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Cotidiano

Com ao menos 60 mil diabéticos, Campo Grande vive desafios no tratamento da doença

Conforme especialista, para tratar diabetes, o acesso a outros profissionais de saúde deveria ser mais facilitado, como nutricionistas e educadores físicos
Liana Feitosa -
Controle do diabetes não passa apenas pelo uso de remédios. (Foto: Reprodução Anvisa)

“Precisei mudar algumas coisas, mas vivo bem. Dá pra viver bem”, compartilha a dona de casa Sônia de Souza, de 64 anos. Ela foi diagnosticada com diabetes há 5 anos e é uma das cerca de 60 mil pessoas que convivem com a doença, em , sendo acompanhadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na cidade, nas unidades da Atenção Primária à Saúde. 

Esse atendimento dá aos pacientes acesso a consultas médicas, exames laboratoriais, medicamentos, insumos para automonitoramento glicêmico, além de atividades educativas e coletivas voltadas à prevenção e ao controle das complicações da doença. 

Apesar do acesso a essas medidas, os desafios para esses pacientes são inúmeros, entre eles, a busca por ajuda, muitas vezes, quando o cenário já está complicado.

A médica Nayara Lobo, que atua na Atenção Primária à Saúde em Campo Grande, explica que muitas pessoas só buscam auxílio nas unidades de saúde para o atendimento de demanda espontânea, que são as consultas emergenciais nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).

Nada de só ‘apagar incêndio’

Mesmo esses atendimentos sendo fundamentais, eles não satisfazem a necessidade da população de receber acompanhamento médico regular.

Atualmente, as estratégias mais utilizadas na saúde pública focam mais na doença, em uma resolução imediata do que é imposto por ela, do que em um cuidado mais global e que considera o paciente como um todo, em vários aspectos.

Na medicina proposta pelo SUS, esse cuidado que prevê acompanhamento do paciente é chamado de modelo de vigilância em saúde. “Infelizmente, nossa medicina [na atenção primária à saúde] ainda está muito focada na doença, focada em resolver a doença depois que ela se instala”, pontua a médica Nayara Lobo, que atua na Atenção Primária à Saúde em Campo Grande. 

No caso do diabetes, por exemplo, esse cuidado global dos pacientes é o melhor caminho em prol da saúde dessa população. 

Qual o grupo vulnerável para o diabetes?

A médica explica que o diabetes é uma doença prevenível, sendo possível identificar com antecedência os fatores de risco para o surgimento dela. 

Pessoas que possuem renda mais baixa, que estão em condições de vulnerabilidade social e socioeconômica, têm maior risco para a doença. Apesar disso, sem pertencer a esses grupos, mas ter alguns hábitos alimentares específicos, pode determinar o aparecimento da doença. 

alimentos
Alimentos naturais são melhores opções para evitar diabetes. (Foto: Reprodução, Freepik)

Foi o caso de Sônia. Após muitos anos consumindo, regularmente, principalmente carboidratos e alimentos com alto índice glicêmico, sede excessiva e muito cansaço foram os primeiros sintomas que chamaram atenção. E logo veio a confirmação. 

O tipo de alimentação introduzido na rotina do bebê e até os hábitos alimentares na vida adulta interferem na prevenção do diabetes.

“A doença não começa com o paciente que está com o exame um pouquinho alterado. Por isso que é tão importante ver, por meio da avaliação da equipe multiprofissional, como estão esses pacientes. E as unidades de saúde estão aptas para isso”, explica a médica.

“Além disso, a gente tem que falar sobre vulnerabilidade social em nossos territórios”, completa. 

Ela explica que a população em geral come mal, consumindo muitos produtos superindustrializados — com muito açúcar, como refrigerantes e bolachas —, porque a renda, no geral, é baixa. Inclusive, a indústria precisa avisar em suas embalagens sobre esses ingredientes nocivos à saúde

“Então, se a população não tem o dinheiro para comprar os melhores alimentos, como que ela vai se alimentar bem?”, questiona a médica. “O tema envolve muitas outras questões, questões de determinantes sociais de saúde, de aspectos que influenciam diretamente na saúde, e que a gente não enxerga, muitas vezes”, completa.

