As denúncias sobre a circulação de tritrens abarrotados de eucalipto na Estrada-Parque Piraputanga, que mudaram todo o rumo da elaboração do plano de manejo da região, serão novamente discutidas em uma oficina participativa nos distritos de Camisão, Piraputanga e Palmeiras, sendo esta a comunidade presente ao redor da APA (Área de Proteção Ambiental). Desta vez, de acordo com ambientalistas, a intenção é tentar impor regras a Suzano, empresa que usa trecho de 11 km diariamente e assim mitigar impactos ambientais.

Antes da presença dos caminhões, o plano de manejo já estava sendo elaborado por empresa contratada pelo Governo do Estado. No entanto, a presença dos caminhões “chegou de surpresa” e um segundo plano está em andamento, com previsão de estar pronto em junho deste ano. Entre as ações, está a reunião com a comunidade presente ao redor da MS-450.

“É algo que faz parte do planejamento, da elaboração do plano. Antes, já houve uma reunião em cada comunidade e a ideia é essa mesmo, fazer em cada distrito, fazer a oficina de planejamento, para ver as potencialidades e constar tudo isso no plano de manejo. Será, provavelmente, a última reunião com os moradores da região”, explicou ambientalista ao Jornal Midiamax.

Com as informações e pesquisas, ocorrerá então a apresentação para o zoneamento. “Este zoneamento ambiental é sempre ouvindo a comunidade, óbvio, eles que decidem, em relação às zonas de preservação, de uso sustentável, são as zonas ambientais e o regramento do que pode e não pode em cada zona. Acredito que será uma reunião bastante longa, porque é a construção do encarte 3 do plano, que é o planejamento, onde vai ter o zoneamento, os programas e as ações que vão ser necessárias para o cumprimento dos programas”, argumentou.

Impacto das carretas estará no Plano de Manejo, diz ambientalista

Estrada-Parque (divulgação)

Já no último dia, qualificado como “o mais tenso”, a intenção é ressaltar o impacto dos veículos pesados que fazem o transporte de eucalipto na estrada turística. “Será o momento de ouvir a comunidade e consolidar o plano. Sabemos que existe o impacto e nossa intenção é dimensionar isto, este aspecto qualitativo do impacto, na biodiversidade, no turismo, na segurança dos transeuntes, do pedestre, do ciclista, dos motoristas e dos próprios frequentadores da Estrada-Parque”, explicou.

No caso dos especialistas, ouvidos pelo Jornal Midiamax, o que a empresa deve alegar é que está calçada de todas as autorizações. “A gente sabe que é legal, é legal, porém, é imoral e um absurdo mesmo o que está acontecendo na região. O que a gente teme é que os moradores terão que conviver com isso mesmo, já que até os deputados interferindo não está dando de pararem e a gente também vê omissão do Imasul [Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul] e [Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos], neste sentido”, lamentou ambientalista.

Neste sentido, uma das ideias é propor a redução da circulação dos tritrens, estabelecendo horário fixo, além de excluir a circulação aos finais de semana e em horários esporádicos, por exemplo. “Isso tudo se realmente for continuar pelos próximos três anos, então, vamos tentar minimizar esse dano. E também uma ciclovia, apoio na implantação de um balneário, enfim, buscar uma compensação mais interessante para a comunidade, a APA”, finalizou ambientalista.

Estrada-Parque Piraputanga foi escolha para ‘economizar tempo'

Denúncia recente, publicada pelo Jornal Midiamax, detalha que o tráfego de 20 tritrens abarrotados de eucalipto, todos os dias na MS-450, poderia ser evitado. Ao menos é o que alegam ambientalistas que acompanham a situação que gerou até racha no Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Estrada-Parque Piraputanga.

Segundo os ambientalistas, trecho de 11 quilômetros da estrada, construída para uso contemplativo da natureza, está sendo ocupado pelos tritrens, carretas gigantes com três vagões ou semirreboques, por um período de no mínimo três anos. Cada carreta gigante tem capacidade para transportar até 74 toneladas de carga bruta.

“A onde fazem a retirada [de eucalipto] é a Lageado, que começa ali na Cipolândia, em Aquidauana e vai até . Pega toda a extensão da Serra de , então, lá possui uma saída por e outra por Dois Irmãos do Buriti. Aliás, antes até do local ser vendido para Suzano, escoavam pela Ponte do Grego e era para ser assim. Mas, depois bateram o pé e aos 45 do segundo tempo passaram a escoar pela Estrada-Parque porque a outra não tinha asfalto. O que eles querem é economizar tempo”, argumenta um ambientalista ouvido pela reportagem e que vive nas proximidades.

O assunto veio à tona por meio da denúncia do SOS Pantanal, que deixou a cadeira no Conselho recentemente e demonstrou diversas preocupações com o aumento de tráfego de caminhões na região, porém, não houve mudanças significativas no processo de autorização da unidade de conservação.

