pessoas querem bom preço, serem bem atendidos e em muitos lugares falta isso”, avalia.
A aposta de Ivan na Avenida São Joaquim deu tão certo que pretende futuramente investir em mais um negócio na mesma região. Desta vez, uma galeria de lojas, algo que a avenida ainda não tem.
Segunda chance para quem sonha em empreender
A Avenida São Nicolau é local para quem empreende pela primeira vez, como a Márcia que abriu esta reportagem, assim como o espaço da Dora Meirelles, de 35 anos, que retornou para o ramo alimentício depois de tentar outros negócios. Nascida no Paraguai, mudou-se para o Brasil em 2003 e há cerca de dez anos atua como salgadeira.
Trabalhou por muitos anos com uma lanchonete na Avenida Presidente Vargas, mas decidiu vender tudo para mudar-se para Portugal. Comprou as passagens para embarcar em 19 de março de 2020, mas dias antes as fronteiras foram fechadas com o início da pandemia de Covid-19. A viagem e o sonho de mudar de país terminaram ali.
Decidida, optou por não voltar ao ramo alimentício e tentou investir em sacolão, o que não deu certo. Tempos depois, a vontade de continuar empreendendo a levou a tentar trabalhar com compra e venda de roupas, o que novamente deu errado.
Depois de duas tentativas decidiu voltar para a lanchonete, mas desta vez abriu o “Paraíso dos Salgados” na Avenida São Nicolau. Dora acredita e repete várias vezes com um sorriso no rosto ao longo da entrevista que foi “um presente de Deus” o ponto ali, que é sucesso de vendas.
O local abre às 6h, mas desde às 5h40 os clientes formam filas para tomar o café da manhã. Os salgados são o carro-chefe com preço inicial de R$ 1,50 e variam de fritos a assados, como empadas, pastéis, minipizza, enroladinhos e sopa paraguaia.
Entre as encomendas de cento de salgados e as vendas da loja, o Paraíso dos Salgados comercializa mais de mil salgados por dia. “Foi Deus que me deu de novo, mesmo durante a pandemia as nossas vendas foram muito boas”, elogia Dora sobre o bom movimento.
Comércio em Campo Grande
De acordo com a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Campo Grande, nos últimos quatro anos o comércio dos bairros teve crescimento de 40%. Além da reforma do centro e a pandemia, fatores como preço de aluguéis, de estacionamentos e de transporte contribuíram para a mudança.
A última edição do Boletim Econômico de Campo Grande, elaborado pela Sidagro (Secretaria Municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio), em dezembro do ano passado, mostra o comércio como o campeão na geração de vagas da Capital.
O setor, em novembro, ficou com a fatia de 679 de 1.026 novos postos de trabalho, ou seja, 66,17% do total.
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