Por isso é tão importante pensar nas pessoas de um ponto de vista mais geral, e não só como alguém com uma doença.

Quando a gente enxerga o paciente como uma pessoa que está inserida dentro dos seus contextos, e não só como um paciente que é vítima de uma doença, você consegue enxergar de onde que vem aquilo. É um desafio grande, mesmo, porque é uma mudança de visão por completo”, analisa a médica.

“A nossa medicina, nossa saúde, é muito ‘hospitalocêntrica’, muito ‘curativista’, muito centrada no médico, e não nos outros profissionais de saúde. Então, se a gente rompe com essa visão, que é uma visão estabelecida por anos na nossa sociedade, a gente consegue dar um melhor cuidado para o paciente”, esclarece Nayara.

O desafio dos medicamentos

Medicamentos ajudam no tratamento. (Foto: Ilustrativa, Arquivo Midiamax)

Associados a esses desafios, existem outros relacionados ao tratamento e à prevenção do diabetes em si, como a limitação no acesso a medicamentos.

Apesar de o Governo Federal recentemente ter aumentado a disponibilidade de medicamentos pelo programa Farmácia Popular, falta acesso a medicamentos de ponta pelo SUS.

“A gente observa que, pelo menos na atenção primária de saúde, não temos tanto acesso aos medicamentos mais efetivos, ou seja, medicamentos que estão sendo estudados recentemente e podem ser inseridos na rotina desse paciente”, pontua a médica.

“Recentemente, foi inserido um medicamento chamado dapagliflozina no programa da Popular, que é um medicamento muito bom para diabetes, mas ele é um medicamento que está limitado a uma faixa etária”, exemplifica a profissional. 

O sistema público também só oferece dois tipos de insulina, e os pacientes não têm acesso às fitas usadas para medir o nível glicêmico, que afere o diabetes. Tudo isso interfere no tratamento dessa população. 

O desafio do acompanhamento multiprofissional

A médica reforça que o tratamento do diabetes não se resume ao uso de medicamentos, mas precisa de tratamento que envolve uma equipe multiprofissional. 

“O tratamento também envolve uma alimentação adequada, atividade física regular, uso adequado das medicações, o controle, o retorno, o que não vai ser necessariamente só com atendimento médico”, pontua.

E tudo isso esbarra, claro, no ritmo de vida da população.

Como o CLT vai fazer acompanhamento médico?

Enquanto as orientações médicas são para que os pacientes diabéticos tenham alimentação equilibrada, pratiquem atividades físicas e façam uso adequado dos medicamentos, como fica essa rotina disciplinada, com acompanhamento médico e nutricional, na vida de quem trabalha 6 dias por semana, ao menos 8 horas por dia?

“Como considerar uma população jovem adulta que trabalha em horário CLT (horário comercial), né? Se as unidades de saúde não têm um horário adequado para receber essa população, vai ser difícil ela faltar um turno de trabalho para isso”, avalia a médica.

“No mundo que a gente vive, o trabalhador que não vai para o dia de trabalho têm esse dia descontado do salário dele. O chefe não tem essa paciência. Estamos falando de uma população economicamente ativa”, completa.

Segundo a médica, também tem paciente que não entende a doença que tem. “Isso é uma grande dificuldade porque a gente quer que o paciente entenda a doença dele para que ele não tenha resistência ao tratamento”, afirma a médica.

E como entender a doença? Insistindo no acompanhamento médico. “Não é em uma consulta que você vai resolver tudo. Muitas vezes, a gente percebe que, na primeira consulta, o paciente não captou a mensagem, e daí você tem que ter os retornos, tem que ter uma agenda para esses retornos, para você acompanhar esse paciente”, detalha a médica.

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