Plano de manejo estava pronto quando empresa iniciou escoamento

(Reprodução e Edemir Rodrigues/Governo de MS)

Outro ambientalista ouvido pela reportagem, com extenso currículo e que inclusive já foi contratado para fazer um plano de manejo na região, disse que o diagnóstico já estava pronto quando a Suzano começou as atividades. “Pegou a gente de surpresa e aí mudamos toda a abordagem, o diagnóstico e as tratativas que estávamos fazendo, neste nosso planejamento. E a situação lá está ruim mesmo. Usam estes 12 km para chegar na planta, lá em Ribas [do Rio Pardo]. E inclusive disseram que iam comunicar a comunidade”, explicou o profissional, que é biólogo.

Conforme o profissional, são ao todo três distritos afetados diretamente, com impacto no turismo e biodiversidade: Palmeiras, Piraputanga e Camisão. “A empresa, nessas reuniões do Conselho, sempre estava com todas as autorizações possíveis, o que envolvia os órgãos ambientais também, então, enfim, a gente entende que é um problema sério, que vai durar três anos pelo menos e que vai ser ruim. Em grupos de WhatsApp, por exemplo, está todo mundo reclamando, de lixo, de sujeira, de atropelamentos e do fim do sossego”, opinou.

‘Vai induzir comportamento ruim de motoristas'

Outra questão, ainda de acordo com o ambientalista, é o estímulo ao mau comportamento de motoristas. “Ninguém vai querer ficar atrás de um comboio. Eu penso, sinceramente, que ainda não aconteceram grandes tragédias, mas, precisa ver a entrada da Estrada-Parque ali na BR, a fila de caminhões que fica para poder cruzar a pista e entrar, é terrível. Eu qualifico tudo isso como uma grande ameaça externa e interna”, ponderou.

Segundo o ambientalista, o plano de manejo trará um diagnóstico socioambiental, com o zoneamento ambiental, o qual aponta o que pode e não pode em determinados locais, onde é área de preservação, onde pode ser área de produção, já que cada zona ambiental tem uma regra e é isso que o plano traz. “Vai apontar o impacto dessa magnitude sim, mas, quais as consequências, só no médio prazo mesmo”, argumentou.

Transporte de carvão e carros em alta velocidade na Estrada-Parque

Uma outra denúncia, encaminhada ao Jornal Midiamax, fala sobre o transporte de carvão e carros em alta velocidade, como um agravante que vinha ocorrendo na região.

“São todos estes impactos que a gente está observando, tanto na biodiversidade quanto na segurança da população, mas, tem outros, que é tirar a área excessiva de desmatamento, de florestas, em prol de fazer pequenos loteamentos, tem área de nascente que está fora dos limites do plano e é muito castigada em termos de ocupação. Por exemplo, não está cercadinha no entorno, do jeito que a gente queria que estivesse e o plano traz também nova perspectiva de como agir nessas áreas, recomendar programas de recuperação de área degradada, programa de recuperação de solo, programa de qualidade de água, tudo isto neste universo de cinco anos de planejamento”, afirmou.

Veja na íntegra o posicionamento da Suzano:

“A empresa tem como política manter diálogo ativo e transparente com comunidades, lideranças locais e órgãos públicos sempre previamente ao início de suas operações, a fim de assegurar o pleno alinhamento entre suas atividades e as características socioambientais das regiões onde atua. Esse diálogo, acompanhado da realização de estudos operacionais prévios, também ocorreu no processo relacionado à utilização da MS-450 para o transporte de madeira seguro e sustentável ao longo de um trecho de 11 quilômetros da MS-450.

Como consequência dessa escuta ativa e proativa com atores locais, foram adotadas uma série de ações adicionais àquelas já praticadas regularmente pela empresa, para o controle e adequação da nossa operação às peculiaridades da localidade: melhorias na sinalização de e criação de bolsões para facilitar ultrapassagens; gestão ativa da frota para assegurar a circulação segura e eficiente dos veículos nos horários informados à comunidade; rotogramas falados diretamente na cabine dos motoristas com alertas de limites de velocidades, presença de ciclistas e de fauna; além de treinamentos abrangentes focados em respeito à fauna, ciclistas e práticas ambientais responsáveis. Tais ações são proporcionais ao volume das operações previstas e compatíveis com a realidade socioambiental da região.

Acrescente-se, ainda, que a operação na MS-450 foi submetida a todas as autorizações legais junto às autoridades locais.

Importante ressaltar também que a operação na MS-450, rodovia comumente utilizada por outras empresas de Mato Grosso do Sul para o transporte de cargas, consiste em um número limitado de 20 viagens diárias de tritens, restritas em horários escolares e com redução considerável da frota aos finais de semana, formato adotado também como resultado do diálogo com a comunidade local.

A empresa também colocou à disposição da comunidade seu canal de Ouvidoria – 0800 771 4060 – para que possa receber sugestões, críticas ou denúncias visando aperfeiçoar sua operação na região.”